O setor de saúde contabilizou 51.030.366 usuários em planos de saúde médica. No que tange aos planos de assistência exclusivamente odontológica, o número de beneficiários é de 33.483.799. Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), referentes ao mês de junho de 2024.

Segundo a Sala de Situação, ferramenta de consulta disponível no portal da ANS, nos planos médico-hospitalares, houve um aumento de 743.137 beneficiários em comparação a junho de 2023. Na comparação com maio de 2024, o crescimento foi de 75.808 usuários. Já nos planos exclusivamente odontológicos, foram somados 2.432.916 beneficiários ao longo de um ano, e 221.539 na comparação entre junho e o mês anterior.

Na análise dos dados por gênero, nota-se que o público feminino é predominante em ambas as categorias, representando 53% nos planos com cobertura médico-hospitalar e 51% nos planos com cobertura odontológica.

Análise por faixa etária

Na análise por faixa etária realizada em junho de 2024, observa-se que a faixa de 40 a 44 anos foi a que apresentou o maior número de beneficiários em planos de assistência médica, totalizando 4.993.126 novos beneficiários. Em seguida, encontra-se a faixa etária de 35 a 39 anos, com 4.981.595 novos beneficiários. No que diz respeito aos planos odontológicos, as faixas etárias com o maior número de usuários em junho de 2024 foram a de 35 a 39 anos, que teve um aumento de 3.675.381 beneficiários, e a de 40 a 44 anos, com um acréscimo de 3.633.901 beneficiários.

Em relação aos estados, ao comparar com junho de 2023, o setor registrou um aumento no número de beneficiários em planos de assistência médica em 26 unidades federativas, destacando-se Minas Gerais, São Paulo e Ceará, que apresentaram os maiores ganhos em números absolutos. Para os planos odontológicos, todas as 24 unidades federativas mostraram crescimento ano a ano, com São Paulo, Minas Gerais e Paraná liderando em termos de aumento absoluto.

Visão Geral do 1º Semestre de 2024

Na comparação entre dezembro de 2023 e junho de 2024, que corresponde ao 1º semestre de 2024, o setor registrou um crescimento de 202.250 beneficiários em planos de assistência médica e de 1.012.736 em planos exclusivamente odontológicos. Ao analisar os dados por gênero, notou-se um aumento de 71.493 beneficiárias e 130.757 beneficiários em planos de assistência médica em todo o Brasil. Nos planos odontológicos, o crescimento foi de 549.386 beneficiários do sexo feminino e 463.350 do sexo masculino, em nível nacional. 

Em relação à faixa etária, a categoria de 45 a 49 anos foi a que teve o maior aumento em assistência médica, com 99.938 novos beneficiários, seguida pela faixa de 10 a 14 anos, que registrou 44.697 novos beneficiários. Já nos planos odontológicos, a faixa etária com o maior crescimento foi a de 65 a 69 anos, com um aumento de 191.897 beneficiários, seguida pela faixa de 70 a 74 anos, que somou mais 188.885 beneficiários. 

É importante ressaltar que os números podem sofrer alterações retroativas devido às revisões realizadas mensalmente pelas operadoras.      

Análise do cenário

Fernando Bianchi, sócio do M3BS Advogados, ao apresentar sua uma opinião crítica sobre os principais pontos do estudo, destacou que um dos principais dados é que, entre 2019 e 2023, o número de beneficiários de planos médico-hospitalares aumentou 7,4%, passando de 47,0 milhões para 50,5 milhões. “Esse crescimento é particularmente relevante para as operadoras, pois indica uma recuperação robusta após as quedas registradas entre 2014 e 2020”.

Ademais, mantendo o olhar voltado para a defesa dos interesses das operadoras de planos de saúde, o especialista em Direito da Saúde Suplementar, argumenta que a faixa etária acima de 60 anos apresentou um crescimento de 12,5%, refletindo o envelhecimento populacional e a crescente preocupação com a saúde na terceira idade.

