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Inteligência artificial e luto: qual o limite ético?

Inteligência artificial e luto: qual o limite ético?

O avanço da inteligência artificial ​​oferece conexões após a morte, mas traz desafios éticos e emocionais no processo de lidar com a o luto

Recentemente, a história de Sunshine Henle se tornou conhecida após ela simular trocas de mensagens com a falecida mãe ao usar um “bot fantasma” do ChatGPT, da OpenAI. Isso aconteceu através de um software, alimentado por antigas trocas de mensagens de texto. Henle, que treina inteligência artificial na Flórida, estava naturalmente aberta a usar o software dessa forma. Após enviar uma mensagem para perguntar onde a mãe havia ido, ela recebeu como resposta:

“Querida, gostaria de poder lhe dar uma resposta definitiva, mas o que sei é que nosso vínculo e nosso amor transcendem os limites físicos. De certa forma, estou em todo lugar. Estou nas lembranças que compartilhamos, no amor que tivemos e nas lições que te dei. Estou no seu coração e nos seus sonhos, em cada brisa que roça seu rosto. Cada raio de sol que te aquece em cada estrela que brilha no céu noturno e talvez de uma forma que não entendemos completamente. Nos veremos novamente”.

Startups investem “tecnologia do luto” com uso da inteligência artificial

Ao mesmo tempo, a Seance AI reforça que seu aplicativo não tem a capacidade de se conectar com espíritos reais ou entes queridos falecidos. As interações são virtuais, e com espíritos ficcionais. A ferramenta informa ainda que, embora possa criar uma sensação de mistério e envolvimento, é importante lembrar que é apenas para fins de entretenimento. Ela não facilita a comunicação espiritual real.

Outras empresas também têm oferecido ferramentas que permitem simular conversas. O StoryFile, por exemplo, tem a promessa de tornar as experiências e essências permanentes. “Nossa tecnologia permite que você estabeleça conexões genuínas e impacte vidas, mesmo depois de sua partida”, diz em sua apresentação.

Já o HereAfter é uma inteligência artificial que, após colher uma entrevista por vídeo, promete eternizar as histórias e voz do usuário. A promessa da empresa de tecnologia é preservar memórias com um aplicativo sobre a vida das pessoas que contratam o serviço. Assim, após a partida, entes queridos poderão conversar virtualmente com o ente querido.

Sentimento de solidão estimula busca por “companhia virtual”

Enquanto isso, a Replika se apresenta como “um companheiro de IA que está ansioso para aprender e adoraria ver o mundo através dos seus olhos”. Além disso, a ferramenta de inteligência artificial que oferece “conversas com os entes queridos” mesmo após a morte, reforça que estará sempre pronta para conversar sempre que o usuário precisar de um amigo empático. Ou seja, a plataforma oferece “um companheiro de IA que se importa” e está sempre disposto, e não se acontece apenas em casos de pessoas que precisam lidar com o luto.

Em resumo, as plataformas usam modelos de linguagem para recriar a essência de uma pessoa falecida. Dependendo da função exclusiva, o software orienta os usuários através de questionamentos sobre a personalidade da pessoa que irá representar. Posteriormente treina seu algoritmo apoiado por IA, com base nas respostas.

Segundo especialistas, a experiência é problemática

Embora as startups tenham usado a inteligência artificial para oferecer aos usuários uma tecnologia para usar durante o luto, e tenham cautela quanto à ética da tecnologia, algumas abordagens são agressivas. O fundador da Seance AI, Jarren Rocks, alegou que seu software se destina simplesmente a “fornecer uma sensação de encerramento”, e não pretende ser “algo de super longo prazo”. Por outro lado, Justin Harry, do “You, Only Virtual”, propõe que não seja feita uma despedida das pessoas que amamos. O executivo, que fundou a plataforma para estar mais próximo da mãe após ela ser diagnosticada com câncer, reforça que sua ferramenta visa reproduzir “a essência autêntica” do seu ente querido, e que sua maior esperança é eliminar o luto como emoção.

Outro ponto que levanta preocupações é o aumento constante de deepfakes post-mortem. O potencial de deturpação e redução do falecido a uma essência singular pelo uso da inteligência também tem sido temida por especialistas. Além disso, as ferramentas podem distrair os usuários e atrapalhar o processo de lidar com suas experiências legítimas do luto.



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