O Departamento de Justiça (DOJ) norte-americano segue em frente com a ação antimonopólio contra o Google. A acusação é que a gigante da tecnologia tenha sufocado a concorrência em mercados estratégicos, como sistemas operacionais móveis, navegadores e, principalmente, buscas online.
Nesta semana, durante uma audiência realizada em Washington, o DOJ propôs medidas contundentes para restaurar a competitividade no setor. A mais polêmica delas é a exigência de que o Google se desfaça do navegador Chrome. As discussões ocorrem sob a supervisão do juiz Amit Mehta, do Tribunal Distrital de Columbia, que, em agosto do ano passado, classificou a big tech como uma “monopolista”.
Nesse cenário, algumas empresas têm demonstrado interesse na compra do navegador. A primeira a se manifestar foi a Perplexity, seguida pelo Yahoo.
O apetite da Perplexity
Dmitry Shevelenko, diretor de negócios da startup de Inteligência Artificial (IA) Perplexity, inicialmente relutou em depor por temer retaliações, mas, após ser intimado, aproveitou a ocasião para propor um caminho inusitado: a compra do navegador. As informações são do site americano The Verge.
Caso o juiz acate a proposta do DOJ, não apenas o Chrome, mas também o projeto-base de código aberto, o Chromium – usado por navegadores como Microsoft Edge e Brave – poderá ser desmembrado do Google. A big tech alerta que tal movimento pode comprometer a estabilidade da web. Além disso, pode permitir que futuros proprietários cobrem pelo uso ou reduzam a qualidade do software.
Ainda assim, Shevelenko foi enfático: “Acho que conseguiríamos”, disse ao ser questionado sobre a capacidade da Perplexity de operar o Chrome em larga escala sem perder eficiência.
Não é a primeira vez que a Perplexity demonstra interesse em assumir grandes ativos em disputa nos EUA. A empresa, com menos de três anos de existência, também já se posicionou como possível compradora do TikTok, aplicativo chinês ameaçado de banimento no país por questões de segurança nacional.
Avaliada atualmente em US$ 9 bilhões, a Perplexity é considerada uma promessa no setor de IA generativa, mas ainda distante do peso financeiro de suas rivais. A OpenAI, criadora do ChatGPT, já alcança um valor estimado em US$ 300 bilhões. No topo da cadeia está a Alphabet, holding do Google, cujo valor de mercado supera US$ 1,9 trilhão.
Os planos do Yahoo
O Yahoo, por sua vez, também demonstrou interesse em adquirir o navegador do Google. Brian Provost, gerente geral de buscas da empresa, revelou que o Yahoo está desenvolvendo seu próprio navegador desde o último verão, em fase de prototipagem. A ideia é ter um produto funcional entre seis e nove meses, mas a compra do Chrome poderia acelerar essa estratégia significativamente.
De acordo com o executivo do Yahoo, cerca de 60% das buscas são feitas por meio de um navegador web. Muitas pessoas pesquisam diretamente na barra de endereços. Sendo assim, ter um navegador próprio é essencial para crescer nesse mercado. Ele estima que a fatia de buscas do Yahoo, atualmente em 3%, poderia saltar para dois dígitos com o controle do Chrome. Além disso, classificou a ferramenta como “indiscutivelmente o player estratégico mais importante da web”.
Segundo o executivo, a compra poderia custar dezenas de bilhões de dólares, mas o financiamento seria viável com o apoio da Apollo Global Management, atual proprietária do Yahoo. Curiosamente, a Apollo também detém os direitos sobre o Netscape, navegador dos primórdios da internet, hoje considerado obsoleto.
OpenAI observa de perto
Durante os depoimentos, a OpenAI também demonstrou interesse na possível venda do Chrome. A declaração foi dada pelo diretor de produto do ChatGPT, Nick Turley. Segundo o executivo, a empresa tem capacidade para oferecer uma “uma experiência incrível” caso as duas plataformas fossem integradas.
Embora os detalhes sobre a intenção não tenham sido amplamente divulgados, a manifestação da empresa reforça a relevância do navegador como um dos principais canais de entrada para ferramentas de busca e experiências digitais.
O que está em jogo?
Para o DOJ, o Chrome é uma peça central no domínio do Google sobre as buscas online. O navegador funciona como um canal privilegiado para o motor de busca da empresa, que ocupa posição dominante no mercado. Desmembrar o navegador da gigante de tecnologia seria uma maneira de abrir espaço para concorrentes e permitir que novas soluções ganhem visibilidade entre os usuários.
O Google contesta a proposta e alerta para riscos à segurança, à interoperabilidade da web e à inovação tecnológica. Mesmo assim, o processo pode abrir um novo capítulo na história da internet. Nele, gigantes da tecnologia precisarão disputar terreno com mais igualdade. A decisão final está nas mãos do juiz Amit Mehta, que promete entregar sua sentença até o fim do verão norte-americano.
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