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Consumidor (in)consciente: como as redes sociais “hackeiam” a mente?

Consumidor (in)consciente: como as redes sociais “hackeiam” a mente?

Você já parou para pensar como as redes sociais influenciam as decisões de compra, deixando o consumido cada vez mais inconsciente?

Alguma vez na vida, você, na condição de consumidor, já parou para se perguntar se suas escolhas realmente são livres? Ou estariam sendo de alguma forma influenciadas?

Quantas vezes você já se sentiu pressionado a comprar algo só porque estava em alta? Será que as redes sociais, com seus trends acelerados, influenciam mesmo as nossas decisões de consumo? A questão é: estamos seguindo tendências ou apenas nos deixando levar?

Para responder essas e outras questões, a Consumidor Moderno acompanhou uma palestra on-line da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor da Fundação Procon-SP no dia 27 de agosto. A atividade, com o tema “Consumo e Relações na Era Digital”, foi dividida em duas partes. A primeira delas foi ministrada pela especialista e proteção à defesa do consumidor Michelle Drobnicki Soares. Na sequência, foi a vez da coordenadora do Núcleo de Tratamento do Superendividamento da Fundação Procon-SP, Neyde Ayoub, falar dos riscos que todos nós, como consumidores, corremos na internet.

As redes sociais possuem acesso a dados pessoais e de preferências que oferecem uma personalização eficiente da experiência do usuário. Por um lado, torna a navegação muito mais agradável e fluida. Por outro, fornece o caminho perfeito para a oferta de propagandas enganosas, o uso excessivo de telas e consumo de conteúdos, e para a criação de comparações e ansiedades entre usuários.

Consumidor no centro

Fato é que nossos dados pessoais e comportamentos tornaram-se valiosos. Serviços como Google, Gmail e WhatsApp têm a capacidade de monitorar quanto mais tempo passamos conectados. E, assim, inegavelmente, eles conseguem traçar nosso perfil. Em outras palavras, nos dizeres de Michelle, enquanto navegamos na internet, nosso perfil como consumidores e formadores de opinião está sendo monitorado – e analisado.

Com toda certeza, a interação constante com essas plataformas gera um ciclo vicioso. Nesse circuito o comportamento do usuário é sempre analisado e manipulado. O intuito é manter sempre a sua atenção. Como se não bastasse, a percepção de que os usuários estão sempre atrasados para alguma novidade pode ser um gatilho de ansiedade, comparável até ao vício em substâncias entorpecentes.

Finalmente, Michelle explica que é estabelecida uma dificuldade em parar de rolar a tela. E a contínua impressão de que a grama do vizinho é mais verde vai gerando cada vez mais ansiedade e frustração. Em teoria, estamos falando de ferramentas criadas para proporcionar bem-estar e facilitar nossas vidas. Mas o prazer que proporcionam é passageiro. E quando a pessoa está prestes a se desconectar, surge algo novo que a prende na rede. “Portanto, o consumidor está sempre recebendo estímulos que atraem sua atenção. Nesse ínterim, os algoritmos estão cada vez mais eficientes nesse aspecto”.

Código de Defesa do Consumidor

A personalização de conteúdos e anúncios cria uma ilusão de escolha, mas, na verdade, nossas decisões estão sendo moldadas por algoritmos que priorizam o engajamento em detrimento de uma experiência realmente autônoma. Exemplo disso está na propaganda enganosa ou abusiva, proibida pelo artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor.

Michelle então comentou que ela mesma foi vítima desse tipo de publicidade recentemente. Tudo começou com o anúncio de uma raquete de tênis de mesa, que ela pretendia comprar para presentear seu filho. O produto estava com um ótimo preço mas, para tê-lo, com “frete grátis”, era necessário incluir outros itens no carrinho de compra. Passado um tempo, ela recebeu uma mensagem da empresa, se desculpando porque não tinha mais a raquete. “Entretanto, eu tinha comprado várias mercadorias, e o produto que eu realmente queria e precisava, era inexistente. A publicidade era só um chamariz”.

Propaganda enganosa

O fenômeno das promoções enganosas não é novidade no mundo do comércio. Muitas vezes, os consumidores são atraídos por anúncios que prometem produtos a preços imbatíveis, mas acabam descobrindo que a oferta é limitada ou, pior, que o item desejado nem está disponível. Esse tipo de estratégia pode levar à frustração e à desconfiança, diminuindo a fidelidade do cliente.

