O setor de alimentação fora do lar, conhecido também como food service, representa 2,9% do PIB brasileiro segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). Estima-se que existam em torno de um milhão de negócios voltados a atender este público que faz refeições na rua, entre bares, restaurantes e lanchonetes.
Entender tais hábitos de consumo e quais tendências merecem atenção, portanto, é essencial para o sucesso de pequenos, médios e grandes negócios do ramo. A pesquisa “Hábitos de consumo em bares e restaurantes”, feita pelo Sebrae em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), traz ótimos insights neste sentido.
O levantamento ouviu mais de seis mil pessoas em todas as regiões do Brasil com o objetivo de entender as características consideradas mais importantes na hora de decidir em qual bar ou restaurante ir. Alguns resultados são interessantes – e até surpreendentes – e visam, segundo o Sebrae, fornecer direcionamentos para os empreendedores do setor.
Porque e como brasileiros frequentam bares e restaurantes
Sair para comer em bares e restaurantes já é um hábito bastante enraizado dos brasileiros. Segundo a pesquisa, 93% dos entrevistados fazem refeições fora do lar, mais da metade deles de duas a cinco vezes por mês; 20,7% chegam a ir oito vezes ou mais.
O principal motivo é o lazer, como ir a alguma celebração ou festa (citado por 76,6%), conversar com amigos e se divertir (76,3%) ou beber (64,8%). O caráter de “momento especial” está vinculado a esta escolha. Das refeições básicas, por exemplo, lanchar foi a mais citada (71,9%), à frente do almoço e do jantar.
O líder de conteúdo da Abrasel, José Eduardo Camargo, lembra que, embora o comportamento possa variar por diferenças regionais e locais – um restaurante à beira-mar e outro em um centro comercial vão atender públicos diferentes – o lazer se mantém como uma motivação poderosa. “Ainda mais nos tempos pós-pandemia, com as pessoas ansiosas por sair de casa e encontrar os amigos” diz.
Isso reflete também na maneira como as refeições são consumidas. Ainda que o delivery tenha aumentado no período pandêmico, a pesquisa mostra que as pessoas voltaram a frequentar este tipo de estabelecimento.
“Em outra pesquisa recente da Abrasel, vimos que mais de um terço dos restaurantes disse ter começado a fazer delivery após o começo da pandemia. Já hoje caminhamos para uma situação de equilíbrio, em que o delivery é um importante componente, mas, na média, o salão ainda é responsável pela maior parte do faturamento”, comenta José Eduardo Camargo.
Segundo a pesquisa do Sebrae e Abrasel, dois terços dos entrevistados consomem tanto nos estabelecimentos, seja no próprio local ou em uma retirada para consumo posterior, quanto por meio das plataformas de delivery. O principal aplicativo utilizado é o iFood.
Não é o preço! Características mais importantes para escolher um estabelecimento para ir
Perguntados sobre a característica mais importante para escolher um estabelecimento do setor de alimentação fora do lar, praticamente um terço dos entrevistados respondeu limpeza e higiene das instalações físicas. Foi um primeiro lugar disparado.
Para o líder de conteúdo da Abrasel, o resultado não chegou a ser uma surpresa, pois segue uma tendência mundial pós-pandemia de preocupação com saúde e segurança.
De fato, o levantamento mostrou que limpeza e higiene são relevantes por questões como “gostar de comer em local limpo”, mas também “por saúde e para evitar doenças” e “para ter segurança de que a preparação dos alimentos será cuidadosa”.
“O bom é que o Brasil tem uma legislação rigorosa em relação à higiene e segurança dos alimentos, com fiscalização constante. Então os bares e restaurantes estão acostumados ao tema. Mas é claro que, diante da pesquisa, vale sempre dar uma atenção extra ao treinamento dos funcionários”, completa José Eduardo Camargo.
Em seguida da limpeza e higiene, aparecem características vinculadas à qualidade do atendimento, como cordialidade, educação e conhecimento dos atendentes (citado por 17%) e ambiente do estabelecimento (12,4%). Ter uma comida saborosa e gostosa vem logo depois, com 10,3% de citações.
Teve peso nestas escolhas gostar de ser bem atendido e ir a um local que traga bem-estar, ou seja, que forneça uma boa experiência. A explicação, de acordo com José Eduardo, seria a ligação entre a exigência de um bom atendimento e o lazer como motivação. “Nesta situação, ter uma experiência agradável e prazerosa é ainda mais importante. E o atendimento é ponto chave desta experiência”, explica ele.
Já o preço acessível e adequado ao produto foi apenas a quinta característica mais lembrada, por 7,2% das pessoas. No entanto, o dado da pesquisa não significa que isso deva ser deixado de lado.
Embora não seja apontado como a motivação mais importante para ir a um bar ou restaurante, o preço pode ainda ser um componente decisivo na escolha do consumidor, principalmente entre alguns perfis específicos, como trabalhadores no horário de almoço, por exemplo.
Tendências de consumo a observar para bares e restaurantes no Brasil
A pesquisa feita pelo Sebrae em parceria com a Abrasel ainda listou outras características que fazem a diferença para o consumidor escolher entre um ou outro bar e restaurante. Elas vão desde localização e variedade de cardápio a recomendação das pessoas ou ser um estabelecimento conhecido. Dessa forma, o levantamento ajuda também a revelar tendências que podem movimentar o setor e representar oportunidades a se prestar atenção.
José Eduardo Camargo destaca dois componentes. O primeiro deles é o aumento da preocupação por sustentabilidade e, consequentemente, a busca por uma alimentação mais saudável. “Entre os que apontam a qualidade do produto como um fator decisivo de escolha, quase um quarto também diz que comer de modo saudável é o mais importante. Este é um movimento crescente na sociedade, o de buscar melhores escolhas para a saúde e a qualidade de vida”, afirma.
O segundo ponto é que, entre os que apontam a localização como característica importante, quase metade diz que o fator mais significativo é ter a sensação de segurança.
Na opinião do líder de conteúdo da Abrasel, o dado reforça algo que algumas vezes é relevado pelo poder público: como é essencial a presença de bares e restaurantes de portas abertas para a rua como um símbolo de segurança para as cidades.