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Como a DeepSeek está pavimentando um novo cenário de IA

Como a DeepSeek está pavimentando um novo cenário de IA

A nova IA do momento, a chinesa DeepSeek-R1, mostra que a tecnologia pode ser desenvolvida a um custo muito menor. O que isso muda na corrida da IA?

A DeepSeek é uma empresa chinesa de Inteligência Artificial (IA) fundada em 2023 por Liang Wenfeng. A empresa ganhou destaque ao desenvolver modelos de linguagem de grande escala comparáveis aos da OpenAI, dona do ChatGPT. A empresa lançou, recentemente, o modelo open-source DeepSeek-R1, o que a fez alcançar o topo das listas de downloads nas lojas da Apple nos Estados Unidos e na China. Para se ter uma ideia, o custo total de desenvolvimento do modelo foi de US$ 5,576 milhões. Isso é importante porque o valor é pequeno quando comparado aos outros modelos de LLM.

Até então, a criação de uma plataforma de IA era vista como algo extremamente caro. O motivo é o custo dos chips, essenciais para a alta demanda de processamento de dados da tecnologia. Porém, a DeepSeek utilizou chips menos avançados — componentes simples de videogames — para desenvolver sua IA, já que a NVIDIA, o principal nome do ramo e avaliada como a empresa mais valiosa do mundo, não fornece seus chips de última geração para o mercado chinês, após restrição imposta pelo governo de Joe Biden, dos Estados Unidos.

O lançamento refletiu em outras empresas, que viram suas ações caírem. A NVIDIA, por exemplo, teve uma perda de US$ 600 bilhões em valor de mercado. Na segunda-feira, 27/1, o índice Nasdaq, focado em empresas de tecnologia, fechou com queda de 3,07%, enquanto o S&P registrou perdas de 1,46%. Ao todo, o Nasdaq viu seu valor de marcado cair cerca de US$ 1 trilhão.

A novidade veio num momento estratégico: após o banimento do TikTok dos Estados Unidos e o subsequente adiamento da decisão, a adoção do app de vídeos chinês Red Note como substituto, e ainda a restrição de vendas de chips de IA, como os da NVIDIA, para países como Rússia e China.

O resultado é que a chegada da nova plataforma gerou debates sobre o futuro da liderança dos Estados Unidos na corrida da Inteligência Artificial. Afinal, quão longe essa nova empresa pode ir? Com esse modelo acessível, pode ser o começo de uma nova era da IA? E, claro, a pergunta que sempre fazemos quando se trata de Inteligência Artificial: o que virá a seguir?

Por dentro da DeepSeek

Para utilizar a DeepSeek-R1, é preciso fazer o download do app da startup no smartphone ou no PC/notebook. Também é possível utilizar a solução por meio do Perplexity Pro. Diferentemente de outras ferramentas de IA, como o próprio ChatGPT, o modelo chinês é gratuito. Um ponto de atenção: DeepSeek-R1 é um modelo de código aberto, ao contrário do ChatGPT. Ou seja, qualquer pessoa pode examinar, modificar e adaptar o modelo às suas necessidades.

Para iniciar o uso da ferramenta, é necessária a criação de uma conta. No site ou no aplicativo, a interface se assemelha com seu rival da OpenAI. Além disso, o uso da plataforma é simples e intuitivo. A ferramenta tem ainda o botão “DeepThink“, com a função de ativar um modo de análise mais detalhada e aprofundada para respostas complexas. Havia especulações de que a nova plataforma de IA poderia ser usada de forma offline por meio de ferramentas de terceiros. Durante o teste da Consumidor Moderno, o próprio aplicativo da DeepSeek não forneceu respostas quando a rede do celular estava desligada.

O DeepSeek pode ser considerado uma alternativa gratuita ao ChatGPT, mas com algumas diferenças importantes. Embora já existam opções gratuitas como ChatGPT (a versão básica), Claude, Gemini e a IA da Meta, o diferencial do DeepSeek está no desempenho de seu modelo R1, que rivaliza com o modelo mais avançado da OpenAI (o GPT-4), sem custos de assinatura. Isso desafia diretamente a estratégia da OpenAI de monetizar seu chatbots. Porém, quando foi solicitada uma geração de imagem, a DeepSeek sugeriu adquirir um plano pago. No ChatGPT essa funcionalidade é disponibilizada também para os usuários que usam a plataforma gratuitamente, assim como no Copilot.

Ao mesmo tempo, o DeepSeek carece de algumas funcionalidades importantes que já estão disponíveis no ChatGPT, como o recurso de memória para lembrar detalhes de conversas anteriores e o Advanced Voice Mode, que permite interações por voz. Apesar disso, a startup promete expandir suas funcionalidades com novos recursos multimodais no futuro.

Em resumo, a DeepSeek atua como uma ferramenta de pesquisa em tempo real, capaz de acessar e extrair dados diretamente da internet. Enquanto isso, o ChatGPT funciona como um modelo de conversação e criação de conteúdo, mais focado em oferecer respostas ou criar textos com base em seu conhecimento prévio.

CM Testa

Imagine a seguinte cena: você está em uma sala com quatro especialistas. Cada um deles tem uma bagagem profissional e/ou acadêmica, e você direciona a ambos a mesma pergunta. Por ser um assunto em que poderia haver um consenso, ou uma pauta que esteja em alta, talvez sua expectativa fosse que as respostas fossem semelhantes. Porém, mesmo que o tema seja o mesmo, você ouve respostas que, embora relacionadas, seguem caminhos distintos. Foi essa experiência que a Consumidor Moderno teve ao testar quatro diferentes plataformas de Inteligência Artificial (IA) disponíveis no mercado.

