Por mais que sete a cada dez CEOs globalmente percebam a urgência da adoção da Inteligência Artificial (IA) generativa em seus negócios para obter uma vantagem estratégia diante da concorrência, falar é mais fácil do que agir. Por mais que a tecnologia tenha se tornado a grande pauta para organizações e lideranças ao redor do mundo, ainda há muitas perguntas que precisam ser respondidas sobre como aplicá-la da melhor maneira.
Entre os líderes entrevistados pela pesquisa CEO Outlook Pulse, da consultoria EY, 68% concordam que a incerteza que cerca a ferramenta tecnológica transforma a sua adoção em um grande desafio. Isso porque as dúvidas tornam muito mais difícil criar uma estratégia de IA generativa de forma rápida. Não só isso, mas 70% dos executivos apontam que a tecnologia ainda trará desafios para os modelos de negócios das organizações em manter sua vantagem competitiva.
Segundo a pesquisa, 99% dos CEOs entrevistados afirmaram que planejam investir em IA generativa. Os ganhos promovidos pela tecnologia são, principalmente, em eficiência e produtividade. Em outro levantamento feito pela EY, 75% dos executivos seniores globalmente apontaram que as capacidades e a produtividade dos colaboradores seriam otimizadas por meio da adoção da IA generativa.
No entanto, as empresas que preveem um crescimento menor nas receitas em 2024 na comparação com o ano anterior são as que estão mais atrasadas na adoção e menos propensas a aumentar seus investimentos na IA generativa. São esses os negócios, portanto, que mais necessitam dos ganhos promovidos pela ferramenta.
Essas organizações também são aquelas que concluíram menos iniciativas para construir capacidades de IA generativa: 1,9 ante 3,4, na comparação com empresas que esperam maior crescimento de suas receitas. Essas empresas também têm uma menor tendência a aumentar seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) – 35%, contra 80% entre as organizações que preveem um maior crescimento de receita.
Outro resultado apontado pelo estudo é que 64% das empresas que já foram impactadas significativamente pela IA generativa espera que a tecnologia seja responsável por redefinir o negócio e o modelo operacional em até dois anos. Já 67% das empresas que já possuem experiência avançada com a ferramenta espera que sejam necessários entre três e cinco anos para alcançar o mesmo resultado – sendo essa previsão a mais realista.
Um novo cenário econômico
A pesquisa ainda apresenta novos desafios apontados pelos CEOs para o próximo ano. Um deles está no crescimento dos negócios. Enquanto 66% dos entrevistados preveem crescimento de suas receitas, 65% esperam o aumento da rentabilidade em 2024 na comparação com 2023. No entanto, mesmo esse crescimento pode representar um desafio se as previsões não estiverem atreladas ao cenário econômico e de comportamento dos consumidores pós pandêmico.
A expectativa é de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 2024 seja 20% inferior ao resultado de 2019. Além disso, o estudo analisa que houve uma redução estrutural na demanda e produção globalmente, sendo que a previsão é de que sejam 0,3% inferiores nos próximos cinco anos na comparação com o período pré-pandemia. O resultado é de US$ 300 bilhões amenos de produção agregada.
Entre as organizações que esperam um crescimento mais elevado em 2024, 72% também esperam níveis mais elevados de rentabilidade. Apenas 3% preveem queda de rentabilidade. Já entre as empresas que esperam menor crescimento, 68% também preveem menor rentabilidade, impactando na capacidade de investir para remodelar seus negócios. O crescimento econômico mais lento é apontado como a principal para o crescimento dos negócios e da rentabilidade pelos CEOs de diferentes indústrias.
Como adquirir talentos
Entre os CEOs, 93% estão mudando suas estratégias de talentos para gerir custos. No entanto, a maioria pretende fazer essas alterações sem reduzir o número de colaboradores de suas empresas. Essas mudanças são motivadas pelas pressões causadas pelo cenário econômico, do reequilíbrio pós pandêmico dos comportamentos de trabalho, além das tensões geopolíticas contemporâneas. No entanto, o número cai entre os CEOs que esperam um crescimento grande de receita.