“Portanto, o aumento na adesão de beneficiários, especialmente na faixa etária mais avançada, representa tanto uma oportunidade quanto um desafio. Se, por um lado, há um incremento na base de clientes, por outro, há uma pressão maior sobre os custos operacionais devido à maior demanda por serviços de saúde complexos e custosos. As operadoras devem, portanto, revisar suas políticas de precificação e gestão de risco para assegurar a sustentabilidade financeira”.

Como o volume de procedimentos assistenciais aumentou significativamente, Fernando Bianchi pontua que isso se dá devido ao aumentos em consultas médicas. Ademais, outros atendimentos ambulatoriais, exames complementares e terapias também contribuem para o montante de 1,7 bilhão de procedimentos em 2023. Em outras palavras, um crescimento de 7,5% em relação ao ano anterior.

Recuperação pós-pandemia

O crescimento na produção assistencial é indicativo de uma recuperação pós-pandemia e de uma demanda reprimida que está sendo atendida. O conselho de Fernando, para as operadoras, é continuar investindo em infraestrutura e tecnologias que permitam a otimização de processos e a redução de custos. Só para exemplificar, ele cita a telemedicina e a digitalização de prontuários. “Ademais, é essencial a implementação de programas de prevenção e promoção da saúde para reduzir a necessidade de procedimentos de alta complexidade”.

No que tange aos obstáculos, há necessidade de adaptação às mudanças demográficas e ao aumento da longevidade da população. “Nesse ínterim, os planos de saúde devem focar em estratégias que promovam a saúde preventiva e a gestão de doenças crônicas. A utilização de Big Data e Inteligência Artificial pode fornecer insights valiosos para a personalização do atendimento e a identificação precoce de problemas de saúde. Além disso, é crucial fortalecer as parcerias com prestadores de serviços de saúde para garantir a qualidade e a continuidade do atendimento”.

Como advogado empresarial defensor das operadoras de planos de saúde, ele salienta, por fim a importância de um planejamento estratégico robusto, a adoção de tecnologias emergentes e a promoção de um ambiente regulatório favorável. “A colaboração entre operadoras, prestadores de serviços e reguladores será vital para assegurar a sustentabilidade e a qualidade do setor de saúde suplementar no Brasil”.

Autogestões em saúde

Por sua vez, a Amanda Bassan Alves, gerente executiva da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), salienta que enquanto o setor de saúde suplementar experimentou um crescimento de 7,4% no número de vidas entre 2019 e 2023, o sistema de autogestões registrou uma tendência inversa. Na prática, o setor experimentou uma redução de 11,9% no número de beneficiários. Assim, ele passou de 4.459.391 em dezembro de 2019 para 3.928.099 em dezembro de 2023.

“Entretanto, apesar dessa queda no número de beneficiários nas autogestões, as despesas assistenciais aumentaram 13,7% no mesmo período. Este é um reflexo de uma tendência maior no setor. Ou seja, o segmento viu um aumento de 40,1% nas despesas assistenciais, passando de R$ 184,40 bilhões em 2019 para R$ 258,34 bilhões em 2023”.

Ameaça ao setor

Assim, analisando o Mapa Assistencial da Saúde Suplementar, Amanda observa que as autogestões apresentam os maiores índices de utilização por beneficiário. Analogamente, isso se dá em todos os agrupamentos: consultas médicas, outros atendimentos ambulatoriais, exames, terapias e internações. O único índice menor está em procedimentos odontológicos. Este cenário se deve, em grande parte, à composição da população das autogestões, que conta com cerca de 30% de idosos. Essa faixa etária consome mais recursos devido a condições crônicas, que são mais prevalentes entre eles.

Segundo ela, o principal desafio é equilibrar a crescente produção assistencial e o aumento das despesas assistenciais em proporção ao número de novos beneficiários. Especialmente considerando que o maior crescimento tem ocorrido na última faixa etária, de 60 anos ou mais. “Se essa tendência de aumento continuar de forma desproporcional enfrentaremos planos de saúde cada vez mais caros. Por consequência, a sustentabilidade da saúde suplementar estará ameaçada. É crucial implementar estratégias que possam conter esses custos sem comprometer a qualidade dos serviços prestados”.