Além disso, as empresas frequentemente utilizam táticas de urgência, como prazos curtos para a promoção ou estoques limitados, para instigar um senso de pressão no consumidor. Essa pressão pode resultar em decisões apressadas, afastando-se de uma análise crítica da compra. É crucial que o consumidor avalie cada compra, especialmente quando envolve produtos de grande valor ou necessidade.

Rolagem infinita

As empresas têm criado cada vez mais atrativos para nos manter conectados por mais tempo. Uma das estratégias é a rolagem infinita, abordagem que tem se tornado cada vez mais popular em plataformas de mídia social e serviços de streaming, onde os usuários permanecem engajados por longos períodos. “No entanto, essa técnica também levanta preocupações sobre o impacto na saúde mental e na produtividade”, enalteceu Neyde Ayoub.

Segundo ela, os algoritmos que suportam a rolagem infinita são projetados para personalizar a experiência do usuário, oferecendo recomendações baseadas em interesses e comportamento anterior. E, em suma, isso cria um vício.

Por consequência, os indivíduos perdem a noção do tempo e se sentem compelidos a continuar consumindo conteúdo, mesmo quando prefeririam fazer outra coisa. Ademais, a rolagem infinita pode contribuir para a desinformação. Isso porque a facilidade de acesso a grandes volumes de informação pode resultar na propagação de notícias falsas, já que os usuários podem consumir e compartilhar conteúdo sem o devido exame crítico.

Dados compartilhados

Outro ponto abordado por Neyde Ayoub foi a monetização dos dados pessoais. Afinal, o que será que acontece com as informações que compartilhamos?

Elas são utilizadas para segmentar públicos, mas também podem ser manipuladas para influenciar compras e opiniões, gerando um novo tipo de controle social. A noção de privacidade se torna cada vez mais complexa em um mundo onde nossa presença digital é praticamente indissociável de nossa identidade.

As implicações jurídicas dessa digitalização são vastas. A proteção dos dados pessoais e o direito à privacidade devem ser prioridades em tempos onde as informações são um dos ativos mais valiosos. “Assim, é imperativo que eduquemos os usuários sobre os riscos e responsabilidades associados ao uso dessas plataformas. A conscientização e o pensamento crítico tornam-se soluções essenciais para lidar com o fenômeno crescente da manipulação digital. Apenas assim poderemos restituir um nível de autonomia real sobre nossas escolhas, assegurando que a tecnologia sirva ao nosso interesse coletivo, e não apenas os objetivos das corporações”, comentou Neyde.

Hacker de mente

As redes sociais utilizam uma série de técnicas psicológicas para captar e manter a atenção dos consumidores. Em suma, elas exploram a nossa necessidade de conexão social, fazendo uso de notificações, likes e comentários para gerar recompensas instantâneas. Além disso, elas promovem:

  • FOMO (Fear of Missing Out): ou, literalmente, o medo de ficar de fora. Isso significa que o receio de perder algo importante nos impulsiona a checar as redes sociais incessantemente. Conteúdos que parecem eternamente relevantes alimentam essa ansiedade e podem nos levar a consumir produtos ou experiências que não realmente desejamos;
  • Conteúdos personalizados: algoritmos escolhem o que vemos baseado em nossas interações. Isso nos prende em bolhas de ideias semelhantes, limitando nossa visão de mundo e reforçando crenças;
  • Desinformação viral: fake news se espalham mais rápido que a verdade. O nosso instinto humano por drama e polêmica faz com que cliques e compartilhamentos priorizem conteúdo enganoso;
  • Comparação social: as redes incentivam comparações constantes com os outros. Isso pode afetar nossa autoestima e saúde mental, levando a sentimentos de inadequação e solidão;
  • Persuasão: as redes sociais criam o design persuasivo para prender a nossa atenção. Isso nos torna mais vulneráveis e propensos a compras impulsivas.

Em conclusão, ficou claro, na palestra do Procon-SP, que refletir sobre como as redes sociais influenciam nossa mente, na condição de consumidores, é crucial. Analogamente, reconhecer esses hacks é o primeiro passo para ter um uso mais saudável e consciente dessa ferramenta poderosa.

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