Desde a chegada do ChatGPT, há um ano, é inquestionável que os avanços da inteligência artificial (IA) estão impactando empresas e público de forma cada vez mais ampla. Debates e discussões acerca dos recursos e desafios propostos por essa tecnologia nos alertam também para a capacidade de IAs generativas redesenhar o futuro não só dos negócios, mas a maneira como a IA formará uma nova geração de colaboradores.
Vejamos as conhecidas Geração Z e Alpha, que já atingiram 40% da população mundial. A Z, que representará 27% da força de trabalho até 2025, já domina todas as ferramentas básicas da era digital e está cada vez mais interessada no potencial da IA.
A geração Alpha, por sua vez, está crescendo com a IA no seu dia e seguirá tendo esse contato de forma ainda mais natural. Ambas as gerações certamente se interessam pelas vantagens e aplicações da IA para além do consumo e, mais cedo ou mais tarde, perceberão essa tecnologia como protagonista no seu dia a dia de trabalho.
Um novo estudo conduzido pela Boston Consulting Group, já corrobora esse impacto da IA na produtividade dos colaboradores de empresas. Funcionários pesquisados que usaram o ChatGPT, por exemplo, completaram 18 tarefas de trabalho diferentes e tiveram um desempenho significativamente melhor do que os seus pares que não usaram o ChatGPT.
As principais conclusões do estudo revelam que o número de tarefas de trabalho concluídas por aqueles que utilizam IA foi 12,2% maior e 25,1% mais rápido. Outro dado impactante: colaboradores que usaram IA produziram resultados de qualidade 40% maior do que aqueles que não a utilizaram.
Gap entre gerações
Mesmo com as vantagens da IA para o trabalho, existe um abismo geracional que impacta esse cenário. Diversas análises também apontam que os indivíduos de gerações anteriores estão menos entusiasmadas com a IA e mais relutantes em implementar a IA generativa nos seus processos de trabalho.
Embora haja uma preocupação de alguns grupos de trabalhos serem substituídos pela IA, ao que tudo indica parece também justificável que nos próximos anos mais e mais empregos sejam preenchidos por jovens colaboradores que utilizam a IA para aumentar a sua produtividade.
Por exemplo, um relatório do Linkedin, publicado em agosto deste ano, já apontava que em novembro de 2022, os anúncios de emprego que mencionavam o ChatGPT aumentaram 21 vezes. Outro dado do estudo mencionava que a taxa de perfis de colaboradores que já fazem referência aos recursos de IA e ChatGPT em seus cargos aumentava 75% a cada mês.
Os talentos estão mudando
Todo esse movimento da IA no dia a dia dos colaboradores nos dá uma clara indicação de que a Geração Z será moldada cada vez mais pela IA dentro das empresas. Nesse caminho, as empresas que investem em IA para seus processos de negócios também devem redesenhar as suas estratégias para retenção de novos talentos. Levando em conta que a Geração Z – e outras novas gerações – tem características únicas que vão além de valores e comportamento – possuem objetivos de carreira distintos e se interessam por modelos de trabalho flexíveis etc -, isso leva as empresas a irem além de fatores tradicionais, como o salário, para garantir o engajamento dessa força de trabalho. E isso requer a introdução de programas de treinamento e liderança mais atuais.
Nesse ponto, vale mencionar a pesquisa, CEO Outlook Pulse, da consultoria EY, que apontou este ano que 68% dos CEOs concordam que a incerteza que cerca a Inteligência Artificial (IA) generativa transforma a sua adoção em um grande desafio. Por outro lado, a mesma pesquisa revela que 99% dos CEOs afirmaram que planejam investir em IA generativa. Dicotômico, mas compreensível.
Metacognição e pensamento crítico: o novo conjunto de habilidades
Neste cenário em evolução e alerta constantes das empresas sobre o potencial da IA, especialistas apontam dois conceitos específicos sobre qualidades para uma nova força de trabalho: metacognição (capacidade do ser humano de monitorar e autorregular os processos cognitivos) e pensamento crítico. Ou seja, para essa nova geração de colaboradores (porque não de líderes também) a era da IA para o trabalho se trata de indivíduos carregarem consigo qualidades essenciais para uma utilização responsável da IA.
Uma compreensão maior de como a IA toma decisões, como interpretá-las e como avaliar seus resultados e a sua fiabilidade, capacitarão colaboradores a questionar suposições, detectar preconceitos e analisar cuidadosamente os dados e conclusões gerados pela IA. Qualidades fundamentais para o futuro do trabalho com IAs.
Tais competências, quando trabalhadas em conjunto, proporcionam uma base sólida para que o colaborador então navegue pelas complexidades da IA permitindo a sua utilização eficaz e a mitigação de potenciais riscos e preocupações éticas para as empresas.
Geração Z precisa transformar os desafios de IA em oportunidades
Essas qualidades mencionadas anteriormente também se transformam em um dos desafios para a nova geração. Certamente a incorporação da IA na vida da Geração Z poderá ser salientada também pela fadiga digital. Horas e horas depositadas em telas durante o trabalho se confunde com horas de vida social e demandas pessoais também em telas – some a isso, as preocupações relacionadas com a privacidade online. No entanto, a capacidade de adaptação e a resiliência digital é que permitirá que a Gen Z transforme estes desafios em oportunidades. Quais? Arrisque seu palpite.
Por hora, o que podemos afirmar, é que a Geração Z não só vive a era da IA como tem a oportunidade de remodelá-la. Trata-se de uma experiência muito mais ampla com essa tecnologia, que se confunde com vida pessoal e trabalho. Para as empresas e líderes, compreender como essa relação da Gen Z – e de outras que virão – está moldando uma nova força de trabalho com o uso da IA é obter um conhecimento muito maior de como o seu negócio se molda ao futuro que se aproxima.