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Um olhar estratégico sobre o mercado de snacks

Um olhar estratégico sobre o mercado de snacks

A busca pela alimentação saudável, as novas tendências no modo de vida do consumidor, as mudanças regulatórias e os aspectos logísticos são alguns dos desafios que as empresas do setor devem endereçar para retomar o crescimento e conquistar novos mercados

Por Reynaldo Saad¹ e Marcelo Soares²

Cada segmento da indústria de alimentos no Brasil apresenta, pela própria dimensão do nosso mercado consumidor, uma dinâmica muito própria e que absorve tendências globais de maneira rápida. As empresas que atuam nesses setores precisam então de uma capacidade cada vez mais sofisticada de resposta e posicionamento.

O segmento de snacks, por exemplo, reflete uma atividade bastante significativa dentro da indústria alimentícia no Brasil, com oito categorias – biscoitos doces; biscoitos salgados; nozes, castanhas e mixes; chips e salgadinhos; pipoca; barrinhas de cereais; snacks de frutas; e pretzels – que, juntas, respondem por um faturamento anual de R$ 22 bilhões em 2017.

Apesar do número expressivo, depois de uma década de forte expansão com um crescimento real de 3,3% ao ano entre 2004 e 2014, o setor já acumula quatro anos de estagnação, o que reflete não apenas a crise que se abateu sobre a economia como um todo, mas, sobretudo, questões peculiares que impactam a cadeia do setor.

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Diversos fatores devem ser levados em consideração ao analisar esse histórico recente e as perspectivas futuras do setor. Há, por um lado, uma preocupação cada vez maior dos consumidores com a saúde e o bem-estar, o que impulsiona a procura por produtos diferenciados, com ingredientes naturais. As novas regulamentações que orientam o setor também caminham para incentivar o consumo de alimentos desse tipo. Por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estuda a adoção de um sistema visual obrigatório nas embalagens para auxiliar o consumidor a identificar alimentos com altos índices de gordura, açúcares e sódio. Algumas escolas tomaram medidas drásticas, proibindo a venda e o consumo de doces e refrigerantes aos alunos.

Os snacks são frequentemente apontados como vilões da boa alimentação e as projeções do próprio setor reforçam essa perspectiva no médio prazo. Estima-se que o nicho de lanches considerados mais saudáveis (nozes, castanhas e mixes; e barrinhas de cereais) aumente seu faturamento em mais de 60% nos próximos quatro anos, ao passo que os biscoitos doces devem perder 3% de market share no mesmo período. Embora a porcentagem pareça pequena, esses números correspondem a nada menos que R$ 780 milhões anuais em faturamento em 2023.

Cabe aos fabricantes de snacks buscar alternativas e reconquistar a atenção e a confiança do consumidor. Muitas empresas optam por adquirir marcas reconhecidas no mercado por seus produtos naturais. Outras reduzem as porções nas embalagens, em uma tentativa de atrair consumidores em busca de satisfazer suas vontades sem sentir culpa por comer demais.

Contudo, para reverter de fato a tendência em curso, as empresas de snacks precisam rever toda a sua estratégia de negócios, a fim de voltar a crescer de forma assertiva e consistente.

Para que essas ações tenham um efeito durável, as marcas precisam dar um passo além e estabelecer um verdadeiro vínculo com hábitos de vida benéficos aos olhos do consumidor, com o engajamento em torno de causas saudáveis e campanhas de bem-estar da população.

Se, por um lado, a boa nutrição é uma questão fundamental, por outro, o estilo de vida agitado desse mesmo consumidor traz novos padrões ao mercado. O consumo de snacks entre refeições e a alimentação fora de casa aumenta a demanda por embalagens práticas, que se adaptem a essa rotina acelerada. A representatividade e a estabilização do poder de compra da geração dos millennials encabeça essa tendência. As empresas devem ouvir as necessidades desses jovens consumidores para orientar seus esforços de criação e relacionamento com o cliente.

Do ponto de vista logístico, a distribuição é um aspecto crítico para o desenvolvimento do setor. As lojas de varejo predominam na comercialização de snacks, com 99%, segundo dados da Euromonitor International. Se os supermercados e hipermercados já são uma ponta consolidada dessa cadeia de valor, o desafio maior é chegar no pequeno comerciante e nas localidades mais distantes dos grandes centros econômicos.

Um dos caminhos para potencializar novas oportunidades é a diversificação de portfólios e mercados, por meio de fusões com empresas que permitam alcançar outros nichos e regiões.

Para responder a todas essas questões, os fabricantes de snacks precisam avaliar o atual cenário a partir de uma perspectiva de longo prazo, adequando seu planejamento de negócios. A inovação em produtos, a entrada em novos mercados, a revisão da estratégia de pricing e a redução estratégica de custos são possíveis caminhos para uma jornada bem-sucedida.

1 Sócio-líder para a indústria de Consumer da Deloitte Brasil

2 Diretor da Consultoria em Estratégia da Deloitte Brasil

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