Para os próximos anos, CEOs do Brasil e do mundo têm se preocupado em reinventar seus negócios para garantir a sobrevivência empresarial a longo prazo. Diante de um cenário de disrupção tecnológica e mudanças climáticas, é necessário dar atenção a essas transformações com foco tanto no futuro, como no hoje. Isso tem gerado uma inquietação entre lideranças em relação à sustentabilidade das empresas, e ligado uma alerta para a importância da inovação. Como prova desse contexto, 41% dos líderes de empresas no Brasil duvidam que seus empreendimentos se manterão viáveis além da próxima década. Os dados são da 27ª Global CEO Survey, da PwC.
As expectativas dentro do consumo e varejo
Ao mesmo tempo, o percentual de CEOs da indústria de consumo e varejo que acreditam que seus negócios não se manterão viáveis para a próxima década é de 29%. Além disso, 83% dos CEOs afirmaram ter projetos de inovação em desenvolvimento ou concluídos em produtos ou serviços de baixo impacto climático, a média geral do país é de 63%.
“Nós vemos uma preocupação, muito impactada com uma questão da reinvenção. É uma indústria que vem se reinventando muito, fortemente pelo aspecto online, por essa nova era phygital, sendo embarcada por toda a indústria”, comenta Luciana Medeiros, sócia da PwC Brasil.
Separados por aceleração, desaceleração e estabilidade, percebe-se o cenário do crescimento econômico do consumo e varejo no Brasil, e de outros setores, não se mantém muito oposto das métricas globais. Por aqui, é esperada uma aceleração de 36%, desaceleração de 37% e estabilidade de 30%. Os dados mundiais mostram, respectivamente, 38%, 45% e 16%. Já em comparação com os dados gerais do país, temos 36%, 39% e 25%, sequencialmente em aceleração, desaceleração e estabilidade.
“Lembrando que, no ano passado, foi mais desafiador para a indústria de varejo de consumo, principalmente aspectos ligados à visão da economia e da confiança do consumidor. Aspectos com relação à taxa de juros, entre outras, impactam obviamente essa visão da estabilidade aqui, maior quando comparamos com global”, pontua Medeiros.
O estudo mostra também a expectativa dos CEOs em relação ao crescimento da economia nos próximos 12 meses. Ainda em aceleração, desaceleração e estabilidade, o cenário do setor de consumo se mantém à frente do global. Enquanto por aqui os números mostram, respectivamente, 53%, 33% e 13%, as taxas globais são de 44%, 37% e 17%.
Confiança na geração da receita
Para os próximos 12 meses, nota-se uma queda na confiança tanto de todos os setores na geração de receita (52%), como no consumo e varejo (40%). Para os próximos três anos, o cenário não muda e a diminuição continua. Ao mesmo tempo, o estudo traz um alerta para a necessidade de reinvenção dos CEOs. Em comparação com os últimos cinco anos, são previstas alterações associadas à tecnologia.
Segundo a pesquisa, 63% dos líderes de consumo e varejo entrevistados no Brasil acreditam que as mudanças tecnológicas afetarão muito a forma de gerar valor ao negócio nos próximos três anos. Outros 57% indicaram que a inovação influenciou a geração de valor nos últimos cinco anos. Essa mudança de visão traz consequência direta para as perspectivas de futuro sinalizadas pelos líderes na pesquisa.
“Ainda que haja esse ponto de atenção, há também um otimismo no setor. Dos líderes de consumo e varejo no Brasil ouvidos na pesquisa, 53% estão confiantes quanto ao crescimento econômico do país, percentual próximo à média dos brasileiros, de 55%. Observamos que este otimismo é maior que a média global, de 44% e atribuímos, possivelmente, pelo cenário de redução de juros no país”, avalia Luciana Medeiros.
Os CEOs de consumo e varejo acreditam ainda em mudanças nas preferências do consumidor nos próximos três anos (63%), enquanto outros aguardam que elas aconteçam nos cinco anos seguintes (57%).
Atenção às ameaças
As megatendências também se refletem nas principais ameaças para o setor de consumo e varejo no Brasil. Para 27% dos entrevistados nesse setor, os riscos cibernéticos são os que podem causar maior impacto nos negócios nos próximos 12 meses. Esse é o segundo fator de preocupação mais relevante, ficando atrás apenas da instabilidade macroeconômica, citada por 30% dos líderes. Além disso, a inflação foi apontada por 20% dos CEOs do setor.
“A volatilidade da economia global é algo que aparece como um temor para os setores no geral. E o consumo nacional segue a tendência quanto à aceleração da economia mundial. Dos entrevistados, 33% fazem essa aposta, no Brasil esse índice é de 36% e, globalmente, 38%. Enquanto os percentuais dos que acreditam na desaceleração são, respectivamente, 37%, 39% e 45%. Ou seja, há um equilíbrio”, analisa Luciana Medeiros.
Inteligência artificial surge com oportunidades
A incorporação da inteligência artificial (IA) e sua capacidade de transformar as operações empresariais são destacadas no estudo. A aplicação dessa tecnologia no setor de consumo e varejo, juntamente com a adaptação da estratégia tecnológica para enfrentar a inovação que ela representa, está abaixo da média geral das empresas brasileiras.
Apenas 23% dos líderes do setor de consumo no Brasil afirmaram ter implementado a IA generativa em toda a empresa, enquanto a média nacional foi de 32%. A discrepância é ainda mais evidente ao questionarmos se a empresa alterou sua estratégia de negócios devido à IA. Enquanto 17% dos CEOs do setor de consumo e varejo realizaram alguma mudança nesse sentido, a média no Brasil atingiu 34%.
Os líderes do setor de consumo apontam uma perspectiva positiva em relação ao uso contínuo dessa tecnologia nos próximos 12 meses. Para 50% dos participantes da indústria de consumo e varejo, a IA generativa aprimorará a qualidade dos produtos e serviços das empresas nos próximos meses. Adicionalmente, 33% enfatizam que essa tecnologia ampliará a capacidade da empresa em construir confiança.
Olhando para os próximos três anos, 70% dos CEOs de consumo e varejo indicam que a IA proporcionará novas habilidades à sua força de trabalho. Além disso, 60% acreditam no aumento da competitividade no setor com a adoção da inteligência artificial, e 63% creem em mudanças significativas na forma como as empresas do setor podem criar e agregar valor através dessa nova tecnologia.
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