Está chegando ao fim o programa Desenrola. O Desenrola foi criado pelo governo federal, em junho de 2023, para ajudar os mais de 70 milhões de brasileiros com nome negativado a saírem das dívidas.
Portanto, aqueles que possuem contas atrasadas e desejam aproveitar os descontos oferecidos pelo Desenrola devem se apressar. A ideia é que eles façam a renegociação até a próxima segunda-feira, dia 20 de maio, que é o prazo final. É importante ressaltar que esta data já representa a segunda prorrogação.
Essa etapa final do Desenrola é direcionada para pessoas da Faixa 1, ou seja, aquelas que têm uma renda de até dois salários mínimos. Ou seja, os cidadãos que recebem mensalmente a quantia de R$ 2.824 ou que estão inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Essa fase não engloba dívidas que tenham sido negativadas no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2022. Ademais, o valor atualizado do débito não pode ultrapassar R$ 20 mil.
O que pode ser renegociado?
São passíveis de negociação as dívidas bancárias, tais como cartão de crédito, contas de energia, água, internet e telefonia. As compras em estabelecimentos comerciais e mensalidades escolares também podem ser renegociadas.
O acesso para realizar a renegociação pode ser feito pela plataforma do Desenrola, disponível no site desenrola.gov.br. Outra opção é desenrolar a dívida pelo site ou aplicativos de bancos parceiros.
Até o momento, mais de 14,5 milhões de pessoas já renegociaram quase R$ 52 bilhões em dívidas. Os descontos oferecidos foram, em média, de 83% sobre o valor devido, chegando a alcançar um abatimento de até 96% em alguns casos.
Maioria desconhece o Desenrola Brasil
Entretanto, não são todas as pessoas que conhecem o Desenrola Brasil. Prova disso está em uma pesquisa realizada pelo NPS Prism, plataforma da consultoria estratégica global Bain & Company. De 18.734 brasileiros entrevistados, 30% nunca ouviram falar do programa. E mais: apenas 18% daqueles que já tinham ouvido falar do programa afirmaram ter tentado utilizá-lo ou realmente usufruído desse benefício.
O nível de conhecimento sobre o Desenrola Brasil é ainda menor entre a população de baixa renda, com 38% dos entrevistados mencionando que sequer sabiam da existência do programa. No entanto, entre os clientes de baixa renda que estão em uma situação financeira mais delicada, ou seja, que declaram gastar mais do que ganham, o conhecimento é um pouco maior (64% versus 62%), embora ainda menor do que a média geral (70%).
O estudo constatou que, entre os consumidores cujo banco principal é uma instituição tradicional, a declaração de conhecimento sobre o programa é maior (76%). Enquanto isso, entre os clientes de bancos digitais, esse índice é um pouco menor (64%).
Cartão de crédito
O levantamento da Bain & Company também revela que a divulgação do programa atingiu mais pessoas com acesso a produtos de crédito, ou seja, 73% daqueles que possuem cartão de crédito, empréstimo pessoal, consórcio, financiamento de veículos, crédito imobiliário ou crédito consignado. Já entre os clientes que não possuem esses produtos, essa porcentagem reduz para 57%.
Por fim, o nível de conhecimento é semelhante entre os diferentes tipos de produtos de crédito, mas a utilização varia consideravelmente. Os dados do NPS Prism revelam que aqueles que possuem empréstimos pessoais e outros produtos de crédito apresentam uma tendência maior de utilizar o programa (26%) em comparação com aqueles que possuem apenas cartões de crédito (17%).
Novas regras para rotativo do cartão
No dia 3 de janeiro de 2024, entrou em vigor a regulação do Conselho Monetário Nacional (CMN), prevendo novas regras para a cobrança de crédito rotativo de cartões. Esse movimento é oferecido, de forma quase automática, ao consumidor que não paga o total da fatura até a data de vencimento. Por consequência, o valor não pago, seja parcial ou total, transforme-se em empréstimo.
A decisão do CMN, em síntese, limitou a cobrança em até 100% do total da dívida. Só para exemplificar: se o usuário tem cerca de R$ 1.000 em dívidas, que entrou no rotativo, o banco poderá cobrar, no máximo, outros R$ 1.000 em juros e encargos. Marilyn Hahn, CRO e cofundadora do Bankly, plataforma de Banking as a Service, esse tipo de produto é de alto risco para a instituição financeira. “Isso porque não possui nem uma garantia e, em contrapartida, é mais caro para o consumidor”.
Custo do rotativo
Segundo dados do Banco Central, o custo médio do crédito rotativo no Brasil chegou a atingir 455% no segundo semestre de 2023.
Inegavelmente, o Brasil reúne um povo culturalmente endividado. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor de abril de 2024 mostra que 86,9% dos brasileiros possuem dívidas no cartão de crédito. Nesse ínterim, quase 50% estão com atraso há mais de 90 dias. Por analogia, o perfil das dívidas de cartão nos bancos tem se mostrado como uma extensão do orçamento das famílias. A grande maioria dos débitos é composta de compras de supermercado (66%). Em segundo lugar, aparecem os remédios e tratamentos médicos (41%). Na visão da CRO e cofundadora do Bankly, a população está contratando o crédito mais caro do mercado, sobretudo para compras de bens essenciais. “Nesse sentido, o que temos é um ciclo vicioso bastante ruim para a economia”.
Movimento controverso
“Ciente de que a condição ceteris paribus existe apenas nas teorias econômicas, é quase impossível prever a real efetividade da nova regra no curto prazo”, comenta Marilyn Hahn.
Ela acredita que o movimento não deve reduzir o endividamento das famílias se não for somado a uma contínua redução da taxa de juros. “O principal fator que deveria prover melhoras nos indicadores seria a diminuição da taxa de desemprego no país. E esse índice tem apresentado progresso no último trimestre, chegando a 7,7%, menor taxa desde 2015. O problema é que, analogamente, essa melhora vem sendo puxada por estados do sudeste, como São Paulo. Mas, não está disseminada em todo o país. Desse modo, a região Nordeste continua com a maior taxa de desocupação e informalidade”, enaltece a especialista.
Desenrola é educar financeiramente
Parafraseando o sociólogo Betinho, que diz “um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda, sim, pela sua cultura”, Marilyn defende a bandeira da educação financeira.
Hoje, o Brasil ocupa a 74ª posição no ranking global que avalia a alfabetização da população em educação financeira. O país está atrás até das nações consideradas as mais pobres do mundo. “A entrada da disciplina de educação financeira nas escolas, principalmente nas públicas, é essencial. É necessário ainda tratar a inserção da pauta durante a vida adulta”, finaliza a especialista.
Credit and Collection Experience (CCX)
No dia 6 de agosto, o Credit and Collection Experience (CCX) reunirá especialistas, lideranças e empresários para debater e propor soluções para os desafios da jornada dos consumidores brasileiros no acesso ao crédito e na resolução de dívidas.
Diante de transformações no setor, motivadas por tecnologias recentes como a Inteligência Artificial generativa, Big Data e Machine Learning, chega o momento de aprofundar conhecimentos para construir a sustentabilidade financeira e econômica do país. Venha transformar o crédito e cobrança no CCX! Confira a programação do evento clicando aqui.