Quando o assunto é gestão de crédito, sabemos que o tema é complicado. Afinal, o tema, hoje, demanda uma análise cuidadosa das tendências econômicas, sociais e tecnológicas. Isso sem contar a evolução das regulamentações, a digitalização dos serviços financeiros e a crescente importância da educação financeira como fatores críticos que desafiam todos que trabalham na área.
A regulamentação do crédito, por sua vez, está em constante evolução. O Banco Central do Brasil, por exemplo, tem implementado medidas para aumentar a transparência e a concorrência no mercado de crédito. O Open Finance, por exemplo, envolve a criação de um ambiente mais regulado para fintechs e novas instituições financeiras, e têm o potencial de desafiar os bancos tradicionais e oferecer melhores condições para os consumidores.
Agora, pensemos o seguinte: se esses obstáculos já permeiam o presente, o que virá para o futuro? É justamente para responder essa pergunta e fechar a primeira edição do Seminário Credit & Collection Experience (CCX) com chave de ouro que o Grupo Padrão e a Consumidor Moderno reuniram, no último painel do dia, Bruno Vieira, CEO de Ativos do Banco do Brasil; Silvia Moraes, vice-presidente administrativa da Embracon; Fabio Shibuya, VP de Crédito e Collection da Recarga Pay; e Alcimere Noventa, diretora de Crédito e Cobrança da MPA Gestão.
Futuro do crédito
Nas palavras de Alcimere, mediadora da atividade “O futuro da gestão do crédito no Brasil”, a digitalização tem sido um fator chave, permitindo uma análise mais rápida e precisa do perfil de risco dos consumidores. Entre as inovações discutidas, o uso de Inteligência Artificial e Machine Learning se destacou, pois essas ferramentas permitem prever comportamentos de pagamento com maior eficácia. Ademais, o painel enfatizou que, além da tecnologia, a transparência e a comunicação efetiva com clientes são fundamentais para construir relacionamentos de confiança.
A regulamentação também foi um tópico relevante, vez que os especialistas discutiram como as novas leis afetam a concessão de crédito e a recuperação de dívidas. E ficou claro que estar em conformidade com as normas é essencial para evitar penalidades e garantir a segurança das operações financeiras.
Bruno Vieira, por exemplo, citou o quanto a Inteligência Artificial vem ajudando o Banco do Brasil no que tange à automação de processos. Ele comentou que através da análise preditiva, é possível identificar padrões de comportamento que anteveem dificuldades financeiras dos consumidores, permitindo uma atuação de maneira proativa.
Segmentação em prol do crédito
Por sua vez, Fabio Shibuya, VP de Crédito e Collection da Recarga Pay, falou da importância da segmentação de clientes com base em seu histórico de crédito, transações financeiras e interações com a empresa. “Através de todo um histórico de dados, é viável criar estratégias personalizadas para gerenciamento de risco. Essas práticas não apenas minimizam a probabilidade de inadimplência, mas também favorecem a inclusão financeira, ao oferecer alternativas viáveis a clientes em situações delicadas”.
Fabio contou que, no próprio aplicativo, antes de o cliente deixar de pagar, é possível observar uma mudança no seu comportamento, como a diminuição na frequência de uso das funcionalidades principais. “A IA nos deu inputs que antes não eram consideradas, como por exemplo, a pré-inadimplência. Antes de o cliente deixar de pagar, o comportamento do cliente muda dentro do app”, disse, afirmando que identificar essas alterações é crucial. “Ao monitorar o comportamento dos usuários, é possível agir de forma proativa, oferecendo suporte ou incentivos para tomada de crédito consciente“.
Na mesma linha de pensamento, discursou Silvia Moraes, da Embracon, que garante: “a IA analisa grandes volumes de dados em tempo real, permitindo que as empresas identifiquem padrões de comportamento do consumidor. Isso significa decisões mais informadas e estratégias mais eficazes”.
Algoritmos avançados
Eles também concordam que, com algoritmos avançados, a IA segmenta o público de maneira precisa. Isso possibilita campanhas personalizadas que aumentam a relevância da comunicação e, consequentemente, as taxas de conversão. No que tange às análises preditivas, consideradas “uma das maiores vantagens da IA”, na visão dos painelistas, elas permitem prever tendências de consumo e de acesso ao crédito, ajudando empresas a se anteciparem às necessidades dos clientes e ajustarem suas ofertas e demandas rapidamente.
Ficou óbvio ainda que, em um mercado cada vez mais competitivo, investir em Inteligência Artificial não é apenas uma vantagem, mas uma necessidade. Compreender o consumidor nunca foi tão crucial para o sucesso das marcas.
Ademais, a gestão de crédito, apoiada por IA, propicia um ambiente de segurança tanto para o consumidor quanto para o credor. “Isso porque o uso de algoritmos avançados e aprendizado de máquina possibilita a detecção de anomalias que são indicativas de fraudes, permitindo uma resposta rápida e eficaz”, comentou Fábio.
Inclusão financeira
“A inclusão financeira não é apenas um objetivo, é uma necessidade. Enquanto lutamos por um futuro mais justo, o acesso ao crédito para todos deve ser redefinido”, argumentou Alcimere Noventa.
Portanto, na atividade, os painelistas destacaram o quanto o acesso ampliado ao crédito é fundamental para pessoas, físicas e jurídicas, historicamente marginalizadas. Isso não apenas promove a equidade, mas também permite que mais cidadãos tenham oportunidades reais de transformação financeira e social. A educação financeira é essencial nesse processo. Capacitar pessoas, portanto, para compreenderem suas opções de crédito e gerenciarem suas finanças é um passo crucial para a autonomia e o sucesso a longo prazo.
Além de educação, o último painel do CCX focou na necessidade de políticas públicas que incentivem instituições financeiras a oferecer crédito de forma responsável, aumentando a confiança e garantindo que os empréstimos beneficiem quem realmente precisa. Ficou óbvio que a inclusão financeira não deve ser vista como um favor, mas como um direito de todos.
“Se for para pontuar as três tendências para a gestão de crédito no futuro, a primeira delas é uma mudança de cultura organizacional. Em, segundo lugar, vem o Open Finance, que trará maior transparência e competitividade. E, por fim, o crédito sustentável e verde, com pessoas cada vez mais preocupadas com o que estão financiando e onde esses recursos estão sendo aplicados”.
Open Finance
Uma das principais implicações do Open Finance será a maior transparência nas operações financeiras. Com a possibilidade de acessar e compartilhar dados de forma segura e controlada, os consumidores poderão entender melhor as ofertas disponíveis no mercado. Por consequência, se tornaram mais críticos em relação aos produtos que escolhem. Essa transparência também permitirá que as instituições financeiras sejam mais competitivas, pois farão ajustes em suas estratégias para atender às expectativas e necessidades dos clientes.
Além disso, o Open Finance facilitará a inovação no setor. Com a livre troca de informações, novas soluções financeiras poderão ser desenvolvidas em colaboração entre bancos, fintechs e outras empresas de tecnologia. Isso pode resultar em produtos mais personalizados e em um ecossistema financeiro mais dinâmico, onde a experiência do usuário é priorizada.
A inclusão financeira será outro resultado significativo. Com o acesso a dados de clientes que normalmente não teriam visibilidade, mais pessoas poderão ser atendidas por serviços que eram considerados não lucrativos. Isso poderá levar ao aumento da oferta de crédito para indivíduos e pequenas empresas que, de outra forma, estariam excluídos do sistema financeiro.