Além disso, há diferenças entre as declarações de CEOs nas Américas e na região Ásia-Pacífico. Enquanto os CEOs do continente americano planejam fazer mais reestruturações em sua base de talentos, esse número cai para 27% entre as lideranças da região asiática. Há diferenças também em relação à redução de bônus, 33% e 23%, respectivamente, e na mudança para o trabalho contratado, 41% e 31%, respectivamente.
Em média, 36% dos CEOs ouvidos pela pesquisa afirmam estar reestruturando ou reduzindo sua base de colaboradores. Além disso, 78% esperam que conflitos e tensões geopolíticas impactem o desempenho de suas organizações, enquanto 80% reconhecem que a volatilidade macroeconômica e de mercado como riscos para seus negócios.
Investindo na vantagem competitiva
O cenário atual formado por esses e outros fatores demandam, portanto, maiores investimentos em diversas áreas e níveis, segundo os CEOs ouvidos pela pesquisa. A maioria dos entrevistados pretendem aumentar seus investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento, Capital Expenditure (Capex), fusões e aquisições, por exemplo. Além disso, os executivos apontam para um crescimento nos investimentos na comparação com o período de desaceleração de 2022, uma vez que as incertezas sobre políticas monetárias diminuem.
Enquanto CEOs mais otimistas em relação ao crescimento dos negócios em 2024 também pretendem aumentar seus investimentos, o inverso também é realidade. Executivos menos otimistas também veem seus investimentos reduzidos – e como consequência, perderão ainda mais vantagem competitiva diante da concorrência.
Além disso, o levantamento traz dados sobre o mercado de fusões e aquisições global, que se estabilizou depois de um período mais lento no primeiro trimestre de 2023. Hoje, são cerca de US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões em negócios por mês. Além disso, há cerca de 250 negócios anunciados de mais de US$ 100 milhões. A expectativa é que esse crescimento continue, com aumento de negócios mais significativos.
Cerca de 89% dos CEOs ouvidos pela pesquisa planejam realizar alguma transação ao longo dos próximos 12 meses. No entanto, a intenção de busca ativa por aquisições caiu de 59% em julho de 2023 para 35% em outubro. Em vez disso, o foco está agora em joint ventures, alianças estratégias e alienações de investimentos.
Como superar desafios para 2024
A pesquisa da EY aponta alguns caminhos para superar os desafios identificados pelos CEOs globais:
- Estratégias factíveis para IA generativa: lideranças devem trabalhar com CTOs (Chief Technology Officer) para garantir que suas expectativas relacionadas à adoção e impacto da Inteligência Artificial (IA) generativa sejam, de fato viáveis. Planos frustrados ou mal calculados podem minar a confiança de colaboradores, acionistas e stakeholders na tecnologia e, assim, dificultar sua adoção e transformação no negócio.
- IA para reduzir custos: diante de um cenário de crescimento mais lento e maiores custos para negócios, organizações precisam racionalizar a operação e criar iniciativas de redução de custos. A Inteligência Artificial (IA) pode ser uma aliada para utilizar dados de forma mais adequada e, assim, oferecer uma visão mais clara dos mercados.
- Equilíbrio de talentos: as organizações devem compreender as mudanças estruturais das prioridades de seus colaboradores em relação a temas como remuneração, trabalho híbrido e resiliência para, assim, atrair e reter talentos de forma equilibrada. É preciso cautela ao lidar com os riscos trazidos com a redução de custos relacionados aos colaboradores.
- Entrar ou sair: saber a hora de investir ou retirar um investimento, sabendo superar a incerteza e acelerar negócios, poderão garantir a vantagem competitiva das organizações. Os CEOs que estão menos seguros sobre o desempenho financeiro das empresas devem buscar caminhos para atingir essa clareza no curto e médio prazo.