Para o teste, foram escolhidas as ferramentas ChatGPT, da OpenAI; Copilot, da Microsoft; Gemini, do Google; e, por último, a nova do mercado, a DeepSeek. A mesma pergunta foi feita por texto a cada uma delas: “Trabalho para uma revista focada em consumo e varejo. Preciso falar sobre as cinco principais tendências para varejistas no Brasil em 2025. Quais tendências devo apontar?”. Embora cada ferramenta tenha abordado temas comuns, como sustentabilidade, omnicanalidade e IA, as diferenças na profundidade, estilo e foco das respostas mostram particularidades no tratamento das informações por cada uma.

A resposta das plataformas

Enquanto o ChatGPT forneceu uma resposta estruturada com tópicos detalhados, explorando exemplos práticos como “QR Codes para compra imediata” e “lojas físicas como hubs de experiência”, o Copilot oferece um resumo mais direto e sucinto. O DeepSeek, por sua vez, teve um tom analítico, focou na transformação digital e no papel das fintechs no varejo.

Lojas físicas devem se reinventar para se tornarem espaços de experiência, e não apenas pontos de venda. Conceitos como lojas-conceito, pop-up stores e espaços com realidade aumentada (AR) ou virtual (VR) ganharão destaque. A integração de tecnologia, como espelhos inteligentes e provadores virtuais, também deve crescer, especialmente no varejo de moda e beleza“, aponta a DeepSeek.

Já o Gemini expande a discussão ao incluir, além de abordar conceitos de maneira mais técnica, conforme imagem abaixo:

Resposta do Gemini, IA do Google | Reprodução.

Embora todas tenham mencionado o papel da Inteligência Artificial no varejo, há diferenças na abordagem. O ChatGPT explora exemplos práticos como “recomendações hiperpersonalizadas” e “chatbots avançados“. Gemini amplia a perspectiva, incluindo tópicos como personalização de preços em tempo real: “A IA permitirá ajustar os preços dos produtos em tempo real, considerando fatores como a demanda, o comportamento do consumidor e a concorrência”.

Já o DeepSeek adota um tom mais genérico, destacando a análise preditiva e as ferramentas de recomendação como os principais impulsionadores, enquanto o Copilot tem uma resposta semelhante à do GPT.

Resposta da DeepSeek-R1 | Reprodução.

O tema de novos formatos de pagamento foi tratado por três plataformas. O ChatGPT destaca o Pix parcelado e o Drex (real digital). O Gemini menciona pagamentos biométricos e criptomoedas, enquanto DeepSeek adota uma abordagem mais prática, enfatizando carteiras digitais e parcerias com fintechs. O Copilot foi a única plataforma a não citar esse ponto em suas recomendações. Ao mesmo tempo, a IA da Microsoft foi a única a trazer privacidade e cibersegurança como tendências centrais, além de destacar a necessidade de regulamentações éticas no uso de dados.

“Com o aumento da coleta de dados para personalização das experiências de compra, os varejistas precisarão garantir que estão protegendo as informações dos consumidores de maneira ética e segura. Regulamentações mais rigorosas sobre privacidade devem surgir, exigindo maior transparência e responsabilidade no uso dos dado”, sugere o Copilot.

Por que as respostas divergem?

As diferenças nas respostas dependem da forma como cada IA é treinada e projetada. Inteligências Artificiais são alimentadas por bases de dados diversas, com modelos de aprendizado adaptados a objetivos distintos. Algumas plataformas priorizam informações mais recentes e específicas, enquanto outras podem se basear em dados amplos e genéricos.

Há IA que se concentra em linguagem técnica tende a atender profissionais especializados, enquanto outras são treinadas para um público geral. Além disso, ela está de olho em tudo que você já solicitou a ela, e isso pode direcionar as respostas dadas. Vale pontuar também que cada IA tem diferentes filtros para os mais diversos temas. Assim, podem ocorrer variações nas respostas.

Sendo assim, é importante ressaltar que o usuário tem um papel fundamental na formulação das perguntas – além da escolha adequada das ferramentas usadas. Assim, é possível ter um retorno mais completo da IA, com mais clareza. Ao mesmo tempo, a diversidade das respostas traz um alerta: não podemos seguir cegamente tudo o que uma Inteligência Artificial diz. Em um mundo de instabilidade e múltiplas plataformas, o papel do olhar humano crítico nunca foi tão importante.

O que vem por aí?

A criação de plataformas como a DeepSeek deixa evidente o ritmo acelerado da inovação no campo da Inteligência Artificial. Sendo assim – e com a possibilidade de lançar modelos com menores custos, como é o caso da novata –, os próximos anos (senão meses) podem trazer uma corrida pela liderança nesse setor, e promete ainda mais. O esperado é que haja maior integração entre IA e setores como saúde, educação e sustentabilidade, além do desenvolvimento de modelos mais éticos e inclusivos, capazes de refletir a diversidade cultural e social global.

Além disso, o surgimento de novas regulamentações e o debate ético sobre o uso da IA devem ganhar destaque, à medida que governos e empresas buscam equilibrar inovação com segurança e privacidade. Tecnologias como IA generativa, sistemas de aprendizado autônomo e Inteligência Artificial integrada à internet das coisas (IoT) devem moldar as interações humanas e o futuro das empresas. A corrida da IA está no começo, e plataformas como a DeepSeek demonstram que o potencial para transformar indústrias e a sociedade é ilimitado – basta que seja usado com responsabilidade e propósito.

*Foto: Koshiro K / Shutterstock.com

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