A cada minuto que trabalhamos remotamente, o ambiente ao nosso redor se transforma. Quando colocamos os pés para fora de casa, fazemos com que nossa vizinhança, nosso bairro e nossa cidade se transformem. Estamos passando por uma grande mudança dos lugares, e algumas tendências e consequências da reformulação dos espaços físicos já se tornaram nítidas.
A pandemia está forçando pessoas e empresas a modificar espaços menos frequentados e a dar nova utilidade a outros. Na esfera pessoal, as pessoas perceberam a importância de tornar seus lares mais confortáveis, enquanto as organizações e suas marcas repensam como – e se é conveniente – fazer o consumidor sair de casa.
Algumas tendências de reformulação dos espaços físicos já mostram impacto sobre o comportamento do consumidor e abordagem das marcas. Confira seis delas.
1. Escritórios transformados em residenciais
Muitos locais de trabalho subutilizados ou não valorizados estão sujeitos a se transformarem em espaços residenciais, uma vez que muitas pequenas empresas ou profissionais liberais passam a trabalhar apenas em casa sem a obrigação de ter sede própria, como lembra o sócio do escritório de arquitetura FGMF, Fernando Forte. “Um bom exemplo disso são os diversos retrofits que vêm acontecendo, por exemplo de andares de edifícios que eram estritamente de escritório e agora são residenciais.”
Consequências da reelaboração dos espaços de trabalho como residenciais estão aparecendo nos números do varejo. Pablo Satyro, diretor de marketing e e-commerce da Telhanorte Tumelero, conta que todas as categorias de itens para o lar das lojas da rede cresceram três dígitos no último ano, com a marca adicionando ainda novas categorias como papelaria, escritório e até produtos de yoga. “O maior crescimento foi da categoria de tintas, muito provavelmente mais no viés decorativo que manutenção. Decoração e jardinagem também cresceram muito, assim como tudo o que tem a ver com o ‘do it yourself‘.”
2. Casa de veraneio e bem-estar acima da localização
Outra tendência com nítidas consequências de curto a longo prazo é a descentralização das concentrações urbanas. Tanto pessoas quanto empresas estão se afastando das grandes cidades. As casas no interior e litoral que serviam de refúgio apenas aos finais de semana agora viram moradia no esquema de home office.
“As pessoas trabalharão de casa boa parte do tempo e vão buscar casas mais confortáveis, mais estruturadas, com espaços de trabalho e lazer misturados. Com essa possibilidade, muita gente deve se mudar para locais em que o acesso a casas maiores e confortáveis é economicamente mais viável do que grandes capitais. Isso viabilizará casas de veraneio como sendo a primeira residência, ou pelo menos em 50% do tempo”, observa Forte.
O especialista observa que as empresas também seguem este movimento, a exemplo da migração da sede da XP para o interior de São Paulo. “A localização vai ser menos importante do que o bem-estar e espacialidade, o que já ocorre no Vale do Silício.”
3. Espaços vazios como depósitos
É óbvio que os espaços públicos e de grande circulação estão passando por mudanças com a pandemia. As dark store – ou ghost kitchen, quando se trata de um restaurante – são um dos maiores exemplos de reformulação de espaços no comércio. Com as interrupções nas compras físicas e forte ascensão do online, já se pode dizer que os estabelecimentos como mini-hub são um recurso logístico permanente ocasionado pelo novo comportamento de consumo.
“Hoje, a gente entrega na Grande São Paulo em até seis horas. Conseguimos um tempo bem menor justamente porque nossos estoques estão nas lojas físicas. Elas são um braço do e-commerce, um minicentro de distribuição para manter essa promessa. A loja pode até estar vazia, mas está vendendo muito online e cada uma delas conta com uma equipe de logística”, aponta o diretor de marketing e e-commerce da Telhanorte.
