Eu peguei estrada no Brasil em abril, primeira vez em cinco anos, e fiquei impressionado com um serviço que funciona: a fiscalização. Parentes emprestaram uma bela casa em Maresias (no litoral paulista) e com madame Blinder e filha mais nova de férias resolvemos pegar carona na mordomia. Pegamos o carro da irmã, assim que chegamos em São Paulo, e lá fomos rumo ao litoral em meio aos alertas: hoje em dia o Big Brother realmente controla ruas e estradas; nada de excesso de velocidade, siga à risca as regras de trânsito, não colabore com a indústria de multas.
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Claro que o território era familiar: Imigrantes e depois a Rio-Santos. Já meio gringo (são 30 anos de estrada norte-americana), finalmente entendi melhor a piada que o ministro Paulo Guedes é um posto Ipiranga, tanto pela profusão dele como pelas suas ofertas. Bastante abastecido de álcool (combustível) e piadas, chegamos a Maresias, chegamos ao paraíso e lá reencontrei os velhos pecados.
Sim, estava em praia de rico, mas o Brasil está na pindaíba e eu ainda fico chocado com os preços de Primeiro Mundo (e olha que fazia as contas com o dólar a quatro reais), enquanto os serviços continuavam na mesma. Sem fazer arenga sobre a elite brasileira, sempre fico estarrecido com sua disponibilidade aquisitiva e um blasé para aceitar a vida como ela é (pagando o que paga em meio a mais uma década perdida que se avizinha).
Mas não estou aqui para refletir sobre o eterno gigante brasileiro que não desperta para o seu potencial e sim para ficar na minha praia (Maresias e assuntos relacionados a atendimento ao consumidor). Estivemos em dois restaurantes caros (comida decente e vista maravilhosa das praias de Maresias e Juquehy). O ritmo de atendimento era na base de o barquinho vai, o barquinho vem. Em um dos restaurantes, vimos nossos pratos no balcão boiando por um bom tempo, até o garçom se comportar como salva-vidas e ir resgatá-los.
Mas toda lentidão no serviço sempre acompanhada daquela solícita educação brasileira. A contrapartida era a grosseria das “zelites” brasileiras com os serviçais. É o que é: existe o pecado abaixo do Equador. De velhas viagens, eu me lembrava dos quitutes do litoral paulista (doces e salgados). Parei numa lojinha, seco por um salgadinho, e a moça respondeu: “Moço, o senhor me desculpe, mas, como hoje choveu, não houve entrega”.
Aí descobri algo mais moderno, uma fantástica gelateria com direito a café expresso. Fui informado de que ela funcionava das 14 às 22. O atendimento até que era decente, mas o horário nunca pontual. Teve um dia em que dei as caras por volta das 14 e uma moça que varria o alpendre informou que abriria por volta das 15.
No entanto, por que reclamar da vida no paraíso? Quanto mais lenta, melhor. E nada se compara à felicidade que é ser chamado de “moço”. No mercadinho, a moça demorou um tempão para acertar as contas da minha compra, mas na saída, com sorriso encabulado, alertou o moço que sua camiseta estava ao avesso.
E dizem que não existe fiscalização no Brasil.
* Caio Blinder é jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection, da GloboNews