Lançada em 2011, a série Black Mirror leva os espectadores para um universo futurista repleto de reflexões provocativas sobre a interseção da inteligência artificial (IA) no cotidiano. A produção ficou conhecida por explorar as consequências sombrias e as implicações éticas do avanço da tecnologia na sociedade. Cada episódio é uma história independente, mas muitos deles incluem temas comuns, como o impacto das mídias sociais, vigilância, inteligência artificial, realidade virtual e a dependência excessiva da tecnologia.
A série apresenta situações distópicas e futuristas que fazem o público refletir sobre como o uso excessivo ou mal direcionado da tecnologia pode distorcer a realidade, afetando as relações humanas e até mesmo manipulando a própria percepção da verdade. Em resumo, Black Mirror nos mostra possíveis ramificações negativas do nosso relacionamento com a tecnologia, alertando sobre os perigos de um futuro em que ela domina vidas nossas de maneira um pouco saudável.
Porém, no ano de lançamento, as situações que envolvem as ferramentas tecnológicas não estavam tão inseridas no nosso dia a dia como em 2023. Atualmente, a inteligência artificial já está mudando significativamente nossa percepção de realidade e, provavelmente, continuará a fazer isso de maneiras cada vez mais profundas. Ela influencia a forma como interagimos com o mundo, desde algoritmos que moldam o que vemos nas redes sociais até assistentes de voz que se tornam parte integrante de nossas vidas diárias.
A realidade aumentada e a realidade virtual são áreas onde a IA tem desempenhado um papel fundamental, oferecendo experiências imersivas que desafiam nossas percepções tradicionais de realidade. Além disso, a capacidade da inteligência artificial de criar conteúdo, como imagens, música e até mesmo textos, levanta questões sobre o que é autenticidade e originalidade.
À medida que a IA avança, também surgem desafios éticos e filosóficos. A capacidade de criar deepfakes, por exemplo, nos faz questionar a confiabilidade da mídia e da informação. A IA também pode criar bolhas de filtro, limitando nossa exposição a pontos de vista diversos, o que pode distorcer nossa compreensão da realidade. Todo esse cenário de avanço da inteligência artificial nos coloca, cada vez mais, perto de um cenário Black Mirror.
Ações cada vez mais “Black Mirror” da inteligência artificial já estão entre nós
Nesta semana, o programador Charlie Holtz chamou a atenção ao, com ajuda de uma ferramenta de inteligência artificial, criar o que parece uma cena de Black Mirror. Ele compartilhou no X, o antigo Twitter, um vídeo em que o locutor e documentarista Sir David Attenborough o descreve como um personagem de filme.
“Aqui temos um exemplar notável de Homo Sapiens, que se distingue pelos seus óculos circulares prateados e uma juba de cabelos encaracolados e desgrenhados. Ele está vestindo o que parece ser uma cobertura de tecido azul, que só pode ser considerada parte de sua exibição de acasalamento”, diz Attenborough no vídeo compartilhado por Holtz.
A narração, que se assemelha com a realidade, reproduz não apenas a voz de Attenborough, como seu estilo de fala. A ação de Holtz, que é “hacker residente” em uma startup de aprendizado de máquina, aconteceu através de uma combinação da visão GPT-4 da OpenAI – um modelo de IA que pode descrever o que vê – e o código do Elevens Lab, uma startup de voz de IA.
O criador de deepfakes da Microsoft
Durante o evento Microsoft Ignite 2023, foi apresentada uma ferramenta com a capacidade de criar um avatar fotorealista de uma pessoa e dar a ele falas que não foram ditas por quem imita. O novo recurso do Azure AI Speech está disponível para visualização pública, e permite que sejam gerados vídeos de um avatar com fala a partir da imagem da pessoa com quem o usuário quer que a criação de inteligência artificial se assemelhe.
Acontece da seguinte forma: o usuário escreve o script que deve ser lido. Já a ferramenta da Microsoft treina um modelo para conduzir a animação, enquanto um modelo separado de conversão de texto em fala lê o script em voz alta. A inovação pode ser usada também para criar agentes de conversação, assistentes virtuais e chatbots. Além disso, vários idiomas podem ser usados na simulação.
O receio com o uso da ferramenta é que ela seja utilizada indevidamente, como para produzir notícias falsas. Nesse cenário, a Microsoft explica que a maioria dos assinantes do Azure só terá acesso a avatares pré-construídos, e não personalizados. Os personalizados são limitados e só poderão ser usados por registro, em determinados casos.
Outro novo recurso da Microsoft, a voz pessoal, pode replicar em pouco tempo a voz de uma pessoa. Porém, nesse caso, é necessária uma amostra de fala de um minuto como um prompt de áudio. O objetivo da empresa com a ferramenta é criar assistentes de voz personalizados, dublar conteúdo em diferentes idiomas e gerar narrações personalizadas para histórias, audiolivros e podcasts.
Porém, para que problemas com esse recurso sejam evitados, a Microsoft não autoriza que seja usada uma fala pré-gravada. A empresa exige ainda que haja um consentimento dos usuários, dado por uma declaração gravada e que verificada se corresponde a outros dados de treinamento de uso único antes que um cliente possa usar voz pessoal para sintetizar um novo discurso. O acesso à ferramenta ainda é restrito a um formulário de registro. Quem se interessar em usá-lo deverá concordar com o uso da voz pessoal apenas em aplicativos.
Bing Chat passa a se chamar Copilot
Outra mudança da Microsoft durante o Ignite 2023 atingiu no Bing Chat, chatbot que utiliza a inteligência artificial lançado no início do ano. Agora, a ferramenta passa a se chamar Copilot no Bing, assim como a versão premium, o Bing Chat Enterprise, destinado ao público corporativo, que passa a se chamar Copilot.
De acordo com a empresa, as mudanças refletem na visão de criar uma experiência unificada de Copilot para consumidores e clientes comerciais. Além disso, a partir de 1º de dezembro, os usuários que usam o Copilot no Bing através de contas corporativas terão seus dados comerciais protegidos. Ou seja, os dados não ficarão salvos e nem serão usados para treinar modelos de IA.
A utilização do Copilot pode ser feita pelo sistema operacional Windows, além de ser acessível através de Copilot.Microsoft.com e Bing. Ele está disponível em diversos planos de assinatura empresarial da Microsoft, incluindo Microsoft 365 E, E5, Business Premium e Business Standard, sem custo adicional. A partir de 1º de dezembro, o Copilot será incluído no Microsoft 365 F3. Para clientes que não se enquadram nessas categorias, ele estará disponível de forma avulsa pelo valor de US$ 5 por mês.