O Carnaval é um dos momentos mais aguardados do ano no Brasil. Uma pesquisa realizada pelo Mercado Pago revelou que o celular se consolidou como um item essencial para os foliões durante as festas e desfiles, não apenas para registro de momentos, mas também como principal meio de pagamento.
De acordo com o levantamento, 78% dos foliões afirmaram que pretendem levar o celular para os blocos de rua e festas do Carnaval, um aumento significativo em relação aos 60% registrados em 2024. Desses, metade (50%) adotará medidas de segurança extra para proteger o dispositivo, reforçando a preocupação com furtos e roubos.
Além disso, o estudo aponta que 72% dos entrevistados utilizam o celular como meio de pagamento durante o período festivo, uma tendência impulsionada pela facilidade e rapidez das transações digitais. O Pix se destacou como o método favorito de 51% dos entrevistados, seguido pelo cartão de crédito por aproximação, com 28%. O uso do celular para pagamentos foi escolhido por 41% dos foliões devido à sua praticidade, enquanto 27% afirmaram que o principal fator para essa escolha é a segurança, evitando a necessidade de carregar dinheiro em espécie.
O estudo também levantou dados sobre o orçamento dos foliões durante o Carnaval. Em média, os brasileiros planejam gastar cerca de R$ 200 por dia nos blocos e festas. A pesquisa revelou ainda que 41% dos entrevistados afirmam se programar financeiramente para curtir a folia sem comprometer o orçamento.
Riscos de golpes
A segurança também é um ponto de atenção para os foliões. Segundo a pesquisa, 54% dos entrevistados sempre verificam os dados antes de confirmar um pagamento via celular. Além disso, 95% dos usuários relataram adotar algum cuidado especial ao realizar transações via aplicativos durante o Carnaval, evidenciando uma maior consciência sobre a proteção contra golpes e fraudes.
No entanto, enquanto os foliões aproveitam a festa, os golpistas também entram em cena para aplicar golpes e fraudes financeiros que podem transformar a diversão em dor de cabeça.
Como se prevenir no Carnaval?
Um dos primeiros cuidados a se ter durante o Carnaval é usar apenas maquininhas confiáveis. O indicado não é somente o consumidor inserir o cartão, mas sempre verificar o valor antes de confirmar a transação. Caso o visor da máquina esteja trincado, escuro, com adesivos suspeitos ou apresente falhas na leitura do cartão, vale desconfiar. Se algo parecer fora do normal, prefira outro método de pagamento.
Além disso, é recomendado evitar pagar por links desconhecidos. Muitos golpistas enviam links falsos se passando por vendedores de ingressos ou camarotes. Prefira pagamentos dentro de aplicativos oficiais. O mesmo com QRCodes, uma vez que fraudadores podem colocar códigos falsos em bares e eventos. Se possível, insira a chave Pix manualmente.
As notificações do banco também devem estar ativadas. Dessa forma, é possível acompanhar todas as transações em tempo real. É importante também ativar limites de valor e bloqueio de horários para Pix no aplicativo da instituição financeira. Algumas permitem configurar limites diários e restrições de horário. Assim, são evitadas transações suspeitas.
Quanto ao uso de celulares, é importante ativar a senha ou biometria. Em caso de furto, isso dificulta o acesso a apps bancários. É válido também evitar Wi-Fi público para transações financeiras. Redes abertas são vulneráveis a ataques. Se for vítima de um golpe, entre em contato com seu banco imediatamente e registre um boletim de ocorrência.
Preparativos para o Carnaval
Do outro lado da transação, bancos e instituições financeiras também se preparam para a alta de fraudes e golpes financeiros durante a temporada do Carnaval. De acordo com Fabiana Saens, diretora de Inteligência Antifraude no Mercado Livre e Mercado Pago, não basta apenas a estatística — é preciso combiná-la com tecnologia, como Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning, para aumentar a assertividade. Nesse “jogo de tabuleiro”, o desafio é garantir que bons usuários consigam realizar suas transações enquanto maus usuários são impedidos.
Além disso, a fraude está sempre em mudança. Os golpistas são profissionais e estão o tempo todo testando novas maneiras de burlar os sistemas. Por isso, é necessário que as áreas de prevenção estejam em constante adaptação.
“Por exemplo, nos fluxos de cartão de crédito, é comum começarmos com pequenas transações. Mas pode ser que o cliente decida comprar um carro com o cartão. O sistema pode recusar ou solicitar validações adicionais, como uma verificação facial para confirmar se é, de fato, o cliente realizando a compra”, explica.
Diante disso, as áreas de prevenção também realizam engenharia reversa e analisam incidentes anteriores para entender o que deu errado e como evitar problemas futuros. Nisso, entra o conceito de equilíbrio dinâmico.
“Se quisermos eliminar 100% das fraudes, precisaríamos recusar qualquer transação minimamente suspeita. Mas isso teria um enorme impacto negativo, tanto para as empresas quanto para a economia em geral. Por isso, o objetivo é encontrar o equilíbrio: aprovar o maior número possível de transações legítimas e minimizar o número de chargebacks (quando o usuário contesta a transação). Esse é o verdadeiro desafio das áreas de prevenção de fraudes”, relata.
