Não há como negar que está no DNA do ser humano gostar de uma boa história. A humanidade é impactada por histórias desde que o mundo é mundo, o que muda com o passar do tempo é a forma como são contadas e quem é o contador. O marketing, por exemplo, tem trabalhado muito bem com o conceito, seja por meio de campanhas publicitárias, curtas metragens, postagens e personagens nas redes e – por que não – também nas vitrines de lojas.
O storytelling das vitrines ultrapassa uma mera exposição de produtos e torna a cenografia parte essencial da construção da identidade da marca. Ela tem capacidade de gerar não só um encantamento estético, mas engajamento dos consumidores e conversão em vendas. Afinal, quem nunca entrou em uma loja física primeiro por admirar sua vitrine?
Enquanto o chamado “design de entretenimento” já é uma tendência forte entre marcas de luxo, seus bons resultados fizeram com que pudesse ser explorado para atingir também um público mais diverso. O storytelling das vitrines pode marcar presença e fazer a diferença para cada vez mais marcas, basta saber como estruturá-lo.
Storytelling das vitrines pode ser primeiro contato do consumidor com a marca
“O objetivo de uma vitrine é simples: atração. Ela está voltada para quem ainda não foi impactado”, fala a arquiteta Deza Abdanur, sócio-fundadora do Studio Panda, empresa focada em design de entretenimento. A profissional, que atua no mercado de cenografia para eventos corporativos e virtuais há 15 anos, explica que a vitrine pode ser o primeiro contato físico que a marca tem com o público, residindo aí sua relevância.
O desafio é rapidamente gerar identificação e emoção nas pessoas utilizando uma área delimitada, transmitindo uma mensagem sem utilizar palavras. Nestes locais, o grande contador de histórias é a cenografia, que deve expor de maneira estruturada e criativa os conceitos da marca e da campanha, por meio de objetos inanimados.
“O produto pode ser apenas um detalhe. O importante é contar o porquê de ele estar ali, qual é a história por detrás daquele lançamento, quem o produto quer atingir e qual é a maior qualidade que ele tem”, diz.
Quando a marca obtém êxito neste storytelling, o próximo passo é a conversão, ou seja, o cliente de fato se sentir atraído a entrar na loja e comprar algo. Por isso, é tão importante que o projeto de vitrine esteja alinhado com os propósitos da marca – com o que, afinal, o cliente irá encontrar dentro do espaço físico.
É preciso incluir o storytelling das vitrines no planejamento
A materialização da vitrine com um bom storytelling é o final de um processo que começa com o planejamento da campanha de marketing. Por isso, é preciso incluir este item nas discussões que ocorrem no setor.
“As áreas de marketing aprovam a campanha, trabalham em formatos de desdobramentos e estudam o target, junto a um setor que cria os produtos. Depois de tudo definido, o cenógrafo passa por uma imersão (produto, campanha e DNA da marca) para materializar nas vitrines. Não se cria um projeto de vitrine sem o conceito e o produto já definidos”, pondera a arquiteta Deza Abdanur.
Hoje, a relevância do storytelling das vitrines para as demais áreas da empresa está no engajamento e na visibilidade que pode causar. Principalmente com a onda de instalações instagramáveis. Porque, sim, o Instagram e outras redes sociais com foco em fotos e vídeos têm uma grande responsabilidade sobre a expansão do conceito.
Segundo a arquiteta, para as marcas que já exploravam o storytelling nestes espaços, o fenômeno foi só um plus para o crescimento orgânico na internet. Já para quem nunca explorou o potencial das vitrines em suas lojas, o foco mudou.
“O entendimento da importância em atrair curiosos pelas vitrines e gerar conteúdo orgânico nas mídias sociais fez com que as marcas do varejo abrangessem ainda mais sua exposição, utilizando uma área que sempre existiu, mas era pouco explorada”, complementa.
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Vitrines das marcas de luxo contam (e fazem) história
Marcas de luxo, que tradicionalmente valorizam seus projetos de vitrines, acabaram ajudando a fortalecer a importância do design de entretenimento no mundo do varejo de moda e beleza. O apreço é tanto que a francesa Louis Vuitton, por exemplo, conta com o livro Windows, que registra o histórico de suas vitrines (“o preço do livro é quase de uma bolsa”) e prova a relevância que elas têm para a companhia.
A também francesa Hermès é outro caso que se destaca neste universo. Ela faz questão de divulgar quem é o cenógrafo de suas vitrines e a dedicação dada à construção dos espaços.
“Ambas as marcas entendem que a valorização da vitrine pode atrair um público mais jovem, que detém um grande poder de compra. Além disso, os projetos valorizam muito as marcas e atraem todos os olhares. Eles saem da mesmice de expor produtos de uma forma tradicional e inovam na criatividade, sem medo de errar”, afirma a arquiteta Deza Abdanur.
Públicos mais abrangentes também são engajados por boas vitrines
Engana-se, no entanto, quem pensa que a tendência permaneceu apenas no mercado de moda de luxo. Cada vez mais, varejistas que possuem um público mais abrangente têm voltado sua atenção à importância das vitrines e adaptado os projetos para seus objetivos e target de clientes.
A arquiteta Deza Abdanur cita duas marcas populares que souberam usar o storytelling das vitrines muito bem a seu favor. A primeira delas são as Lojas Marisa da Avenida Paulista, em São Paulo. “Ela está sempre mudando suas vitrines. A quantidade de carros e passantes na frente da sua fachada é absurdamente alta, por isso, o investimento em criar um grande outdoor de lançamentos de produtos vale a pena”, fala.
Já a marca de beleza Skala, que possui várias linhas de produtos, cada um com foco, embalagem e objetivos diferentes, tem utilizado o design de entretenimento para contar histórias específicas para cada um deles. Dessa maneira, torna possível criar identificação com todos.
“Este tipo de pensamento está claro no conceito do estande da marca feito para a Beauty Fair de 2022: ‘beleza é para todos’. O storytelling também é para todos. É uma forma de mostrar respeito aos seus consumidores e deixar claro que uma história bem contada no design da vitrine não é propriedade de marcas de luxo”, completa a profissional.
Dicas práticas para um storytelling das vitrines de sucesso
Cada vez se firmando como uma tendência mais forte que ultrapassa os limites das marcas de luxo, o storytelling das vitrines pode ser adotado por todos. Algumas dicas da arquiteta Deza Abdanur podem ajudar:
- Inserir os projetos de vitrines dentro do budget anual de marketing.
- Trabalhar com padrões de exposições para transmitir qualidade de projetos.
- Entender que existem uma infinidade de caminhos criativos: as vitrines podem ser conceituais, artísticas, tecnológicas, temáticas… O que faz mais sentido para a marca naquele momento?
- O storytelling das vitrines deve fazer parte da agenda anual de lançamento de campanhas e até de datas comemorativas.
- Como toda mudança é um tipo de ruptura nos padrões da empresa, é interessante começar gradualmente a inserir a tendência. Uma sugestão é criar vitrines nas cores do Natal ou elementos do Halloween, por exemplo.
- Lembrar da máxima de que “menos é mais”. Não há necessidade de encher o espaço de produtos e poluir o olhar de quem passa. O ideal é materializar o conceito que se quer transmitir, sempre com coerência.
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