A cadeia de ração é fundamental para assegurar a continuidade da produção de alimentos de origem animal. Ela garante que todos os elos, desde a produção de matérias-primas até a entrega do produto final, funcionem de maneira integrada e eficiente. Ela envolve várias etapas. Entre elas, destaque para o cultivo de grãos, a formulação de ração, a criação de animais e a distribuição dos produtos acabados. E isso impacta diretamente o consumidor final, que precisa do alimento na mesa.
Um dos principais objetivos da cadeia de ração é otimizar o uso dos recursos, minimizando desperdícios e garantindo a sustentabilidade da produção. Através de práticas eficientes, como a utilização de ingredientes locais e a implementação de tecnologias avançadas, os custos podem ser reduzidos. Por consequência, qualidade final do produto também pode ser melhorada. Contudo, isso ainda é um desafio.
Desafios atuais da cadeia de ração
Isso porque a otimização da cadeia de ração encontra diversos desafios que variam entre aspectos logísticos, tecnológicos e de gestão. Um dos principais obstáculos é a falta de integração entre os diferentes elos da cadeia. Isso pode levar a inconsistências na comunicação e atraso na troca de informações. Isso resulta em decisões subótimas, como o desperdício de recursos e a incapacidade de atender à demanda de maneira eficaz.
É justamente para reverter esse cenário que a Cargill lançou uma ferramenta de Inteligência Artificial que visa promover uma maior eficiência e transparência em toda a cadeia produtiva. Em entrevista à Consumidor Moderno, Marcelo Dalmagro, diretor de Marketing & Inovação da Cargill Nutrição Animal na Latam South, explica que esta ferramenta utiliza algoritmos avançados para analisar dados em tempo real, permitindo que os produtores tomem decisões mais informadas e ágeis. “Com a Inteligência Artificial, é possível prever demandas, otimizar a logística de distribuição e monitorar a qualidade dos insumos, reduzindo assim os riscos de desperdício e melhorando a rentabilidade”.
Ademais, a ferramenta facilita a integração entre os diferentes elos da cadeia. Proporciona um canal de comunicação mais rápido e eficaz, permitindo que agricultores, fabricantes de ração e criadores de animais compartilhem informações relevantes, como tendências de mercado e condições climáticas, o que é vital para uma produção mais responsiva e alinhada com as necessidades do mercado.
Confira a entrevista na íntegra!
Inteligência Artificial
CM: Como funciona a nova ferramenta de IA lançada pela Cargill para aprimorar a cadeia de ração?
Marcelo Dalmagro: A ferramenta ProSense Feed combina hardware e software de ponta, impulsionados por Inteligência Artificial, para revolucionar a forma como os produtores brasileiros de aves e suínos administram sua cadeia de suprimentos de ração. Através dela, os níveis de ração são monitorados em tempo real por meio de um sensor de imagem 3D que capta mais de 9 mil pontos dentro do silo, garantindo precisão de até 98%. Os sensores utilizam energia solar, possuem sistema de autolimpeza e colaboram para que não haja falta de ração, prevenindo problemas para os criadores. É como ter um “olho digital” nos silos de ração, monitorando os níveis com precisão milimétrica, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
CM: Como esses dados são processados?
Esses dados precisos são processados por um software inteligente, que proporciona uma visão completa do fluxo de ração, desde a demanda e logística até o consumo pelos animais. Com acesso a informações críticas por meio de painéis e alertas, é possível observar um impacto imediato e positivo no P&L.
Eficiência
CM: Como a ferramenta de IA contribui para a eficiência na produção de ração?
A ferramenta atua de várias formas como uma aliada na busca pela máxima eficiência na cadeia de ração. Ela permite o monitoramento em tempo real dos níveis de ração, assegurando que os silos nunca fiquem vazios e prevenindo interrupções na alimentação dos animais. Com o controle total da cadeia de suprimentos, é possível acompanhar cada fase do processo – desde a produção até o consumo, garantindo que a ração chegue aos animais na hora certa, no lugar certo e na quantidade correta. A plataforma ProSense Feed também ajuda a otimizar a logística, reduzindo custos, minimizando desperdícios e melhorando a eficiência operacional.
CM: Quais são os benefícios esperados com a adoção dessa tecnologia na indústria de ração?
Sem dúvida, a tecnologia proporcionará diversos benefícios para a indústria de ração. O principal deles é a melhoria na conversão alimentar, acompanhada de uma maior eficiência operacional. Isso se dá pela redução de desperdício e gestão otimizada, tornando a cadeia de ração mais econômica. O resultado será um aumento na saúde animal e a garantia do seu bem-estar, impactando diretamente nos resultados de produtividade, com melhor desempenho e menos incidência de doenças.
