Você sabia que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo? De acordo com a ONG TGEU, a expectativa de vida deste grupo da comunidade LGBTQIA+ é de apenas 35 anos, dado reforçado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), que revelou que 89 pessoas transgênero foram assassinadas no Brasil somente no primeiro semestre de 2020.
Presente no trabalho, nas ruas, instituições de ensino e até mesmo no ambiente familiar, a transfobia também está enraizada no mundo virtual e vem ganhando força através das redes sociais. Seja por meio de comentários, vídeos compartilhados, curtidas ou tweets, muitos usuários fazem uso das mídias digitais para disseminarem discursos de ódio contra a comunidade LGBTQIA+, escondendo-se atrás das telas e do discurso da “liberdade de expressão”.
Para reduzir tais ações criminosas e penalizar as pessoas transfóbicas, as redes sociais vêm anunciando medidas em suas políticas de segurança que pretendem proibir atitudes como terapias de conversão e deadnaming – a prática de não reconhecer o nome da pessoa trans ou não binária, utilizando a maneira como ela era chamada no nascimento.
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TikTok altera política de segurança
na luta contra a transfobia
Recentemente, por exemplo, o TikTok atualizou as diretrizes da comunidade e ampliou alguns tópicos relacionados aos preconceitos e práticas violentas voltadas às pessoas trans. Além de proibir que seus usuários usem os nomes antigos deste grupo LGBTQIA+, a plataforma criticou explicitamente a prática da chamada “cura gay” e o misgendering, que consiste no erro proposital do gênero de alguém.
A fim de condenar o preconceito, o bullying e a desinformação, a rede ainda afirmou que, continuamente, vem removendo conteúdos que ferem suas diretrizes, dado que foi comprovado pelos próprios porta-vozes da ferramenta virtual, já que somente no terceiro trimestre de 2021, o TikTok excluiu cerca de 91 milhões de vídeos que violaram suas normas.
Para o especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências e TEDx speaker, Arthur Igreja, a plataforma atendeu a uma demanda social e se manifestou de forma plausível diante da situação. “O TikTok está tentando responder ao pedido de alguns reguladores, principalmente, porque as redes sociais têm esse caráter discriminatório por não fazerem nada a respeito e também por aspectos do próprio algoritmo”, inicia o palestrante.
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“Muitas vezes, as redes sociais fazem vista grossa, ignoram. O algoritmo acaba escancarando aquilo que choca mais, o que é o mais popular. E, obviamente, sabemos que o mais popular não é necessariamente o que acontece com as minorias. Então, o algoritmo acaba dando um tratamento que é desigual, fazendo com que os comportamentos grosseiros ganhem mais repercussão”, complementa o especialista em tecnologia.
Segundo a presidente da Associação Brasileira de Agentes Digitais de Goiás (ABRADI) e especialista em mídias na Brugger Mídias Sociais, Rafaela Brugger Bastos, o TikTok se posiciona à frente das demais redes sociais no combate aos diversos tipos de preconceito e serve de exemplo para todas as plataformas digitais.
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“Combater ódio, preconceito e demais comportamentos tóxicos são cruciais para termos um ambiente saudável e seguro – a rede social é um espaço de interação social e de comunicação. O público do TikTok é formado, em sua maioria, por pessoas jovens, os chamados nativos digitais – estamos falando não só do jovem adulto, mas também de crianças e adolescentes. Então, é muito louvável que a rede tenha a preocupação sobre qual tipo de conteúdo que este público consome em seu ambiente”, inicia Rafaela Brugger, que complementa: “e ela vai mais além: a preocupação não é somente com ódio e preconceito, mas também com transtornos alimentares e desafios perigosos. O que muda é a cultura de sua própria comunidade – e para melhor”, explica a presidente da ABRADI.
Apesar de iniciativa, avanço no combate a transfobia
ainda é lento no universo virtual
Com relação às ações das outras redes sociais no combate a transfobia e demais práticas preconceituosas, Rafaela Brugger comenta que, apesar do posicionamento contrário a tais ações, as plataformas ainda precisam aperfeiçoar suas políticas de segurança para se adequarem a agenda ESG e atuarem na defesa do consumidor: seus usuários.
“Vamos espiar os números da pesquisa anual da Hootsuite, We are Social de 2021. Vemos que as principais redes sociais/plataformas são: Facebook, em primeiro lugar, com 2,740 bilhões de usuários; Youtube, em segundo lugar, com 2,291 bilhões de usuários e o Instagram, que aparece em quinto lugar com 1,221 bilhão de usuários. Em relação ao TikTok, vemos que ele tem 689 milhões de usuários. Os dados mostram que tanto a Meta quanto o Google são as empresas que controlam as plataformas com mais usuários. Infelizmente, são empresas que ainda falham em suas políticas de regulação, embora as mesmas sempre se posicionem contra discursos de ódio e preconceito”, afirma a especialista em mídias sociais.
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“Em relação ao Youtube, no Brasil, tivemos, recentemente, o caso Monark, que teve grande repercussão na imprensa e reacendeu a discussão sobre políticas mais rígidas e efetivas no combate a este tipo de conteúdo. Quando pensamos em Facebook e Instagram, ainda há a necessidade de maior clareza e efetividade neste tema, tendo em vista que a Meta tem focado no metaverso, em novos modelos de negócios e na realidade virtual”, complementa a representante da ABRADI, citando o apresentador do podcast Flow que fez comentários polêmicos sobre o nazismo.
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O especialista em inovação, Arthur Igreja, endossa a mesma linha de raciocínio ao estabelecer um panorama sobre as estratégias de combate ao preconceito nas redes sociais: “o que está previsto e o que acontece ainda é muito pequeno. As empresas de tecnologia normalmente só reagem quando algo é escancarado. É como vimos no caso onde os algoritmos de reconhecimento de fotos penalizavam pessoas negras por priorizarem pessoas com a pele branca. O que as empresas divulgam é simplesmente para apagar incêndios. A preocupação, na verdade, é ínfima”, afirma o TEDx speaker.
Mobilização é a palavra-chave para acelerar
medidas contra a transfobia
Para reverter este cenário, Rafaela Brugger explica que somente a mobilização é capaz de trazer à tona a necessidade da criação de leis e diretrizes que combatam os mais variados tipos de preconceito no mundo real e no virtual.
“Estamos falando de uma grande responsabilidade das empresas controladoras das redes sociais. Nós, como comunidade, podemos e devemos levantar o debate e, inclusive, usar as próprias plataformas para fomentar movimentos que exijam políticas de uso claras e efetivas no combate ao ódio”, inicia a especialista, que finaliza: “além disso, precisamos, também, mobilizar a nossa classe política. Países como EUA e Inglaterra têm avançado na atualização da legislação própria de proteção às crianças e adolescentes, incluindo os ambientes digitais, bem como na regulamentação de atuação em específico das grandes plataformas digitais”, encerra a diretora.
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