Entre os padrões de consumo dos brasileiros, preocupações com a saúde e com a sustentabilidade têm sido presentes. No entanto, essa intenção da mudança de hábitos, muitas vezes, esbarra em obstáculos como restrições financeiras e o crescente tempo dedicado às atividades digitais. Esses desafios apresentam-se como barreiras que dificultam a concretização desses objetivos e mostram a complexidade de conciliar um estilo de vida mais saudável e responsável com a realidade do mundo moderno.
O estudo Consumer Pulse, da Bain & Company, apontou um descompasso entre as aspirações e as ações da população brasileira em alguns comportamentos de consumo. Apesar dos consumidores se interessarem por alguns temas, nem sempre conseguem atender às próprias expectativas. Segundo o levantamento, é crescente entre os brasileiros o desejo de ser financeira e ambientalmente sustentável, com a adoção de práticas de consumo ecologicamente corretas. No entanto, apesar de 91% dos ouvidos pelo estudo afirmarem que a sustentabilidade é um fator importante no seu processo de compra, apenas 28% estariam dispostos a pagar mais por um produto sustentável.
No Brasil, a sustentabilidade é uma pauta relevante para a população e o nível de preocupação com as alterações climáticas supera o da Europa e dos Estados Unidos, conforme apontou outro estudo da Bain. No entanto, os preços desses produtos muitas vezes impedem os consumidores de optarem por uma escolha mais sustentável. Nesse cenário, embora 81% dos brasileiros manifestem preocupação com as mudanças climáticas, apenas 11% adquirem produtos sustentáveis.
Alimentação saudável
No campo da alimentação saudável, foi notado pelo estudo uma diferença semelhante. Segundo levantamento da Bain & Company, os brasileiros demonstram um forte desejo de melhorar sua saúde física e da adoção de novos hábitos. Isso envolve adotar uma dieta mais saudável, praticar exercícios e ter um sono de melhor qualidade, além de reduzir o consumo de tabaco e álcool.
Contudo, apesar da alta intenção de mudar hábitos, 25% dos consumidores no Brasil enfrentam dificuldades para implementar todas as mudanças desejadas em saúde e bem-estar. Isso pode ser justificado por alguns desafios, como limitações financeiras, distrações do dia a dia e a necessidade de suporte para estabelecer novas rotinas. Ainda assim, 37% dos brasileiros afirmam ter reduzido o consumo de álcool, 63% tentam seguir uma dieta saudável e 43% estão buscando se exercitar mais. Outros 39% afirmaram estar dormindo mais, enquanto 24% passaram a fazer check-ups médicos periódicos.
Para promover a conscientização nutricional, que influencia fortemente os hábitos alimentares, a nova política de “rótulo alimentar” foi rapidamente adotada e teve um impacto imediato em muitos consumidores. Eles relataram ter reduzido ou reconsiderado o consumo de produtos com etiquetas específicas.
Entre os entrevistados pelo estudo, 56% notaram a implementação de novos rótulos com alertas nas embalagens de produtos menos saudáveis. Após visualizar esses rótulos, 33% decidiram não comprar o produto. Adicionalmente, 53% dos consumidores consideraram ou planejam reduzir o uso futuro desses produtos.
O que o brasileiro faz no tempo livre?
Mesmo ao buscar hábitos mais saudáveis, o brasileiro apresenta uma grande lacuna entre o tempo gasto em atividades digitais e o desejo de reduzir essa prática. Ela aparece em segundo lugar como a ação que mais ocupa o tempo livre dos consumidores, mas é indicada como a primeira opção entre os hábitos que desejam reduzir. Nesse cenário, a pesquisa revela que 58% dos respondentes acreditam que as atividades digitais geram distrações indesejáveis e 46% reconhecem que causam prejuízo à saúde e ao bem-estar.
Já ao serem questionados sobre a importância relativa das atividades praticadas pelos consumidores no tempo livre, 71% dos respondentes apontaram atividades sem telas em casa, como jardinagem e leitura. Porém, ao mesmo tempo que o brasileiro busca reduzir o tempo de tela, 68% da população tem o hábito de se ocupar com atividades digitais, sejam as redes sociais ou o streaming. As atividades de saúde e bem-estar aparecem na terceira colocação (65%), seguidas de tarefas domésticas (64%), o aprendizado de novas habilidades (61%), atividades de geração de renda (59%) e as que são feitas fora de casa (59%), como ida a bares e ao cinema.
Foto: Shutterstock.com