As gerações X, Y e Z, cresceram achando que “ter” era sinônimo de felicidade. O carro era o primeiro patrimônio a ser adquirido, ainda que isso demandasse uma dívida de anos. Eu, (alerta de white people problem), ganhei meu Golzinho bem básico quando comecei a estagiar.
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O carro havia sido de um senhor de meia-idade e veio com uma proteção de borracha com bolinhas no volante; “típico de taxista velhinho”, imaginei. Apelidei-o, então, de Vovô. Assim que me formei, lá em 2010, quis comprar um carro melhor. O escolhido foi um Fox zero completo e que foi batizado de Neto para continuar a tradição.
Pule para seis anos depois, após Olimpíadas e Copa do Mundo. A crise bateu forte na engenharia, eu já trabalhava por conta própria, em home office, e os projetos começaram a sumir. Coloquei na ponta do lápis quanto que eu gastava com o carro e, somando seguro, ipva, manutenção, e a gasolina (que não era R$ 7,00), dava algo em torno de R$ 600 por mês – e isso porque era um carro popular.
Moro em um bairro de Niterói que dá facilmente para se locomover de bicicleta, não tenho filhos e não usava o carro para trabalho. Não pensei duas vezes em vender o querido Netinho. Isso foi em 2016 e, de lá pra cá, uso a bicicleta para pequenos deslocamentos, além de transporte público e aplicativos de mobilidade. Contabilizo quanto gasto com esses outros tipos de modais e, nos meses em que faço “a rica”, não chega a R$ 400. Quando quero fazer uma viagem, alugo um carro, e sinto a falsa liberdade de ter automóvel novamente.
Atualmente, meu sonho de burguesa é uma motoca elétrica, o que vai me permitir fazer alguns deslocamentos com mais facilidade, num total de zero emissão de carbono. E não sou só eu que estou pensando assim: o mercado de bicicletas elétricas está em plena ascensão, apesar da pandemia. Em 2020, foram comercializadas 32.110 unidades de e-bikes (elétricas) no País: crescimento de 28% em relação a 2019 (Estadão, 2021).
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Amo carro e amo dirigir, mas costumo dizer que carro é para quem precisa, mais do que para quem pode. Ainda tem a chatice que é dirigir no engarrafamento de uma metrópole, a dificuldade para achar vaga, assalto para pagar o estacionamento, as obrigações de manutenção, lavagem, etc. Sem citar a questão climática, que por aqui não é tratada com a devida seriedade, mas merece urgência. A conta de todo mundo ter um carro, e sair emitindo CO2 por aí, não está fechando. Mas, melhor do que tudo isso e não precisar pagar R$ 7,00 no litro da gasolina é não ter que lidar com o DETRAN, convenhamos. O Neto, meu querido carrinho lá de trás, foi a conquista de uma geração que está sendo obrigada a rever seus valores (literalmente). No fim das contas (literalmente parte 2): por quantos boletos se troca um tanque cheio?
* Maria Fernanda Bastos é engenheira civil e do meio ambiente, Mestre em Gestão de Recursos Hídricos e educadora ambiental sobre economia circular e redução do lixo. É idealizadora e fundadora da @minharedinha, negócio de impacto socioambiental.
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