Onde está o fraudador?
Trata-se de um jogo de esconde-esconde. Como identificar, dentro de padrões estatísticos e com o auxílio da tecnologia, onde está o fraudador e impedir que ele transacione ou prejudique outro usuário?
“Precisamos trabalhar em duas frentes: a prevenção realizada pelas instituições e educar o usuário para que ele não caia em golpes”, explica a executiva. Ela compara a dinâmica ao livro “Onde Está o Wally?”, no qual o leitor deve procurar pelo personagem em diferentes cenários. “O mais interessante dessa analogia é que, quando você encontra o Wally em uma página do livro, você vira para a próxima. E lá, ele já não está mais na praia — pode estar na montanha, com mais ou menos pessoas ao redor. O que isso significa? Que os fraudadores mudam o tempo todo. Por isso, precisamos ser capazes de encontrá-los em qualquer fluxo”, comenta.
Milissegundos entre o cliente passar o cartão e a transação ser aprovada são usados para uma série de análises. Nesse curto espaço de tempo, a solicitação passa pelo banco emissor do cartão, pela bandeira e pelo estabelecimento para o qual o consumidor está pagando. Todos avaliam a transação antes de aprová-la ou recusá-la. Às vezes, a transação pode ser recusada não por um problema com o cartão, mas porque o estabelecimento é considerado de risco.
Compartilhamento de dados
Essa análise em tempo real é ainda mais evidente em transações como o Pix. “Às vezes, bloqueamos uma transferência porque identificamos risco, mesmo que o valor esteja dentro do limite do usuário. Se houver suspeitas sobre o destinatário do Pix, bloqueamos a operação. Hoje em dia, temos muitos mecanismos de dados compartilhados, definidos pelo Banco Central, que nos ajudam nessas análises”, conta.
Um exemplo citado é a Resolução Conjunta nº 6 do Banco Central do Brasil (BCB), que exige que todas as instituições financeiras compartilhem dados sobre usuários identificados como fraudadores. Então, se o consumidor tentar abrir uma conta em outro banco, essa nova instituição pode verificar se ela está listada na Resolução 6 ou se há marcações no DICT (mecanismo específico para o Pix).
Essas informações são analisadas em tempo real, em milissegundos, para aprovar ou recusar uma transação. No passado, com DOC ou TED, havia mais tempo para avaliar e até cancelar uma transação antes de sua conclusão. Hoje, com o Pix, essa possibilidade praticamente não existe, porque tudo é instantâneo.
Além disso, a vantagem para os fraudadores em relação ao sistema financeiro é que qualquer brecha, por menor que seja, é suficiente para que eles causem um grande estrago e obtenham altos valores por meio de fraudes. Fabiana pontua que eles são extremamente organizados. Criam contas sabendo que perfis novos possuem um alto score de risco e maior chance de serem bloqueados. Além disso, movimentam pequenas quantias para dar a impressão de que a conta é legítima antes de usá-la em fraudes maiores. Em muitos casos, o dinheiro passa por várias contas. Eles também pulverizam os valores para dificultar o rastreamento, mesmo quando o montante total não é tão alto.
Mecanismos de defesa
“Nossa vantagem, por outro lado, está nos mecanismos robustos de defesa. O desafio é fazer isso o tempo todo, especialmente em um país como o Brasil, que está entre os que mais sofrem com fraudes no mundo”, reforça. “Não podemos apenas reagir após uma fraude ocorrer; precisamos nos antecipar. Nisso, entram as análises preditivas. Trabalhamos com escalabilidade. Imagine o volume de transações durante o Carnaval, por exemplo. É impossível revisar tudo manualmente. Por isso, usamos tecnologia que, em milissegundos, consegue identificar quais transações são boas ou ruins”.
Essas informações alimentam modelos de Machine Learning que analisam milhares de variáveis em milissegundos. Se uma fraude passa despercebida e é marcada como erro posteriormente, o sistema aprende automaticamente e reduz as chances de errar novamente. Esse processo de aprendizado contínuo é essencial.
As redes neurais — modelos de IA baseados em Machine Learning — são treinadas com esses dados para diferenciar transações boas de ruins. Elas detectam sinais sutis, e aumentam significativamente a precisão da detecção de fraudes. Essas variáveis podem incluir o histórico de compras do usuário, o endereço de entrega de um produto, o comportamento típico do cartão de crédito usado e até a velocidade da transação.
“Hoje em dia, conseguimos identificar o dispositivo que você está usando para pagar. Sabemos qual é o device que você normalmente utiliza em suas transações, e quando isso muda, conseguimos atribuir um nível de risco ou até mesmo solicitar uma reautenticação do usuário”, explica.
Prevenção via tecnologia
Atualmente, muitas transações pedem autenticação via biometria facial no celular para garantir ser o verdadeiro dono quem está realizando a operação. Algumas instituições financeiras mais tradicionais exigem, inclusive, que o usuário vá presencialmente até uma agência ou a um caixa eletrônico para realizar essa autenticação.
“A melhor forma de prevenir crimes online é utilizando tecnologia, com muitas variáveis, que são mais precisas do que análises de uma pessoa, que estão mais sujeitas a erros”, finaliza.