O motor de renovação social e mensagem de futuro está ligeiramente fragilizado no Brasil. Os millennials e a Geração Z, que são os jovens adultos com certa escolaridade e poder de consumo, estão mais estressados, ansiosos e preocupados com o desemprego. O presente que se apresenta diante de todos, para eles, traz incertezas sobre o futuro financeiro no longo prazo, por conseguinte do bem-estar familiar e das perspectivas de emprego, conforme aponta a última edição do estudo anual global Millennials e Geração Z, da Deloitte, feita com 22.928 entrevistados, de 45 países.
No retrato sobre como essas gerações se situam nos tempos atuais e se problematizam, os resultados da pesquisa mostram o quanto os jovens millenials e da Geração Z do Brasil se sentem socialmente responsáveis e o que esperam das organizações em relação às mudanças vistas como necessárias e iminentes.
Desemprego, aliás, é a maior das preocupações de ambas as gerações no Brasil, enquanto os millennials se preocupam com saúde e segurança depois do emprego e a Geração Z se atenta para segurança e em terceiro lugar para a saúde.
Sobre os afetos, millennials e Geração Z brasileiros apresentam um alto nível de estresse e ansiedade, preocupação com o desemprego, com racismo sistêmico, com os efeitos agora e no futuro, com o papel das empresas, com a economia, a política e o clima.
“Vemos essas gerações com mais envolvimento nas questões públicas, alinhamento de gastos, nas escolhas de carreira que reflitam seus valores e com o objetivo de trazer mudanças em questões sociais que consideram mais importantes. Elas trazem uma maneira de pensar e agir diferentes, mas os valores permanecem firmes, sustentando seus idealismos e o papel de que as empresas têm o dever de fazer mais para ajudar a sociedade. O momento é ideal para as organizações e instituições se adaptarem e se transformarem para atender a essas necessidades”, comenta sócio líder de talentos da Deloitte, Marcos Olliver.
Preocupações com dinheiro, bem-estar e trabalho
Mais da metade dos pesquisados tanto dos millennials quanto da Geração Z disseram que se sentem estressados na maior parte do tempo, sobretudo por conta das incertezas do futuro financeiro de longo prazo, do bem-estar familiar e das perspectivas de emprego. Enquanto a questão financeira pega mais para os millennials, a Geração Z se estressa mais com empregos/carreira e o futuro financeiro.
Sendo assim, a dobradinha estresse e ansiedade aparece no local de trabalho, e os esforços dos empregadores pela saúde mental são vistos como insuficientes. Mais da metade dos millennials no Brasil se sente desconfortável para tratar do estresse ocasionado pela pandemia com empregadores, ainda que mostre um pouco mais de abertura em comparação com a média global. Mesmo assim, estes jovens entendem que seus empregadores ainda podem fazer pelo bem-estar mental dos funcionários durante a pandemia.
Segundo a pesquisa, os millennials se sentem menos amparados por seus empregadores do que a geração Z se sente no Brasil.
Por isso, assim como empresas esperam flexibilidade e adaptabilidade dos empregados com seus discursos sobre “resiliência” e “inteligência emocional”, o jovem espera uma reciprocidade neste campo, sendo essas características apontadas por todos como fator mais importante para o sucesso das empresas. “Promover conexões de trabalho mais abertas e inclusivas em que as pessoas se sintam confortáveis falando sobre estresse, ansiedade ou outros desafios de saúde mental que estão enfrentando, é fundamental. Atualmente se tornou mais importante a criação de um local de trabalho que apoie o bem-estar dos funcionários.”, afirma Marcos Olliver.
Pautas ESG
Para quase metade dos pesquisados de ambas as gerações, no Brasil, mais pessoas se comprometerão a tomar medidas sobre questões ambientais após a pandemia. Mais de dois terços dos pesquisados entendem que as mudanças climáticas identificadas durante a pandemia os tornaram mais otimistas em relação à reversão da situação dessas mudanças climáticas no futuro.
Sobre desigualdade, os jovens pensam que a defensa dos interesses próprios das empresas e das pessoas em melhor situação são fonte de desigualdade social (para 39% dos millennials e 41% da geração Z). Mais de três quartos dos millennials e da geração Z entendem que a riqueza e a renda estão desigualmente distribuídas.
Assim como a desigualdade, a discriminação também é generalizada no País. Pelo menos um em cada cinco entrevistados se sente pessoalmente discriminado “o tempo todo” ou “frequentemente”, devido às aparências que revelam suas origens. De acordo com a pesquisa, no Brasil, millennials e Geração Z são mais propensas do que a média global a se sentirem pessoalmente discriminadas pelo governo, empresas e mídias sociais. No País, 85% da Geração Z e 72% dos millennials creem que o racismo estrutural é difundido na sociedade.
Esses jovens acreditam que estamos momento crucial na luta contra a discriminação e que governo, sistema jurídico e empresas estão deixando a desejar nestes esforços. E estes jovens podem fazer tal crítica: em termos de ação, comparados com a média global, os millennials e a Geração Z são mais propensos em doar recursos educacionais para instituições de caridade que trabalham para melhorar as oportunidades para grupos de baixa renda.
Crença nas empresas, economia e política
A visão sobre impacto social dos negócios tem certa descrença. A maioria dos respondentes millennials e da Geração Z no Brasil concorda que as empresas “se concentram apenas em suas próprias agendas” (76% e 81%, respectivamente) e “não têm ambições além de querer ganhar dinheiro” (65% e 66%). Mas ainda assim, em comparação com 2020, a pesquisa aponta que algumas percepções negativas declinaram, com o foco na própria agenda passando de 78% para os millennials para 76% em 2021, e nenhuma ambição além de lucrar passando de 69% para 65%, respectivamente, para ambas gerações.
“Ao longo dos anos, o estudo global tem mostrado consistentemente que os millennials e a geração Z são direcionados por valores e ações e, agora, eles estão responsabilizando a si próprios e às empresas. Mesmo durante um ano difícil de pandemia (e talvez motivados por ela), eles continuam a pressionar por mudanças sociais positivas. As empresas que compartilham sua visão e os apoiam em seus esforços para criar um futuro melhor, ganharão destaque”, declara Marcos Olliver.
Os millennials e a geração Z do Brasil, por outro lado, estão menos otimistas quanto à melhora da situação econômica e sociopolítica geral desde os últimos dois anos, ainda que sejam mais otimistas do que os jovens do resto do mundo.
Efeitos da pandemia e esperanças
Para os millennials e a Geração Z no Brasil, a pandemia tem motivado ações positivas para melhorar suas vidas, trazendo novas questões pessoais e espírito de coletividade. Na comparação global, os jovens brasileiros estão menos propensos a concordar que agora há um forte sentimento de que todos ao redor do mundo estão “juntos nessa”.
Ambas as gerações no Brasil também pensam que as pessoas darão mais importância à saúde no pós-pandemia, que a sociedade está pronta para lidar com futuras pandemias e que as pessoas estarão comprometidas em tomar medidas pessoais para questões ambientais e climáticas. A maioria, de ambas as gerações, aderiu ao uso de máscaras e evita lojas, transportes públicos ou outros lugares lotados.
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