O modelo de acesso a serviços de saúde por assinatura está se mostrando uma alternativa aos planos de saúde. Tanto para os pacientes prestes a perder suas coberturas diante do recente reajuste quanto para laboratórios e hospitais, a alternativa que vem dando certo em países como a China pode popularizar uma nova cultura de cuidados com a saúde no Brasil: a cultura da prevenção.
Funciona assim: o paciente baixa um aplicativo e escolhe um tipo de assinatura. Com direito a certa quantidade de consultas e exames, ele faz sua consulta online, e, em caso de alguma suspeita, o médico pede exames. O paciente recebe um kit em casa, por exemplo, e assim que possível, tem o retorno. Dependendo do tipo de assinatura, há mais consultas além dos retornos e também consultas físicas.
Na China, a Ping An, da Good Doctor, é a plataforma de assistência médica que traz esta nova jornada do paciente desde 2015. Ao combinar saúde móvel com Inteligência Artificial (IA), seu processo se configura a partir do médico da família, com cada indivíduo tendo seus dados mapeados e armazenados e gerenciados na plataforma. No ambiente eletrônico, o paciente pode agendar consultas e procedimentos, já que a solução envolve parcerias com centros de exame físico, clínicas dentárias, instituições de cirurgia plástica e farmácias. Um ecossistema de circuito fechado.
No Brasil, a nova proposta de jornada do paciente é feita pelo Saúde ID, plataforma lançada pelo Fleury em setembro do ano passado que visa atender os cerca de 75% da população brasileira que não têm planos de saúde. De quebra, a plataforma espera inaugurar a cultura da prevenção promovendo inclusão, já que tem valores mais baixos.
O custo da saúde
No Brasil, há alguns anos a cultura do exame tem se mostrado como um dos fatores que pressionam os custos com saúde – o que leva as operadoras a aumentarem preços. Um estudo realizado por médicos do Univasf (Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco) em 2018, por exemplo, já apontava fatores que contribuíam para o excesso de solicitação de exames. Entre eles estão: facilidade de pedidos, prática em hospitais universitários, seguimento rotineiro de testes laboratoriais, medo de litígio, inexperiência de médicos, prática da medicina defensiva e a própria demanda do paciente.
Médico e CEO do recém-lançado Saúde ID, Eduardo Oliveira enfatiza ainda a configuração das ofertas de serviço de saúde no Brasil hoje. “O setor estava trazendo ofertas muito segmentadas. A solução está na integração. Além disso, 70-80% dos atendimentos em prontos-socorros não precisam acontecer neles. Isto é um imediatismo nosso, e muitas vezes a ida a eles não se traduz em resolução do problema”, explica o médico. “Isso impacta no custo e na sustentação do sistema”, acrescenta.
Tais fatores se mantém hoje, e a saída, então, é vislumbrar alternativas que possibilitem redução na quantidade de solicitações.
Nova tecnologia, nova cultura
Pacientes ativos, conscientes e engajados com comportamentos saudáveis parece ser a resposta para a alta dos planos e modelos de acesso à saúde custosos no Brasil.
A primeira solução a despontar neste sentido é o próprio Saúde ID, que ensaia uma expansão da capital paulista para outras cidades do País neste ano. Depois de ter sucesso no atendimento de 5 mil pessoas por 3.200 médicos em mais de 20 mil consultas, o app já tem pelo menos 28 mil consultas agendadas e um modelo de curadoria consolidado que possibilita oferecer serviços de fora do Grupo Fleury.
Inspirado na Ping An, o Fleury lançou a plataforma inicialmente com foco nas empresas, operadoras de saúde e médicos com ofertas distintas pra cada um deles. Oliveira conta que a ideia era primeiramente expandir a telemedicina como uma primeira opinião médica e oferecer a gestão de internados e serviços do Fleury.
“A plataforma vem mudar a barreira de modelo. A ideia é colocar todos no mesmo ambiente e deixar o paciente escolher. A gente visa ter uma curadoria para conectar parceiros e concorrentes, porque queremos criar um ecossistema para gerar valor ao indivíduo”. Assim, conclui ele, o paciente vai escolher pelo melhor serviço, sendo do Fleury ou outro que desejar.
“O desafio é engajar o paciente no cuidado da própria saúde. O Saúde ID quer mudar a cultura, a forma como se acessa a saúde. Queremos trazer o médico à porta de entrada. Para isso, usamos IA, tecnologias, avaliamos comportamentos obtendo dados e criamos ofertas que façam sentindo pra ele.”
Recursos e plano de atendimento
No plano de atendimento, o Saúde ID oferece consultas online dependendo do tipo de assinatura. No modo Freemium, gratuito, o paciente pode acessar todo seu histórico já feito em qualquer Fleury. Na assinatura anual de R$ 29,90 por mês, a Light, há opção de uma consulta online com um retorno por mês, exames e descontos na contratação de exames particulares em laboratórios A+. Na modalidade Plus, de R$ 59,90 por mês, o paciente tem uma consulta online ou presencial com um retorno por mês, exames e descontos na contratação de exames na rede.
As consultas têm um tempo médio de 15 minutos, como o usual em consultas, no intuito de criar um plano de atendimento, esclarece Oliveira. “O médico, claro, pode encaminhar o paciente a um especialista por meio da plataforma quando necessário.”
Com a expansão para além de São Paulo, o Saúde ID incluirá parceiros e também profissionais da saúde ao plano de atendimento.
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