Treinamento
CM: Há suporte ou treinamento disponível para os usuários da nova ferramenta de IA?
Sim, nós, da Cargill, estamos totalmente comprometidos em garantir que os produtores se sintam à vontade com a nova ferramenta e possam aproveitar ao máximo o valor oferecido pela tecnologia. Por isso, oferecemos suporte personalizado. Inclusive, nós contamos com especialistas em gestão de projetos e em nutrição e produção animal que auxiliam nossos clientes no processo de transformação digital, assegurando confiança nos resultados obtidos.
Além disso, a plataforma é de fácil manuseio e possui um painel intuitivo acessível pelo celular. Reconhecemos que a adaptação a novas tecnologias pode ser desafiadora, mas estamos prontos para apoiar os produtores e garantir o funcionamento adequado da ferramenta.
Benefícios para consumidores finais
CM: Quais são os principais benefícios que essa ferramenta pode proporcionar aos consumidores?
Para os consumidores, uma das principais vantagens é que eles ganham produtos de alta qualidade. Mas não só. Além da qualidade, eles terão produtos mais sustentáveis e a preços justos. Em síntese, a redução dos custos operacionais proporcionada pelo uso da ferramenta resulta em produtos mais acessíveis no mercado. Ademais, promove a sustentabilidade ao otimizar o uso de recursos e reduzir desperdícios, minimizando o impacto ambiental. A rastreabilidade é outro ponto forte, possibilitando o controle sobre o processo da cadeia de ração, garantindo o bem-estar dos animais e segurança alimentar. Ao fortalecer o setor, também contribuímos para que o Brasil mantenha sua posição como um dos maiores exportadores de carne de aves e suínos, o que ajuda a manter preços competitivos e a constância na oferta de produtos de qualidade.
CM: A otimização da cadeia de ração pode tornar os produtos mais acessíveis?
Com certeza, a otimização da cadeia de ração é fundamental para tornarmos os produtos mais acessíveis aos consumidores. Quando conseguimos reduzir custos e aumentar a eficiência em toda a cadeia de produção, o reflexo é uma diminuição nos preços finais. Ao cortar custos de produção, transporte e desperdício, criamos um cenário favorável para que os produtores ofereçam alimentos de qualidade, sustentáveis e a preços justos.
Sustentabilidade
CM: Como a ferramenta de IA pode favorecer a sustentabilidade na produção de ração?
De várias maneiras. O uso da ferramenta otimiza o consumo de recursos ao monitorar os níveis de ração em tempo real, evitando desperdícios, como já dito, e garantindo uma utilização eficiente. A análise de dados em tempo real possibilita ajustes no consumo dos animais, melhorando a conversão alimentar e diminuindo a quantidade de ração necessária para alcançar os mesmos resultados. Analogamente, isso reduz custos e minimiza o impacto ambiental relacionado à produção e transporte de ração.
Além disso, os sensores são movidos a energia solar, diminuindo a dependência de fontes não renováveis e reduzindo a pegada de carbono. Por fim, a utilização da tecnologia diminui a necessidade de verificações manuais de inventário, assegurando o bem-estar e a segurança do trabalhador rural.
Brasil: consumo e exportação de aves
O Brasil se destaca como o principal exportador mundial de carne bovina e de frango. O país também ocupa a quarta posição no ranking de exportação de carne suína. As informação são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na área de frangos, a produção alcançou 3,47 milhões de toneladas no terceiro trimestre. Isso reflete um crescimento de 4,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Em suínos, a produção totalizou 1,4 milhão de toneladas, representando um avanço de 1,9% em comparação ao ano anterior. Durante o terceiro trimestre de 2024, foram processadas 1,62 bilhão de cabeças de frangos, o que indica um aumento de 2,8% em relação ao mesmo período de 2023 e um incremento de 0,8% em comparação com o segundo trimestre de 2024.
Em relação aos suínos, os abates totalizaram 14,95 milhões de cabeças, apresentando um crescimento de 2,1% em relação ao mesmo trimestre de 2023 e um aumento de 2,6% em relação ao trimestre anterior.
Esses números refletem um cenário positivo para a indústria de proteína animal no Brasil, evidenciando a resiliência e adaptabilidade do setor. A crescente demanda interna e externa contribui para este desempenho, especialmente considerando que o país se beneficia de acordos comerciais e de uma imagem consolidada como fornecedor de carnes de alta qualidade.
“Em suma, o desempenho positivo do Brasil na produção de carnes e a manutenção de sua posição de liderança nas exportações destacam a importância do setor agropecuário para a economia nacional, ao mesmo tempo que representa um compromisso com práticas que promovem tanto a eficiência quanto a sustentabilidade”, finaliza Marcelo Dalmagro.