A chegada da solução da Inteligência Artificial (IA) generativa da chinesa DeepSeek pegou o mercado de tecnologia de surpresa. Apresentada como uma alternativa acessível e de alto desempenho, a nova plataforma desafiou gigantes como OpenAI, Google e Anthropic ao oferecer um modelo mais econômico. Seu surgimento reacendeu debates sobre a democratização da IA, o impacto nos custos de infraestrutura e a crescente diversificação de players no setor.
Mas será que o DeepSeek tem fôlego para competir com os líderes do mercado? E como sua proposta pode transformar a dinâmica da inteligência artificial nos próximos anos?
De acordo com Juliano Kimura, CEO da Trianons, essa infraestrutura de custo significativamente mais baixo em comparação com as opções atuais, com a promessa de entregar um desempenho igual ou superior, é a principal vantagem do DeepSeek. Embora a plataforma ainda não conte com todos os recursos avançados oferecidos por concorrentes como o ChatGPT Plus, a tendência é que novas funcionalidades sejam adicionadas com o tempo. “O impacto mais significativo recai sobre os custos de processamento e infraestrutura”, pontua.
Modelo de negócio
Ao mesmo tempo, o modelo de negócios do DeepSeek pode gerar impacto direto nas principais empresas do setor, especialmente no que diz respeito aos custos de infraestrutura.
“Assim como outras plataformas, o DeepSeek possui versões gratuitas e de código aberto. A maior crítica à OpenAI, por exemplo, é a falta de total transparência em seus modelos. No entanto, o ChatGPT pago ainda oferece recursos que o DeepSeek não possui, como leitura de imagens, vídeos e videoconferência”, explica.
Além disso, o modelo da DeepSeek promete operar com menor dependência de processadores avançados e caros, o que poderia democratizar o acesso à tecnologia de IA. No entanto, ainda há incertezas sobre a real eficiência desse modelo.
“A principal promessa do DeepSeek é operar com menor necessidade de processadores avançados e caros, reduzindo custos sem comprometer a performance da IA. No entanto, ainda há dúvidas sobre a viabilidade e a real eficiência dessa abordagem”, pondera.
Competição como motor da evolução
O especialista reforça ainda que a competição é essencial. Enquanto algumas regiões focam em debates sobre ética e regulamentação, outras priorizam o fomento e o desenvolvimento tecnológico. Esse posicionamento definirá quais países e empresas liderarão a revolução da IA e quais precisarão apenas se adaptar às mudanças.
A Inteligência Artificial (IA) avançou em ritmo acelerado em 2023, com a indústria assumindo um papel dominante no desenvolvimento de novos modelos. Segundo o Relatório AI Index da Universidade de Stanford, a indústria foi responsável pela produção de 51 modelos notáveis de aprendizado de máquina, enquanto a academia contribuiu com apenas 15. Além disso, um recorde de 21 modelos resultou da colaboração entre a academia e o setor privado.
O desenvolvimento de modelos avançados de IA exigiu investimentos financeiros sem precedentes. De acordo com estimativas do AI Index, o treinamento do GPT-4, da OpenAI, custou cerca de US$ 78 milhões, enquanto o Gemini Ultra, do Google, demandou US$ 191 milhões em computação. Os Estados Unidos seguem liderando a corrida da IA, com 61 modelos notáveis originados no país em 2023, superando em larga escala 21 modelos da União Europeia e 15 da China.
O estudo também aponta para a falta de padronização na avaliação da IA responsável. Empresas como OpenAI, Google e Anthropic utilizam diferentes benchmarks para testar seus modelos, dificultando comparações sobre riscos e limitações. Paralelamente, o número de regulamentações de IA nos Estados Unidos cresceu significativamente, passando de apenas uma em 2016 para 25 em 2023 – um aumento de 56,3% em um ano.
Apesar de uma queda no investimento privado geral em IA, o segmento de IA generativa teve um crescimento expressivo. O financiamento para esse setor aumentou quase oito vezes de 2022 para 2023, atingindo US$ 25,2 bilhões. Empresas como OpenAI, Anthropic, Hugging Face e Inflection foram algumas das principais beneficiadas com rodadas substanciais de arrecadação de fundos.
“A competição crescente deve acelerar ainda mais os investimentos na indústria de IA“, aponta Juliano Kimura. “Isso resultará em impactos significativos tanto para as empresas quanto para os usuários finais, trazendo novas possibilidades tecnológicas, mas também novos desafios sociais que precisarão ser endereçados.”
Impacto da IA no mercado de trabalho
Estudos analisados no relatório sugerem que a IA está aumentando a produtividade, permitindo que trabalhadores concluam tarefas mais rapidamente e melhorem a qualidade do trabalho. Além disso, a tecnologia pode reduzir a lacuna de habilidades entre profissionais com diferentes níveis de qualificação. No entanto, pesquisadores alertam que o uso da IA sem supervisão pode, em alguns casos, levar à diminuição do desempenho.
A Inteligência Artificial também desempenhou um papel crucial na descoberta científica em 2023. Entre os destaques estão o AlphaDev, que otimiza a classificação algorítmica, e o GNoME, que facilita a descoberta de novos materiais.
O relatório também destaca mudanças na percepção pública em relação à IA. Uma pesquisa da Ipsos revelou que 66% das pessoas acreditam que a IA afetará drasticamente suas vidas nos próximos três a cinco anos, contra 60% no ano anterior. Já 52% dos entrevistados disseram sentir nervosismo em relação a produtos e serviços baseados em IA, um aumento de 13 pontos percentuais em relação a 2022.
Nos Estados Unidos, dados da Pew Research mostram que 52% dos americanos se sentem mais preocupados do que animados com a IA, um salto significativo em relação aos 38% de 2022.
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