A tecnologia tem transformado profundamente nossa forma de viver, aprender, trabalhar e lidar com as finanças, inclusive no relacionamento com os bancos. Nesse cenário, o MIT Technology Review tem décadas de estudos sobre tendências tecnológicas, e um desses estudos trata justamente desse tema e antecipa as principais tendências tecnológicas para os próximos anos.
A primeira é o Observatório Vera C. Rubin, no Chile, um novo observatório astronômico que abriga a maior câmera digital já construída, com o tamanho aproximado de um carro. Ele vai capturar detalhes do cosmos como nunca vimos antes e promete transformar nosso entendimento sobre a galáxia e a origem do universo.
Já sobre a IA, principalmente a generativa, foi visto que ela está no centro das atenções com o ChatGPT, os prompts e a incorporação da IA generativa por empresas como Google e Microsoft nas ferramentas de busca. Hoje, por exemplo, ao buscar algo no Google, já é possível receber uma resposta gerada por IA no topo da página. Essa é a nova cara das buscas. Essas respostas não seguem um script: elas são produzidas no momento da consulta.
“Isso está acontecendo não só em ferramentas de busca, mas também em chatbots e aplicativos de celular. Em breve, veremos o surgimento de agentes de IA que executam tarefas por nós na internet”, frisa Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO e editora do MIT Technology Review, durante a Febraban Tech 2025. “Imagine estar de férias e contar com um agente que sabe que você gosta de fazer. Ele poderá encontrar atividades, sugerir locais, falar com amigos que moram na região e até sugerir bons lugares para jantar. A tomada de decisão será cada vez mais feita por essas ferramentas”, acrescenta.
Mas, ela destaca um ponto crítico: os modelos de IA não sabem se o que estão dizendo é verdade ou não. Eles apenas preveem qual palavra vem a seguir. Isso é uma grande preocupação, pois nos coloca diante da questão de confiar ou não em algo que pode não estar ancorado em fatos, e isso representa um risco sério.
A segunda tecnologia destacada são os Small Language Models (SLMs), os modelos de linguagem menores. Eles têm ganhado relevância porque usam menos dados para treinamento, o que os torna mais leves e eficientes. Além disso, têm menos parâmetros, o que significa que são ideais para tarefas específicas. Por exemplo, se você tem um escritório de advocacia com muitos contratos, não precisa de um modelo treinado com dados de toda a internet. Um modelo menor, focado em leis e contratos, é suficiente.
“Além disso, eles são mais baratos de criar, consomem menos e podem funcionar offline, inclusive em celulares. Em muitos casos, têm uma performance superior aos modelos originais”, reforça Elizabeth.
Como as tecnologias amadurecem
Na área da saúde também têm surgido várias tecnologias emergentes. Elizabeth cita como exemplo as medicações de prevenção ao HIV de longa duração. Está em desenvolvimento um medicamento injetável que oferece proteção por até seis meses. Ou seja, uma injeção que previne a infecção por HIV por até seis meses. Foram feitos testes com mulheres e meninas e os resultados mostraram 100% de eficácia na prevenção ao Vírus da Imunodeficiência Humana.
Também estão sendo desenvolvidas terapias com células-tronco. O tema é estudado há décadas, mas tem ganhado mais importância porque não depende apenas de tecido embrionário. Um exemplo pode contribuir no monitoramento de Diabetes Tipo 1. Cientistas estão produzindo células em laboratório que geram insulina. Essas células estão sendo implantadas no corpo de pacientes diabéticos e já começaram a produzir insulina normalmente.
“Esse tipo de inovação traz impactos profundos para a sociedade. No entanto, o mais relevante não é apenas a tecnologia em si, e sim das pessoas pensando em soluções, nas políticas que permitem o desenvolvimento dessas tecnologias e nas condições de negócio que as tornam possíveis. Isso é algo fundamental”, ressalta.
Futuro da IA generativa
Elizabeth compartilhou sua visão sobre o futuro da IA generativa e os caminhos que essa tecnologia deve trilhar nos próximos cinco anos. Para ela, entender o chamado hype cycle é essencial para projetar o que vem por aí. Quando uma nova tecnologia surge, ela passa por um processo comum. Primeiro, vem o gatilho de inovação: a tecnologia começa a sair dos laboratórios e as pessoas iniciam os primeiros testes. Em seguida, atingimos o pico das expectativas infladas, quando se acredita que aquilo vai transformar absolutamente tudo.
Mas essa euforia inicial logo dá lugar à frustração. É o momento da desilusão, quando percebemos que a realidade não é tão mágica quanto parecia. Só depois desse período é que começa uma recuperação mais sólida, com uma visão mais realista do potencial da tecnologia. É aí que ela finalmente atinge o estágio da produtividade, quando começa a ser usada de fato e a gerar impactos concretos no dia a dia das pessoas e das empresas.
