Dono de 30% do faturamento de todo o setor no Brasil, os supermercados do Estado de São Paulo esperam crescer entre 2,71% e 3,1% em 2019, alcançado um faturamento de R$ 108 bilhões. A expectativa é conservadora e mantém números semelhantes aos apresentados pelo setor no ano passado. A estimativa foi feita pela Associação Paulista de Supermercados (APAS).
O setor cresceu 2,32% ao longo de 2018 sobre uma base de mesmas lojas, segundo o levantamento. O faturamento nominal do setor no Estado foi de R$ 103 bilhões. As vendas alcançaram um pico em março, com crescimento de 5,25% no acumulado do ano, sendo sucedido por uma desaceleração considerável em abril, quando o crescimento não passou de 2,94% e se manteve abaixo de 3% até o fim do ano.
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A queda do desempenho do setor veio junto com as primeiras expectativas frustradas de crescimento do PIB (que apontavam até 3% de crescimento econômico), e antes da greve dos caminhoneiros (junho) e da disparada do dólar (setembro), fatores comumente apontados como agravadores da crise no varejo. “O fato é que o PIB não andou como o previsto”, diz Ronaldo Santos, presidente da APAS.
Os resultados ficaram abaixo do esperado, segundo a APAS. A associação tinha previsto um crescimento de 2,5% a 3% para o setor no início do ano. Santos crê que o Brasil tem potencial para retomar o nível econômico do pré-crise. “Nós tivemos quedas próximas de 8% do PIB em 2015 e 2016. Temos PIB escondido em algum ligar e nossa expectativa de crescimento vem dessa base. Com a crise no governo federal, isso foi impactado. Nós estávamos na expectativa, como acontece agora”, lembra o executivo.
A APAS coloca como condições primordiais para a retomada do crescimento a manutenção da taxa de juro nos patamares atuais, próxima de 6,5%, e as reformas fiscal e da previdência. Santos destaca que a reforma fiscal é uma “equação extremamente complicada” porque a redução de impostos, como pede o setor empresarial, poderia aumentar o rombo nas contas públicas. “Mais do que reduzir imposto, é preciso tirar aquilo que atrapalha o caminho do empresário”, diz o executivo, que avalia como positiva a ideia de um imposto único. “Não existe um exemplo para que a gente possa se basear, mas poderia ser testado.”
Sobre a previdência, Santos reconhece que a proposta não tem poder de aliviar as contas públicas neste ano e possivelmente nem neste governo, mas crê que sua concretização poderia melhorar o ambiente de negócios. “Se acontecer, isso gera uma expectativa que pode impactar no aumento do PIB”, afirma.
Reforma trabalhista
A reforma trabalhista, como da previdência e fiscal, foi defendido pelo setor supermercadista como um dos pilares para retomada do crescimento. Em vigor desde novembro de 2017, a reforma regulamentou o trabalho intermitente, apontado por Santos como um dos pontos de destaque. Por enquanto, porém, esse dispositivo não refletiu na criação de novos postos.
A estimativa para 2018, com a solidificação da nova lei trabalhista, era de criação de 12 mil novos postos de trabalho no setor supermercadista do Estado. Ao final do ano, o número de postos criados foi de apenas 5.133, o terceiro pior resultado desde 2010, perdendo apenas para os anos do auge da crise (2015 e 2016). Entre as mais de 5 mil vagas criadas pelo setor em 2018, apenas 30 foram no perfil de trabalho intermitente.
O executivo crê que a desconfiança dos empresários sobre os ricos jurídicos ainda impacta a adesão das empresas a esse tipo de contratação. “Ainda existe muita insegurança jurídica e dúvidas se os tribunais vão aceitar esse tipo de contratação”. O setor supermercadista do Estado de São Paulo emprega mais de 500 mil pessoas. Com o resultado de 2018, o setor reduziu as perspectivas de criação de emprego para este ano para 9 mil vagas.