A futuróloga Anne-Marie Dahl, ex-consultora do parlamento dinamarquês, abriu o segundo dia do Wired Festival 2018 dando uma direção sobre o que podemos esperar do futuro do trabalho. A dinamarquesa afirmou que estamos em um momento de transição da sociedade da informação, do Big Data, das máquinas assumindo funções humanas, para a era da sociedade emocional, onde o mais importante será a criatividade e a empatia.
É difícil saber o que é causa e o que é consequência quando relacionamos o perfil emocional a sociedade com a organização do trabalho. Por um lado estamos vivendo a economia da experiência, onde a frase “Não é possível vender areia no Saara” perdeu o sentido, porque levar um pouco a areia significa levar um pedaço da viagem para casa. Por outro lado, quando as máquinas são capazes de executar trabalhos antes feitos apenas por humanos, não há saída para nós, a não ser nos diferenciarmos pela nossa capacidade de sentir e inventar.
Trabalhar com o coração
Para Anne-Marie, as mudanças “globais digitais”, na velocidade em que ocorrem, criam um mercado de trabalho cada vez mais rápido, barato e individualizado. As empresas não conhecem suas concorrentes, os trabalhadores tem colegas de trabalho que nunca viram e não há mais estabilidade. Segundo a futuróloga, esse cenário já existe em alguns ambientes, mas deve ser acentuado no futuro. “Meu pai teve um emprego, eu tive seis. Meus filhos, muito provavelmente, terão seis ao mesmo tempo”, afirma Anne.
A visão de quem estuda as grandes tendências do mercado futuro aponta para um conceito se flutuabilidade de trabalho. Os jovens vão ser contratados por projetos e poucos criarão vínculo. Isso gera uma grande concorrência a nível global, já que uma empresa poderá contratar uma pessoa de qualquer lugar do mundo. “Você tem que ser o tempo todo a melhor versão de si mesmo”, diz a futuróloga que acredita que os jovens precisarão ser fortes psicologicamente para lidar com essa nova dinâmica e essa competitividade extrema.
As relações de trabalho do futuro estão diretamente ligadas, segundo Anne-Marie, a todas as grandes tendências: cortar glúten , lactose e carne da alimentação para ser mais saudável; fazer yoga porque o estresse atrapalha o desempenho no trabalho. Isso acontece porque as pessoas são o tempo todo pressionadas a serem as melhores em tudo.
“As mídias sociais nos fazem viver duas vidas ao mesmo tempo. Uma vida de palco, perfeita, divulgável. E uma vida atrás das cortinas, onde podemos relaxar. O problema é que cada vez mais, as tecnologias permitem que sejamos monitorados 24 horas por dia”, analisa a palestrante.
Consequências emocionais
De acordo com a OMS, estresse, ansiedade e depressão serão os principais problemas se saúde da humanidade no futuro. Isso é o resultado de pessoas sobrecarregadas, por mudanças rápidas e radicais. A falta de estabilidade, seja no mercado de trabalho, ou na vida pessoal, fazem com que os jovens “vivam várias vidas em uma só”. Atualmente, é possível mudar o corpo com cirurgias estéticas, mudar de pais para trabalhar, trocar de parceiro com alguns cliques em aplicativos como o Tinder.
A futuróloga define os jovens do futuro como situacionais, que mudam a forma com que vivem ao longo da vida dependendo da situação. Ao mesmo tempo que essa liberdade de escolhas permite derrubar fronteiras entre trabalho e lazer, aprender cada dia mais, conhecer pessoas diferentes, a previsão dos futurólogos é que as crianças de hoje serão “um exército de jovens infelizes”. Anne explica que toda instabilidade, se não for bem trabalhada, gera insegurança e medo do imprevisível. “Uma das principais razões do estresse é a falta de entendimento do que está acontecendo no mundo.
Como serão os consumidores?
O conceito flutuante de mercado desmorona qualquer caminho de estabilidade. Mas, na verdade, caminha lado-a-lado com uma sociedade cada vez mais comandada pelas emoções. Anne lembra que hoje é comum o desejo de fazer turismo social, nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, ou indo mais longe, o turismo de guerra na Síria.
Diante de consumidores mais “emotivos” e individualistas, em busca de experiências, as empresas serão avaliadas não pelos produtos que oferecem, mas por sua história. “Se eu não me sentir bem com algum comportamento da marca, não compro mais seu produto”.
Olhando por esse ponto, as empresas precisarão se articular para oferecer serviços customizados aos clientes, que mudam de comportamento de acordo com diferentes situações e emoções. Explorar novas tecnologias e usa-la de forma mais humana, também é uma estratégia para conversar com esses novos consumidores, mais sensíveis e preocupados com o futuro do planeta.
Em relação aos novos modelos de trabalho é importante estimular o trabalho e a decisão em equipe, os líderes serem empáticos com os empregados, valorizar a autenticidade e dar tempo as pessoas. Reorganizar os modelos de trabalho é uma grande estratégia de inovação para se enquadrar no mercado do futuro e enfrentar competidores desconhecidos de uma economia globalizada.
Sobrevivendo ao futuro
O lado bom de trabalhar onde você quiser, sem vínculos vitalícios e com liberdade para criar é a infinidade de oportunidades que podem surgir. O jovem do futuro não vai trabalhar só para aprender e ganhar um salario. O trabalhador de amanhã provavelmente terá como propósito inovar em busca de um mundo melhor.
Para sobreviver a avalanche de informações e mudanças, Anne recomenda que os jovens se organizem, criem grupos e comunidades, reduzam as distâncias. Ser criativo, admitir cometer erros e fazer perguntas pouco inteligentes, também ajudam a lidar com a complexidade do mercado de trabalho. A empatia, o bom relacionamento e o bom desempenho em projetos são essenciais para garantir o surgimento de novas oportunidades.
“O futuro assusta, mas precisamos pensar sobre ele e traçar uma direção para encarar juntos as mudanças que virão”, afirma a futuróloga dinamarquesa. Ela reforça que as grandes tendências podem parecer “esmagadoras”, mas que sempre haverá contra tendências que ajudarão a equilibrar toda essa onda.