Uma das questões mais polêmicas abordadas no Money 20/20 trata justamente do desenvolvimento do Apple Pay, o sistema de pagamento da Apple. Inicialmente válido para os usuários de seus dispositivos, é simples, amigável, seguro e vem apresentando curvas de crescimento expressivas em sua utilização. Os painéis que de certa forma abordaram o significado do Apple Pay atraíram enorme interesse.
Será que a marca da maçã conseguiu de novo aprimorar uma indústria com uma inovação disruptiva, que representa um salto de qualidade sem precedentes?
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A resposta ainda está em construção. Um painel em especial – Apple Pay, um ano depois. Perspectivas dos maiores stakeholders – foi bastante ilustrativo ao abordar as diversas implicações do Apple Pay. Adquirentes, varejistas, bancos falaram abertamente sobre o impacto da ferramenta. Inicialmente, como solução de pagamento, os benefícios impressionam: simplicidade total para o consumidor. O “tap and pay” tão comentado ao longo do Money 20/20 ganha no Apple Pay a sua mais fiel tradução. Basta um toque na tela, que o sistema utilizando tecnologia NFC efetiva a transação em instantes.
A segurança é absoluta. As possibilidades de diálogo entre varejistas e consumidores, abrindo ofertas por meio do sistema, são imensas. A segurança, por meio da encriptação instantânea dos dados de compra, é total. A taxa cobrada pela Apple dos varejistas é muito pequena, o que impacta o negócio de adquirência – chega a 0,15% em alguns casos. A evolução de uso é expressiva. Há casos em que as compras por meio do Apple Pay aumentam 50% ao mês em número de transações e 18% em valor.
Um sucesso, certo?
Money 20/20 discutiu as implicações do Apple Pay – segurança e facilidade sem precedentes no pagamento
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Bom, o outro lado da moeda já reduz esse entusiasmo. A competição dos meios de pagamento está se acirrando violentamente. O Chase lançou o seu Chase Pay, que aglutina os benefícios do Apple Pay, e permite pagamento via NFC, via app, via SMS… e bom, o Chase tem o próprio negócio de adquirência. O Android Pay se contrapõe à Apple, trazendo o código aberto o que em tese permite maior acesso à inteligência analítica a ser extraída das transações. MasterCard tem o MasterCard Pass, Samsung oferece o Samsung Pay, e todos esses sistemas esbarram em um obstáculo fundamental: como serão difundidos globalmente? Esta é a pergunta de US$ 1 trilhão. Cartões de crédito já têm, há décadas, protocolos que uniformizam seu uso, autenticação e conversibilidade em diferentes padrões monetários. Ao consumidor basta apenas apresentar o cartão. Ele não se preocupa com questões legais, taxas de administração locais, nada. Pois bem: essas questões estão no horizonte do Apple Pay.
No Brasil, por exemplo, como a Apple conseguirá difundir seu sistema de pagamento diante de mercados tão concentrados quanto os de adquirência e de bancos, com grande concentração? As taxas seriam maiores e a velocidade de adesão muito mais lenta que em um mercado fortemente descentralizado e fragmentado, nestes campos, como o dos EUA.
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De todo modo, a experiência do consumidor é receptiva à inovação? O potencial disruptivo e a força da Apple, bem como o esforço de diversos competidores – bancos, teles, indústrias, adquirentes, startups – estão correndo no sentido de mudar realmente o uso e o significado das transações financeiras. Cedo ou tarde, essa questão espinhosa chegará ao Brasil. Estamos preparados culturalmente para uma mudança tão radical em nossa forma de comprar e vender?
As revistas Consumidor Moderno e NOVAREJO trarão diversos conteúdos, tanto nos sites, redes sociais quanto nas próximas edições impressas para levar aos nossos leitores todas as informações e desdobramentos do Money 20/20.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão