Em tempos de consumo consciente, valorização do vintage e de peças, marcas e produtos que possuem personalidade própria, um novo estilo fashion se faz presente. A moda com inspiração no lifestyle da Escandinávia. Essa é a tendência que vem chegando desde 2017 e deve ganhar força com as gerações mais jovens, como os late millennials.
Tudo graças ao seu DNA minimalista, sua simplicidade sofisticada e, principalmente, por refletir uma atitude mais leve e positiva: “A moda escandinava valoriza uma identidade cultural marcada pela alegria de viver o simples”, explica a consultora de estilo Jenniffer Nocetti, que já foi modelo, e hoje se dedica a organizar o closet de mulheres que não querem parecer tão sérias na maneira como vestem, bem como de executivas que precisam deixar o terninho de lado para criar uma assinatura pessoal mais forte.
No bate-papo abaixo você vai entender porque essa tendência chegou para ficar: “Uma das características mais fortes do universo fashion escandinavo é o senso estético sem medo de julgamentos, que presa a essência feminina além da forma física”. Aposto que até o final da entrevista, você também desejará esse modo de ver o guarda-roupa e a vida. Vem ler!
CONSUMIDOR MODERNO – Quais são os elementos básicos de estilo das mulheres escandinavas? Como podemos definir a moda, o senso fashion que circula por lá?
JENNIFER NOCCETTI – O design e a decoração antecederam esse boom fashion escandinavo. Eles são marcados por um estilo limpo minimalista, com elementos que remetem ao conforto (como paredes brancas, móveis de madeira e tapetes felpudos), e ainda fazem sucesso. Esse raciocínio também migrou para a moda escandinava, que tem uma atitude atemporal e uma pegada menos consumista. A moda escandinava valoriza uma identidade cultural marcada pela alegria de viver o simples e está transpondo o apelo minimal ao usar muitas cores e paletas surpreendentes. Na minha opinião, uma das características mais fortes do universo fashion escandinavo é o senso estético sem medo de julgamentos, que presa a essência feminina além da forma física.
“Imprime o jeito de viver de uma cultura que preza a alegria e o bem-estar”
CONSUMIDOR MODERNO – Na sua opinião, porque o estilo fashion de homens e mulheres do norte pode cair nas graças de outras pessoas do mundo?
JN – Talvez pela ancestralidade desbravadora e engenhosa dessa cultura, que há anos navega pelo mundo observando o modo de vida de outros povos. Vejo uma essência globetrotter no estilo escandinavo atual. Além do arquitetônico chic, que causa menos estranheza que o asiático por ser mais confortável e acolhedor. A explosão de cores e combinações, e a retomada do handmade têm um apelo muito contemporâneo que está no inconsciente coletivo atual.
CONSUMIDOR MODERNO – Por bastante tempo, as mulheres francesas mantiveram o título de mais sofisticadas do mundo com seu jeito de vestir effortless chic, que pressupõe estar elegante, mas sem fazer esforço para isso. O mesmo vale para o estilo escandinavo?
JN – As francesas são realmente a marca da sofisticação, mas o estilo escandinavo é um sopro de alegria, na minha opinião. É mais brincalhão, mais confortável e não se identifica apenas pelo minimalismo confortável clássico do estilo decorativo escandinavo. Na moda, ele empresta modelagens de várias épocas e transpõe isso para atualidade, cruzando tie-dye com cortes tradicionais da alfaiataria, por exemplo. É effortless também, pois imprime o jeito de viver de uma cultura que preza a alegria e o bem-estar. É um jeito de ser mais despretensioso, livre de julgamentos.
CONSUMIDOR MODERNO –Meu palpite é que o estilo fashion escandinavo pode ser uma boa saída principalmente para quem trabalha em ambiente corporativo e tem que se vestir com elegância, mas certa sobriedade. Você acha que é possível fazer essa associação?
JN – Se o viés realmente for sóbrio, a linha minimalista e arquitetônica bem tradicional do estilo escandinavo é uma ótima saída. É o novo atemporal, é chique e bem pensado. Fora que são peças mais voltadas para enxergar o design ou o estilo – e não o corpo de quem veste.
CONSUMIDOR MODERNO – Você acha que essa moda tem chances de pegar também no Brasil?
JN – Considerando que o estilo escandinavo é multifacetado e tem essa como uma maneira de viver do que propriamente uma palavra que defina o estilo, tem muita chance dessa “moda” pegar no Brasil, seja pela explosão de cores e bordados fofos, quanto por conta do estilo minimal (que vai desde o futurista até o simple chic).
CONSUMIDOR MODERNO – O que homens e mulheres brasileiros podem pegar dos ensinamentos de estilo escandinavos e incorporar agora mesmo no guarda-roupa? Cores? Cortes? Peças-chave?
JN – Lições que são fáceis de enxergar nesse estilo são as de que, às vezes, o menos é mais, porém, às vezes o mais é maravilhoso. A questão mesmo é o estado de espírito da pessoa. Acho que todo mundo pode incorporar desde já o fashion escandinavo, sem necessariamente precisar fazer compras muito específicas. Roupas floridas, meias de cores e estampas expressivas e um bom tênis chuncky já seguem esse espírito. Modelagem oversized, sobreposições, cores adocicadas e conforto também. Além de peças-chaves, o interessante é se produzir com aquilo que já habita o armário, ou mesmo emprestar da família, rever peças de valor afetivo, como o tricô que a avó fez, a pulseirinha engraçada que sua sobrinha deu, roubar um casaco do marido. Essas atitudes sustentáveis de não precisar comprar tanto para compor um estilo único é muito da vibe escandinava.
CONSUMIDOR MODERNO – A atriz sueca Alicia Vikander é um dos ícones de estilo dessa moda dos nórdicos – que é bem mais low profile, como você já explicou. Acredita que o nome dela, como celebridade, e esse estilo de vestir e de ser (até mesmo quando a pessoa é famosa) é um reflexo do momento social e histórico que vivemos hoje? É a contrapartida para o over consumismo do fast-fashion ou dos tipos muito montados como as irmãs Kardashian?
JN – Eu creio que o estilo de Alice seja bem abrangente como o estilo em questão: ora ela está simple chic, ora preciosíssima usando algo da marca Louis Vuitton. Como personalidade pública, ela por si só tem uma personalidade mais low profile. Alicia sempre está muito correta e parece não se arriscar no campo fashion como as Kardashians. O que ela representa como “rosto da nova moda” diz muito sobre o momento do slow fashion, e o consumo desenfreado. Não possui conta em instagram, não está preocupada em “vender” seu estilo e fazer parte de um mecanismo de consumo.
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