4. Experiências cada vez mais inspiradoras
A reformulação dos espaços físicos também deve gerar ambientes dispostos a mexer com o visitante. Sistemas de aromas e filtragem de ar para amplificar a experiência do cliente têm tudo para proliferar, assim como sistemas de som e iluminação inteligente.
Nas zonas urbanas, o comércio que passa por sua digitalização tem visto um impactado nos pontos de venda, de maneira que a máxima “loja como experiência” é elevada a um novo nível. Ao intercalar o digital com a experiência física, o comércio percebe que precisa justificar a visita do consumidor com experiências inspiradoras.
“A máxima da ‘loja como experiência’ continua, mas a atração para o local agora depende muito mais do quanto você ensina ao consumidor e ao que exibe a ele”, enfatiza Satyro. “Mais do que nunca, nas lojas é onde ficam as coisas únicas, exclusivas e humanas. É um lugar para inspirar, com mais ideias e maior combinação de categorias de produtos na exposição.”
O executivo exemplifica com o serviço “Projete-se” da Telhanorte Tumelero, uma experiência estritamente ao vivo. “Agora com os lockdowns estamos fechando, mas no Projete-se o comprador senta com um arquiteto para fazer um projeto todo. Este é o tipo de experiência única que vale agora que a maturidade digital aumentou.”
5. Locais mais higiênicos
De acordo com um estudo sobre tendências publicado pela WGSN com insights sobre a retomada do consumo, a preocupação com higiene para evitar a proliferação de vírus e bactérias tem feito empresas adaptarem espaços para tornar o distanciamento social mais fácil e menos institucional. Futuramente, será cada vez mais comuns áreas de recepção com estações higienizadoras e zonas livres.
Além disso, materiais, acabamentos e dispositivos tecnológicos irão garantir a segurança dos locais de trabalho, enquanto salas de reunião serão abertas para a melhor circulação do ar, mas sem renunciar à privacidade.
No setor de serviços, o consumidor tende a ser ouvido especialmente sobre a questão da limpeza – o que já acontece. “É claro que no momento muda muito a relação entre vendedor e cliente, além da avaliação do cliente sobre o serviço. Este era um item pouco avaliado. Hoje, a gente tem uma pesquisa, quase um NPS (metodologia para medição da satisfação e fidelidade do cliente) sobre como ele se sente. Perguntamos se viu o álcool em gel, se o vendedor estava de máscara, se respeitou o distanciamento, e outras coisas. Isso influencia na experiência e decisão de compra”, conta Pablo Satyro, da Telhanorte Tumelero.
6. Mais conforto, menos permanência
De acordo com um estudo da CB Insights sobre tendências para 2021, espera-se que os espaços fiquem menos populosos, porém mais esteticamente agradáveis. Mais do que os cuidados com limpeza e distanciamento social, os lugares terão circulação, na maioria, para pequenas visitas. Ambientes de grande circulação, como lojas e restaurantes, tendem a ter portas automáticas e procedimentos específicos sobre higiene.
No comércio, as compras hoje estão mais diretas e menos sociais – o que tem exigido novas abordagens dos varejistas para assegurar a produtividade dos vendedores. Para isso, são necessários treinamentos para assegurar a experiência do consumidor desejada pela marca. Ao passo que o tíquete médio cai por conta do aumento das vendas online, a tecnologia e a inovação nas vendas ganham extrema importância.
“Uma compra rápida muda o inventário de tecnologia que a gente disponibiliza. Estamos agora acelerando um projeto para que o vendedor faça poucas perguntas e localize exatamente onde o produto está na loja”, revela o diretor de marketing da Telhanorte. “Isso muda a forma com que expomos os produtos e treinamos os colaboradores. Com o atendimento pelo Whatsapp, as lojas agora aproveitam a equipe de vendas para venda e suporte online. São quase como um call center, com mais de 400 vendedores que tiveram treinamento desde gramática e texto até foto. Isso fez até a nossa forma de recrutar mudar.”
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