A inteligência artificial (IA) tem mudado muitos aspectos do trabalho com seu potencial de automatizar certas tarefas repetitivas e até mesmo algumas funções mais complexas em alguns setores. Nesse cenário, surge o questionamento se ela pode, em algum momento, substituir a ação humana no mercado de trabalho. Fato é que, com seu potencial, a IA pode impactar certos empregos, mas também criar oportunidades para novos tipos de trabalho.
Em vez de substituir completamente os humanos, a IA muitas vezes se integra ao trabalho humano, ajudando a melhorar a eficiência, a precisão e a criatividade. Ela pode lidar com partes específicas do trabalho, permitindo que os humanos se concentrem em tarefas que exigem habilidades mais sociais, emocionais, criativas e de tomada de decisão, áreas em que a IA ainda tem limitações.
No entanto, é importante considerar que nem todos os trabalhos são facilmente substituíveis pela IA. Há muitas funções que desativam a empatia, a compreensão emocional, a intuição, a criatividade e as habilidades sociais que as máquinas ainda não replicam com perfeição. Portanto, embora a IA possa transformar o cenário de trabalho, a perspectiva mais provável é a de uma colaboração entre humanos e máquinas, onde cada um contribui com suas habilidades únicas para melhorar a produtividade e a inovação em diferentes campos.
Segundo explica Eduardo Santos, head de Labs no Cappra Institute, a IA pode ser usada em três grandes pilares: performance, inovação e automação. Ele pontua que, atualmente, as empresas estão focadas na performance, e não tanto na automação e inovação de processos. O especialista reforça que, ao falar de performance, existe um limite máximo.
No caso da automação, seria a substituição do trabalho de pessoas por máquinas. Porém, não seria o caso de eliminar totalmente a ação humana, e sim fazer com que ela ande ao lado da inteligência artificial. Um trabalho que teria uma menor entrega pode ter os resultados aumentados quando aliado ao toque humano, com a tecnologia da IA.
“Eu estou automatizando um pedaço do trabalho humano, mas não significa que a pessoa que necessariamente vai perder o emprego. Pelo contrário, ela vai ter tempo para fazer outras coisas que também precisa fazer. Esse é o caso da automação. Em empresas, por exemplo, poderemos falar sobre o cálculo de DRE do financeiro. Um time inteiro todo final de mês tem que fazer o fechamento de caixa, mas isso uma IA poderia fazer de forma automatizada para ele estar criando formas, por exemplo, como reduzir o custo numa outra área, ou como melhorar o processo como um todo”, explica.
Dentro da inovação, a tentativa é olhar para um lado que a empresa ainda não vê. O head de Labs no Cappra Institute cita um exemplo: uma empresa vende uma máquina, porém, ela pode passar a entregar seu produto com uma coleta de dados que podem ser vendidos. Assim, o dado seria uma fonte de renda.
“Nós estamos falando sobre usar a inteligência artificial para gerar novas fontes de rendas e novas formas de sobreviver, bem como novos negócios. As empresas estão ainda muito focadas em performance”, acrescenta.
Além disso, existe um potencial não explorado dentro da inteligência artificial . Eduardo explica que tanto nas pesquisas do Cappra Institute, como de outros players, é possível notar que o principal motivo para os projetos de dados falharem é a falta de cultura analítica dentro das empresas.
“Quando falamos de cultura analítica, é sobre pensar de uma forma diferente. Dentro de um mesmo dado se pode analisar o que pode ser feito de diferente no próximo mês, sempre pensando em melhorar. Dessa forma, forma de olhar para o dado e de fazer perguntas muda. Ao questionar o que pode ser feito de diferente, é possível afirmar que sempre dá para tentar algo novo. A partir de então, desenvolvem-se novos experimentos, que permitem coletar mais dados e entender melhor o que tem sido feito certo. Assim, é possível ter uma melhor e mais contínua evolução”, comenta.
Unir o trabalho da inteligência artificial com a ação humana para uma experiência completa
Para que seja entregue essa experiência completa, Eduardo Santos explica que é necessário que as pessoas entendam “o que” e o “para que” tem sido feito o processo com o uso da inteligência artificial. Porém, são necessários alguns cuidados ao se implementar a IA. Segundo o head de Labs no Cappra Institute, a IA aprende baseada em exemplos.
“Ela consegue gerar muitas possibilidades e aprender com muitos exemplos de uma forma muito rápida. Mas, a maioria das empresas não parou para classificar esses exemplos da melhor forma para entregar para a IA. Eu tenho sentido que as empresas estão esperando uma solução pronta. É quase como comprar um software para colocar no seu computador, esperando comprar uma inteligência artificial que seja instalada para passar a usar, quando na verdade é talvez isso vai fazer com que elas sejam só mais um no mercado e não tenham um diferencial”, pontua.
Sozinha, a inteligência artificial não poderá entregar todos os resultados que a empresa quer. É necessária uma diversidade de pensamentos, e de time, para evitar vieses dentro da IA. Eduardo ressalta ainda ser importante que, dentro da empresa, todos os departamentos conversem para olhar para o consumidor como um todo. Assim, e com o uso da IA, ele será colocado como centro do negócio.
“Antes de implantar uma IA, é importante que as pessoas tenham conhecimento do processo da jornada como um todo. Depois que isso estiver mapeado, fica fácil entender quais são os dados, qual é o caminho, e treinar uma IA que ajude nesse em etapas diferentes. Muitas empresas ainda têm a visão de que a inteligência artificial é uma inteligência igual a humana, que você consegue navegar em diversos assuntos diferentes. Na verdade, hoje, estamos em uma fase de pensar em inteligências artificiais super especialistas. Ela faz aquela tarefa muito bem, mas para essa outra tarefa do lado você tem que fazer uma nova IA, e ela faz essa outra tarefa muito bem, ao invés de pensar em uma IA que olha para o processo inteiro”, finaliza.