Para os próximos anos, a expectativa é de que a IA generativa avance rumo a essa fase mais madura, com aplicações mais consistentes e relevantes em diversos setores da economia.
“Nos próximos anos, acreditamos que todas as indústrias serão impactadas: a indústria criativa, o mundo corporativo, bancos e finanças. De fato, será um impacto massivo”, pontua. Porém, uma das maiores preocupações, do ponto de vista da inovação, é o custo energético da IA. Ela depende de centros de dados que consomem muita energia. “Portanto, precisamos entender o custo total da IA, incluindo os recursos naturais e financeiros. Como criar uma IA benéfica sem esquecer o impacto ambiental?”, reforça.
Impacto da tecnologia no trabalho
Diante das transformações aceleradas pela IA, surge uma pergunta crucial: como ela vai impactar o futuro do trabalho, das profissões e da criação de novas carreiras? Para Elizabeth, a resposta passa menos pelo medo da substituição e mais pela forma como cada pessoa escolhe se posicionar diante da tecnologia.
“A coisa mais importante, na minha visão, é observar como a pessoa lida com isso no dia a dia. Não se coloque numa posição de resistência, tentando eliminar a tecnologia do seu trabalho, porque você vai perder. Em vez disso, seja a pessoa que a abraça”, afirma. Segundo ela, quem não estiver disposto a integrar essas ferramentas à sua rotina profissional corre o risco de ser substituído por alguém que esteja.
Elizabeth cita estudos de economistas do MIT para ilustrar os diferentes pontos de vista sobre o impacto da IA no mercado de trabalho. Alguns dizem ser preciso aceitar que muitos empregos serão perdidos. Outros argumentam que essa abordagem está equivocada. “Nós temos a capacidade, como líderes, empresários e cidadãos, de direcionar a tecnologia. Não precisamos aceitá-la de forma passiva”, pontua.
Ela reforça a importância de uma postura ativa diante da revolução tecnológica. A sociedade precisa guiar a IA para que ela seja usada com bons propósitos, para potencializar talentos humanos. Esse é um ponto central. “Precisamos lembrar que somos os impulsionadores da IA, não seus receptores passivos”, reforça.
Inclusão digital
Quando o tema é inclusão digital, é válido ressaltar sua importância crescente em um mundo cada vez mais guiado pela tecnologia. Essa é uma das questões mais urgentes da atualidade, especialmente em países com grandes desigualdades como o Brasil.
“Há pessoas que simplesmente não estão incluídas nesse movimento, e isso representa um risco enorme. Essas populações vão ficando para trás, talvez sem nunca conseguir alcançar o que está acontecendo em termos de inovação e oportunidades”, alerta.
Elizabeth destaca que a inclusão digital não se resume apenas ao acesso à tecnologia em si, mas também à ampliação de oportunidades. É importante pensar em pessoas em situação de pobreza, em comunidades remotas, mas também na necessidade de compartilhar os benefícios que a inclusão pode gerar.
O primeiro grande desafio, segundo ela, ainda é a conectividade. Embora existam infraestruturas globais, como cabos submarinos e redes de internet que interligam diversos países, há regiões que permanecem desconectadas, especialmente aquelas sem acesso ao mar, que enfrentam barreiras logísticas e econômicas ainda mais complexas.
Para avançar nesse cenário, Elizabeth defende investimentos contínuos, inclusive em infraestrutura pública digital. Pagamentos digitais, sistemas de troca de dados, acessibilidade para pessoas com deficiência. Tudo isso precisa fazer parte de uma estratégia ampla para garantir que a inclusão digital seja, de fato, global e transformadora.
“Haverá, nos próximos três anos e meio, uma lacuna de oportunidade para que países como o Brasil comecem a preencher esse espaço, assumam essa liderança e, quem sabe, mantenham esse protagonismo por um período ainda mais longo”, pontua.
O futuro é tecnológico, e empresas devem se preparar
Ao pensar na Customer Experience (CX), as empresas enfrentam hoje um cenário desafiador: oferecer serviços digitais que sejam fáceis de usar por diferentes gerações, com níveis variados de familiaridade com a tecnologia. Como, então, garantir acessibilidade e simplicidade em um ambiente digital cada vez mais complexo? Para Elizabeth, a IA pode ser uma grande aliada nesse processo.
“Existem maneiras muito interessantes pelas quais a IA pode ajudar nesse sentido. Dependendo do país e do mercado, vamos ter diferentes soluções, mas existem ferramentas de IA que ajudam a equilibrar essa questão da aceitação e da facilidade de uso. Um exemplo é permitir que a pessoa use sua conta bancária por meio de um aplicativo extremamente simples, algo que talvez parecesse muito avançado antes, mas que hoje já se tornou muito mais acessível”, finaliza.
Prêmio Consumidor Moderno 2025
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