As idas e vindas da tecnologia podem causar efeitos engraçados, até mesmo sarcásticos, quanto a alguns dos avanços e retrocessos que percebemos ao longo do tempo. Um dos exemplos mais recentes é a volta do táxi, causada, quem diria, pelo serviço de corridas particulares por aplicativos, como o Uber, Cabify, entre outros.
Se em 2014 os aplicativos estreavam por aqui com grandes expectativas, em 2022, eles já são alvo de uma série de problemas. Há inúmeros relatos de racismo, violência e abuso sexual e falta de segurança nos aplicativos, isso sem mencionar o preço volátil das corridas — resultado, além de problemas nas empresas provedoras, do alto preço dos combustíveis — e o cancelamento frequente dos motoristas, o que culmina também em um aumento no tempo de espera pela viagem.
Todos esses problemas têm feito com que os principais aplicativos percam clientela para seus tão acirrados rivais: os táxis. Um estudo da Mobicity, encomendado pelo aplicativo Vah, já mostra que 38% dos usuários de serviços de transportes estão buscando atendimento nos táxis.
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Os principais problemas de viagens por aplicativo
Embora tenham ficado tão famosos na pandemia — com um aumento recorde de pessoas que o utilizaram ao invés do transporte público, sobretudo para garantir a segurança diante do coronavírus —, os aplicativos têm apresentado problemas graves, inclusive já notados por boa parte dos usuários.
A pesquisa da Mobicity consultou 1,1 mil brasileiros em dezembro de 2021 e constatou, por exemplo, que 96% dos usuários perceberam a volatilidade do preço das corridas. Esse reflexo, no entanto, não foi repassado aos motoristas: uma série de reclamações surgiram nas redes sociais sobre o preço reajustado das passagens chegar apenas aos usuários.
Outro ponto destacado no estudo mostra que 92% dos usuários também perceberam um aumento no tempo decorrido para esperar o aplicativo encontrar uma viagem. 86% deles, entretanto, também sentiram um crescimento de cancelamento por parte dos motoristas.
Esses problemas fizeram tanto os usuários olharem mais atentamente aos táxis como também ao transporte público (42%) e às bicicletas (26%).
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Será a ascensão dos táxis?
De acordo com a pesquisa, realizada também no aplicativo da Vah, houve um aumento considerável no número de pedidos de táxi nos últimos meses. Em 2019, 92% das corridas eram feitas por aplicativos particulares de viagem, sendo apenas 8% por meio de apps de táxi, como o 99 e o Wappa. Já em dezembro de 2021, esse cenário ficou um pouco diferente: 75% das viagens eram provenientes de corridas particulares, ao passo de 25% vinham de táxis.
Mas medir a mobilidade urbana é algo mais difícil do que se imagina, sobretudo pela complexa alternativa de opções públicas que, sabemos bem, não funciona tão bem quanto o esperado. As corridas particulares, no entanto, atraíram um bom público nos últimos anos. E, se os táxis quiserem aproveitar essa nova onda de preferência, será necessária uma atualização em seus processos — sobretudo na forma de pagamento.
Antes do Uber, Cabify, Lady Driver e tantos outros, os táxis funcionavam principalmente com pagamento via dinheiro em espécie. E, convenhamos, esse meio já não tem tanta consistência mundo do Pix.
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No entanto, por meio de aplicativos, é bem provável que os táxis reconquistem a preferência dos usuários, sobretudo porque seus preços são taxados pela cidade e há uma regulamentação bem mais rigorosa a eles do que há aos motoristas de corridas particulares.
No fim, é uma disputa, sem dúvidas, acirrada: primeiro para captar os usuários já habituados aos aplicativos particulares — sempre bom lembrar que o Uber, por exemplo, é o sexto aplicativo mais presente na tela principal dos smartphones brasileiros, conforme aponta o mais recente Panorama de Apps Mobile Time da Opinion Box —, depois partir para uma experiência mais proveitosa aos brasileiros, que já contam com um alto padrão durante suas viagens.
Resta ver qual caminho a mobilidade urbana do país tomará nos próximos meses.
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