Em tempos de customização, os rastros deixados pelo consumidor em formato de dados pela internet são o insumo mais valioso que existe. Porém, eles tendem a ser cada vez mais protegidos: privacidade de dados é um tema que se torna cada vez mais relevante e, com isso, o cliente passa a entender que é detentor de suas informações.
O desafio das organizações com a regulamentação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é buscar a concordância no uso das suas informações, com a autorização ou não da liberação desses dados. Como um propulsor de marcas que atuam com respeito com o seu consumidor, a legislação, que entra em vigor em fevereiro de 2020, já gera opiniões diversas entre os próprios consumidores, fornecedores desses dados.
Em recente pesquisa realizada pela Mindminers, 92% das pessoas consideram suas informações pessoais na rede como um bem de valor. Já sobre o conhecimento da coleta desses dados pelas empresas, 74% conhecem esse fato.
Segundo o levantamento, 85% dos entrevistados estão dispostos a venderem seus dados ou gerarem alguma vantagem própria. Mas quem ganha e quem perde nesse contexto?
Alan Gomes, CTO e Co-founder da In Loco, reforça que a era dos dados ou big data não volta atrás. “Tenho um receio que esses dados sejam cruzados de um modo não responsável. Assim, nós perdemos a capacidade e a privacidade de existir”, comenta o executivo.
Vale a pena ceder dados?
Tecnologia e legislação podem estar unidos para minimizar os riscos da tendência da pós-privacidade? Para Anna Paula Gonçalves, Superintendente da Ouvidoria da MAPFRE, a preocupação com os dados disponibilizados deve existir por parte do consumidor e de quem recolhe essa informação.
“A lei com o qual vamos ter que lidar no futuro, vai dar a possibilidade de escolher se esses dados podem ou não ser vazados”, diz.
Francisco Virgilio, Head do Americas Innovation Lab da Altitude Software, aponta que a legislação, apesar de inovadora, requer cuidado para ser aplicada.
“Os dados estão em movimento. Eles se movimentam em todas as partes e de forma muito simples. Hoje, através da facilidade de armazenamento, isso dobra e triplica o armazenamento de dados. Até que ponto vai existir as leis que a gente conhece hoje?”
Francisco Virgilio,
Head do Americas Innovation Lab da Altitude Software
O sistema bancário e suas fragilidades estão presentes no cotidiano de trabalho de Luis Guilherme Bittencourt, Diretor de Atendimento do Santander. Para o executivo, expor os dados que o banco armazena de seu cliente é um esforço necessário.
“Com o app do Santander, o cliente consegue ver o que nós sabemos sobre ele. Isso não é um benefício, mas nada mais é do que uma evolução daquilo que ele nos dava e um retorno positivo para ele”, comenta.
Já para Celso Tonet, Diretor de Atendimento da Claro Brasil, o compartilhamento de dados pode trazer benefícios para a sociedade como um todo, desde que feito com cautela.
“Todo esse compartilhamento de dados pode trazer algum benefício para essa sociedade. O grande incentivo que enfrentamos é poder trabalhar melhor esse dado internamente, para que possamos ter uma personalização interna na realização do serviço”, completa.