A chamada “taxa das blusinhas” gerou reações negativas entre os consumidores brasileiros nas redes sociais. Prova disso é que na semana anterior à aplicação do imposto, a Latam Intersect Intelligence elaborou um Relatório de Análise Emocional. O monitoramento, feito com base na tecnologia Delta Analytics, se deu entre 26 de julho (sexta-feira) e 1º de agosto (quinta-feira).
Vale lembrar que o imposto de importação começou a ser aplicado sobre aquisições internacionais de até US$ 50 em 1º de agosto. A regra foi determinada pela Medida Provisória (MP) n.º 1.236/2024.
As novas diretrizes estipulam que todas as compras internacionais com valor até US$ 50 agora são taxadas. Ou seja, o novo imposto de importação adiciona 20% sobre compras de até 50 dólares em itens importados. Com isso, o objetivo do governo é equilibrar a competitividade entre os varejistas nacionais e suas contrapartes internacionais, como Shopee, Shein e AliExpress. A justificativa é que, ao tributar essas compras, o governo pode gerar uma receita estimada de R$ 1,3 bilhão em 2024. E, por consequência, o valor aumentará para R$ 2,7 bilhões em 2025. Esse dinheiro seria redirecionado para financiar investimentos e desenvolvimento nacional.
Taxa das blusinhas sob a ótica dos consumidores
Em suma, a pesquisa da Latam Intersect Intelligence garante: as opiniões consideram a taxa desproporcional. E, em suma, ela é considerada como um fardo adicional para os consumidores. Vários especialistas em economia destacam que a taxa, inclusive, pode impactar principalmente as camadas mais vulneráveis da população, que já enfrentam dificuldades financeiras.
Em suma, a pesquisa analisou as conversas no Facebook, Instagram, TikTok e Twitter/X sobre o assunto “imposto de importação”.
E então, o relatório da agência de relações públicas especializada em campanhas corporativas e de consumo para clientes em toda a região da América Latina revelou o seguinte: os usuários do Facebook expressaram principalmente surpresa. Em segundo lugar, no Instagram houve uma combinação de expectativa e medo. Analogamente, no TikTok, foi registrada uma mistura de medo e felicidade. Por sua vez, no Twitter/X predominou a raiva e o medo.
Emoções mais registradas
As emoções mais registradas foram 67,74% de surpresa no Facebook. Na sequência, aparece o medo, com 33,33% no Twitter/X. Foi registrado 29,49% de expectativa no Instagram e 28,17% de felicidade no TikTok.
“Medo e surpresa não são as melhores emoções esperadas em relação a um problema político. Principalmente, se esse problema for altamente controverso para o governo brasileiro, como essa taxa”, observa Roger Darashah, diretor da Latam Intersect PR. “Embora haja um pouco de felicidade refletida no TikTok, bem como expectativa no Instagram, a perspectiva geral é, em grande parte, negativa“.
Outro dado importante é que 7 de cada 10 brasileiros apreciam realizar compras em sites internacionais. E, na verdade, são os consumidores de menor poder aquisitivo que mais utilizam essas plataformas. Estatisticamente, são os jovens e as mulheres os mais inclinados a comprar online. Resta saber como as redes sociais, que também abrigam vozes jovens, continuarão a reagir a este tema. Principalmente com o passar do tempo, conforme mais consumidores forem enfrentando os novos impostos em suas compras, conforme explica Roger.
Monitoramento
“Certamente, é algo que continuaremos a monitorar”, conclui Roger. “E talvez o governo devesse considerar essa análise emocional. Isso porque a tecnologia, inegavelmente, permite que marcas e organizações vejam o mundo – ou uma questão específica – através da perspectiva de outros. Em outras palavras, é possível ver a maneira como os consumidores, estejam ou não informados, buscam um determinado produto. Analogamente, também é possível verificar como eles buscam informação antes ou depois da compra”.
Em síntese os Relatórios de Análise Emocional (AE Reports) destacam as emoções mais associadas a uma marca. Mas eles também buscam analisar as emoções que estão por trás de produtos, serviços, ou assunto nas webs, notícias e em qualquer plataforma social.
Vale destacar que os dados de AE são específicos por idioma e país. Eles permitem que os gestores de marca comparem os sentimentos frequentemente associados à sua marca ou produto com os principais concorrentes. Ademais, eles podem monitorá-los ao longo do tempo ou em relação a marcos importantes (eventos, lançamentos, campanhas, etc).
Golpes
Com a recente implementação da taxa das blusinhas, golpistas encontraram uma nova forma de enganar os consumidores. Relatos nas redes sociais, desde o fim de julho, mostram que muitos consumidores receberam SMS fraudulentos solicitando o pagamento de taxas alfandegárias. A princípios, essas mensagens vêm com links que levam a páginas falsas.
Nesse ínterim, essas páginas imitam sistemas de rastreamento de encomendas. Por consequência, elas solicitam informações pessoais, além do pagamento de taxas através de cartão de crédito ou Pix para a liberação de supostas compras retidas.
A Kaspersky, especializada em cibersegurança, descobriu mais de 50 domínios maliciosos utilizados nos últimos dias para realizar golpes relacionados à taxa das blusinhas.
Os valores demandados pelos fraudadores variam entre R$ 1,50 e R$ 88,90. Fabio Assolini, diretor da equipe global de pesquisa e análise da Kaspersky para a América Latina, destaca a importância de ter cautela nas compras online e ficar atento a qualquer mensagem suspeita recebida durante o processo.
Como funciona a taxa?
Daniel Coêlho, presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), explica que a taxação do imposto de importação é oficial e calculada pela aduana, sendo responsabilidade da Receita Federal.
“Como se trata de um imposto federal, a sociedade que adquirir produtos internacionais por meio de sites ou outras plataformas deve estar atenta ao receber notificações de pagamento de imposto. Dessa forma, é fundamental verificar se a informação está realmente vindo do site onde a compra foi feita, evitando links clonados ou mensagens fraudulentas, especialmente devido a esse novo imposto que não era cobrado anteriormente. Há muitos golpistas enviando mensagens ou falsos links que redirecionam para outros canais”, afirma.
Ele acrescenta que, muitas vezes, é necessário que o consumidor verifique se o nome do remetente do pagamento via Pix ou boleto corresponde ao da loja onde foi realizada a compra. “A orientação é que, ao receber a notificação da taxação, você deve checar na plataforma oficial onde adquiriu o produto para garantir que pagará o imposto corretamente e para a entidade adequada. Lembre-se de que a alíquota é de 20% do imposto devido, além dos 17%”, conclui.
Repercussão
A repercussão dessas fraudes tem se destacado nas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), onde muitos usuários compartilharam suas experiências e alertaram outros consumidores. Curiosamente, até pessoas que normalmente não fazem compras internacionais tornaram-se alvos desses golpes, evidenciando a ampla atuação dos criminosos.
O método de fraude que está sendo aplicado por causa da taxa das blusinhas não é uma novidade. É comum que golpistas explorem assuntos de grande interesse público para lançar seus ataques. Só para exemplificar, destaque para as fraudes relacionadas aos valores a receber anunciados pelo Banco Central em 2022 e estratégias fraudulentas durante a distribuição do auxílio emergencial na pandemia. Em contrapartida, esses eventos ressaltam a importância de se manter alerta e verificar a autenticidade de qualquer comunicação relacionada a pagamentos e informações pessoais.
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