Avanços tecnológicos têm proporcionado transformações profundas em diversas esferas da nossa sociedade, e a área da saúde não é exceção. A aplicação da inteligência artificial (IA) tem se destacado como uma ferramenta inovadora, capaz de analisar grandes volumes de dados e extrair insights para melhorar a qualidade de vida e, em alguns casos, até mesmo prever eventos críticos. Entre essas situações, destaca-se a intrigante capacidade da IA em antecipar a ocorrência da morte de uma pessoa.
Apesar de parecer roteiro de um filme de ficção, um estudo feito na Universidade de Copenhague, na Dinamarca, descobriu ser possível prever de forma precisa sobre quando alguém irá morrer. Essa previsão é possível através de um subconjunto de inteligência artificial, conhecido como “aprendizado de máquina”. Esse método viabiliza a capacidade de um sistema computacional de aprender a executar tarefas intrincadas por meio de uma análise extensiva de conjuntos volumosos de dados, em vez de ser diretamente programado com um algoritmo ou solução específica. O estudo foi publicado com o título “Using Sequences of Life-events to Predict Human Lives”.
Segundo os autores, a escala de um conjunto de dados foi determinante para a pesquisa. Para chegar aos resultados, os pesquisadores reuniram registros diários de uma década de mais de seis milhões de pessoas que moram na Dinamarca. Porém, dentro desse número e para ter certeza de que o estudo tinha relevância, foi escolhido um grupo de 100 mil pessoas. Dessas, metade sobreviveria a um período de quatro anos, após 2016, a outra metade não. A resposta era de conhecimento dos envolvidos na pesquisa, mas não do algoritmo. A explicação foi dada pelo principal autor da tese, Sune Lehmann, professor da Universidade Técnica da Dinamarca.
As pessoas que compunham o grupo analisado pelo estudo tinham idade entre 30 e 55 anos. A idade do grupo foi selecionada tendo como justificativa ser um período “quando a mortalidade é mais difícil de ser prevista”. Dentro dos conjuntos de dados colhidos estavam informações como registros de saúde, salário, horário de trabalho, residências e muito mais.
Com essas informações disponíveis para análise, os pesquisadores elaboraram um modelo de aprendizagem que nomearam como Life2vec. Através desse modelo, foi possível mapear detalhadamente sequências de eventos que aconteceram na vida das pessoas estudadas pelo grupo de pesquisadores. O resultado teve uma taxa de acerto de 78%.
Além disso, existia um grupo de pessoas que, segundo o estudo, tinha mais chance de sobreviver. Esse grupo era composto por aqueles que tinham rendimentos elevados, bem como por indivíduos que ocupavam cargos de gestão. Por outro lado, homens descritos como trabalhadores qualificados ou que foram diagnosticados com algum transtorno que afetava a saúde mental apresentavam maior probabilidade de morrer.
Inteligência artificial que pode prever a morte teve bons resultados
Os autores ficaram empolgados com os resultados apresentados pelo estudo. Segundo os pesquisadores responsáveis pelo Life2vec, o desempenho dessa pesquisa superou os métodos de última geração já existentes em cerca de 11%. Ao mesmo tempo em que os resultados podem ser considerados promissores pelos responsáveis pelo projeto, eles não são uma imprevistos e os estudiosos do assunto disseram não se surpreender com o desempenho do Life2vec para grupos com um maior número de eventos de saúde nos seus registros. Além disso, foi descoberto ainda que o estudo apresentou melhor desempenho com grupos de pessoas mais jovens, bem como entre mulheres.
Além de prever a possível data da morte de uma pessoa, o estudo foi usado pelos pesquisadores para previsões sobre mais detalhes subjetivos da vida humana. Através do Life2vec foi possível analisar características como traços de personalidade, que normalmente são coletados por meio de questionários, desde a autoestima de uma pessoa até sua sociabilidade.
Apesar de o estudo parecer “ameaçador e maluco”, ou até mesmo um episódio de Black Mirror, seus resultados na vida real são previsíveis. A expectativa é que ele tenha impacto em trabalhos que já estão em andamento da realidade, principalmente os desenvolvidos por companhias de seguros. Porém, é importante lembrar que o Life2vec não está pronto para realizar “tarefa do mundo real” em sua atual fase. Entretanto, teoricamente é possível que ela faça qualquer tipo de previsão, reforçou Sune Lehmann.