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Você é o seu CV?

Você é o seu CV?

"Suas escolhas refletem quem você é pela experiência e pelo que priorizou para tomar decisões. A partir dessa experiência você desenvolverá novas habilidades"

 

Elaboramos nossos currículos de modo a deixar evidente aquilo que parece mais interessante aos olhos contratantes e, arrisco dizer, de modo a nos convencer que estamos trilhando uma carreira ascendente e promissora. No entanto, nossa trajetória nem sempre é tão linear e planejada como queremos que pareça, nem (talvez essa você duvide) o que você mostra é considerado o mais relevante.

Quando tenho a oportunidade de falar abertamente sobre minha trajetória profissional, percebo que as partes que mais interessam às pessoas são aquelas escolhas que mais se desviaram do curso normal de uma, dita, carreira corporativa convencional.

Tentamos nos enquadrar no formato padrão, esforçando-nos a seguir referências que admiramos e repetir caminhos de sucesso. E por que isso acontece? Porque seguimos acreditando que devemos enfatizar aquilo que aprendemos no sistema de ensino até hoje válido, orientado a valorizar o nosso lado racional e linear, focado em otimização de processos e resultados. Escolas e faculdades continuam estruturadas em linhas de produção, buscando padronização, a única resposta certa e a ausência de erros.

Mas, ao invés de respostas convergentes, o cenário atual clama por divergência, pelo levantamento de várias possibilidades, por repensar o problema de outros ângulos e por explorar os novos caminhos que surgem de pensamentos que divergem. Esse é o pensamento lateral, ao contrário do pensamento vertical1 assumido até hoje como predominante.

“Exatidão é o que importa no pensamento vertical. Riqueza é o que importa no pensamento lateral”. Edward de Bono, professor e psicólogo da Universidade de Oxford

Divergências são tão incômodas em um sistema estruturadamente linear, quanto são necessárias em um mundo em constante evolução e ávido por soluções inusitadas. Desse modo, ao ler um currículo, tendemos a ver uma linha ascendente – o último trabalho deve ser melhor que o anterior, porque nos acostumamos a estruturá-lo em como as escolhas serão mais bem aceitas e avaliadas a partir de uma visão racional e linear. No entanto, cada um é único e, como tal, movido por motivações, curiosidades e inquietações tão particulares quanto distintas. E são esses estímulos individuais que definem as escolhas que fazemos, formam e reforçam nossa individualidade e unicidade. Se queremos que o currículo nos reflita como profissionais, deveríamos explorar mais essas diferenças que são as que realmente definem quem somos. Até mesmo porque cada vez mais as empresas valorizam as pessoas que têm sinergia com a sua cultura, além do perfil para a vaga.

Não conheceríamos mais o outro ao entender os dilemas que ele teve que lidar diante das escolhas difíceis que fez? Será que por trás de cada bifurcação não há um padrão de decisão que define realmente aquilo que priorizamos e nos reflete melhor como indivíduos?

Aceitar as divergências no seu currículo tende a ser mais interessante, não apenas por realmente traduzir quem você é – a partir das escolhas que você assumiu para você mesmo, mas por estar mais em linha às demandas atuais. A fim de contextualizar quem somos e entender o que buscamos, deveríamos construir um currículo mais lateral, exercitando o porquê fizemos determinadas escolhas, indo além do modelo vertical apenas baseado em o que escolhemos.

Nunca me esqueço do instante prévio à palestra que daria em uma grande empresa. Estava conversando com o executivo que me apresentaria na sequência e, para contextualizar minha introdução no palco, ele me pediu que lhe contasse o que tinha feito de interessante ao longo da minha carreira. Depois de resumir alguns pontos, ele me provocou: “Das coisas que você falou, a menos interessante é você ser engenheira.” Essa frase foi um grande insight para mim porque escolher o curso de engenharia foi, ironicamente, a minha maior tentativa de acerto. Talvez, após ter reconhecido a segurança como o motivador dessa escolha, na época, comecei a investir em caminhos mais arriscados, na sequência. Esse é o tal investimento no erro ao qual já me referi antes e retomo aqui para exemplificar sua aplicação prática. Tive a certeza de que estava me desviando do caminho “normal” ou “seguro” quando me chamaram de louca, aos 30 anos, após pedir demissão para trabalhar de graça em troca de novos aprendizados. Não é fácil ouvir isso porque exige que você considere uma variável adicional, a outras próprias deste tipo de decisão. E é aí que você sente duas coisas: solidão e medo, muito medo – por se desviar da rota convencional que, supostamente te levaria mais tranquilamente a um lugar seguro e com garantias (se é que isso realmente existe).

Libertar-se de um caminho linear sempre dá mais trabalho porque vai contra o pensamento predominante, que deseja eliminar riscos (erros). É assim que funciona, o próprio sistema te força a voltar para o sistema, fazendo você se questionar além do necessário para finalmente sucumbir a zona de conforto (ou não, se você realmente seguir o que sente). É o preço que se paga por divergir em um ambiente de pessoas treinadas em convergir.

Suas escolhas refletem quem você é pela experiência vivida e pelo que você priorizou para tomar aquelas decisões. E será a partir dessa experiência que você desenvolverá novas habilidades, pelo aprendizado adquirido. Não é verdade que só aprendemos e ganhamos fluência em uma língua estrangeira quando vivemos no país dessa língua? Aprendemos, de fato, quando estamos totalmente focados no que estamos fazendo, absorvendo as habilidades que são importantes naquele momento, ao aplicá-las na prática.

“Ao invés de procurar se identificar com um cargo ou descrição de emprego, você deve buscar constantemente adicionar habilidades baseadas no que te fará um profissional mais desejável.” Jeanne Meister, co-autora do livro The Future Workplace Experience

 O currículo, mais do que uma oportunidade para se vender aos outros, deveria ser visto como uma ferramenta para você se desenvolver em caminho a sua independência – seja para se tornar mais atraente para as empresas, seja para aplicar suas habilidades adquiridas na sua própria empresa e seus clientes.

O seu CV é divergente o suficiente para abraçar possibilidades que traduzam quem você é, para então convergir em quem deseja ser?

———————–

Graziela di Giorgi é sócia da Opt-Inn, diretora Brasil da SCOPEN, escritora do livro O Efeito Iguana e mentora do Programa InovAtiva Brasil

1 “O pensamento lateral é necessário para ampliar a percepção das possibilidades, antes de usar o pensamento vertical para se aprofundar em alguma delas. Sem a habilidade da percepção ampliada, limitamos nossas escolhas.” (Texto extraído do livro O Efeito Iguana).

 

 

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