O mercado de apostas online tem crescido exponencialmente no Brasil, impulsionado pela popularização das plataformas digitais e pela ampla oferta de promoções atrativas. Segundo levantamento do Banco Central, cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas, realizando ao menos uma transferência via Pix para essas empresas entre janeiro e agosto de 2024. Os valores mensais – quando consideradas as transferências brutas – variaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões.
Ainda segundo o estudo, os apostadores, em sua maioria, têm entre 20 e 30 anos, mas as apostas são feitas por pessoas de diferentes faixas etárias. A estimativa mostrou ainda que o valor médio mensal das transferências aumenta conforme a idade: para os mais jovens, o valor gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto para os mais velhos o valor ultrapassa R$ 3.000 por mês, de acordo com dados de agosto de 2024. Em um único mês, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família (PBF) enviaram R$ 3 bilhões às empresas de apostas utilizando a plataforma Pix. A mediana dos valores gastos por pessoa é de R$ 100.
Renda comprometida
Ao mesmo tempo, esse fenômeno traz à tona questões cruciais para empresas e instituições financeiras, especialmente no que diz respeito à concessão de crédito. As apostas online, de acordo com a Pesquisa Economia do Retorno 2024, do Grupo Consumoteca, o Brasil é o terceiro país do mundo em consumo de apostas. O estudo mostrou ainda que isso representa 2,3% do orçamento das famílias. Os brasileiros injetaram R$ 124,3 bilhões em apostas em 12 meses.
O levantamento do Grupo Consumoteca apontou também que 54% do volume apostado (R$ 66,8 bilhões ao ano) deixa de ir para alguma despesa de consumo das famílias brasileiras. Nesse cenário, o risco de gastos excessivos com apostas pode comprometer a saúde financeira dos consumidores, elevar os índices de inadimplência e impactar negativamente o mercado de crédito.
“Impacta diretamente no comportamento de pagamento do consumidor brasileiro”, comenta Fabio Toledo, CEO da Intervalor. “80% das pessoas que jogam são das classes C, D e E, já percebemos um aumento da inadimplência quando cruzamos esses grupos”.
Apostas como variável de risco
Diante desse cenário, é fundamental que as empresas adotem estratégias preventivas para mitigar esses riscos. Investir em programas de educação financeira e promover campanhas de conscientização sobre o uso responsável das plataformas de apostas são iniciativas que não apenas protegem os consumidores, mas também ajudam a preservar a estabilidade do mercado. Ou seja, o setor terá que se adaptar a esse novo panorama. Será necessário unir inovação e responsabilidade social para enfrentar os desafios impostos pelas apostas online.
“Será uma variável importante nos modelos de crédito, será discriminativa, inclusive, como apontam os estatísticos de crédito. Será muito importante as empresas começarem a considerar isso em seus modelos, pelo menos como uma variável para a scoragem final”, reforça.
Nesse sentido, a Intervalor tem usado a Inteligência Artificial (IA) como aliada para analisar os perfis e trabalhar de forma preventiva na análise de concessão de crédito. “Temos estudado esses grupos com dados e a IA generativa. Tentamos fazer com que seja mais uma variável importante no nosso processo de personificação da jornada de recuperação de crédito”, frisa Fábio.
Ações preventivas
A empresa tem ainda usado indicadores financeiros para identificar um padrão comportamental de risco relacionado às apostas, diante das nuances dos consumidores, mesmo com a queda do desemprego. Além de pesquisas de consumo e uso das bets, a Intervalor utiliza também informações oriundas das companhias que já atuam no mercado fazendo a fidelização dos clientes.
E, diante do risco de um cliente que já possui uma linha de crédito tornar-se inadimplente, a instituição financeira atua com ações preventivas. “Fazemos isso em parcerias com nossos clientes, acompanhando cliente a cliente, consumidor a consumidor e seu comportamento. Usamos as informações de modelagem estatística e inclusão de IA generativa nas inteligências de dados”, destaca.
Dentro desse objetivo de prevenção, existe ainda uma forma de as empresas reduzirem os riscos das apostas online no consumo. Aliás, é uma forma, inclusive, de prevenir a inadimplência: a educação financeira do consumidor.
“Esse é um papel importante, que sempre fizemos. Temos parcerias com institutos, além de universidades focadas em educação financeira e uso consciente do crédito. Temos que reforçar isso estudando as bets e considerando as mesmas uma variável fundamental agora nesse processo”, finaliza.