A pandemia de Covid-19 impulsionou a transformação digital das escolas brasileiras, tendo as ferramentas tecnológicas como principal apoio para viabilização do ensino. Mas, com tantas mudanças vistas nos últimos meses, a sala de aula do futuro provavelmente não será mais a mesma dos tempos pré-pandemia.
Agora, os alunos assistem a aula de casa e fazem provas online. Por outro lado, há uma perda das importantes trocas de convivência. Para Danielly Nunes, gerente acadêmica da Kroton Educacional, a sala de aula do futuro está ligada aos avanços que a tecnologia pode agregar às práticas de ensino.
“Durante a pandemia, todos nós, pessoas físicas e jurídicas, com um instinto de sobrevivência, precisamos dar atenção às nossas formas de interação com o outro. Nos adaptamos e criamos mecanismos para que as relações humanas pudessem ser possibilitadas. O contato físico ficou restrito, mas as interações se ampliaram de forma exponencial. Nesse sentido, pensamos a sala de aula como um espaço que resgate a criatividade e estimule a iniciativa do nosso aluno em suas ações de aprendizagem, e o uso de recursos tecnológicos sempre fará parte disso”, afirma Danielly.
A sala de aula do futuro será híbrida?
Para Danielly Nunes, o fortalecimento do ensino híbrido é uma tendência que se observa em todo mundo, com grande potencial de reduzir a segregação entre o ensino presencial e o a distância.
Mas, vale ressaltar que, qualquer que seja a abordagem, a proposta educacional que se destacará será aquela que coloca o aluno em contato com suas experiências de vida e com os conhecimentos significativos para ele.
Trata-se de um princípio pedagógico, o da aprendizagem significativa, que pode se fazer emergir também mediante o modelo educacional híbrido. “Ademais, em uma nação com dimensões continentais como o Brasil e com uma capacidade de investimento que, não raras vezes, esbarra em limitações, talvez sem o ensino a distância jamais conseguiríamos alcançar todos os alunos que são contemplados por nossas operações atualmente”, pontua Danielly Nunes.
“E não estamos falando somente de capilaridade, mas de um formato democrático e inclusivo sob diversos aspectos, que promova a educação de qualidade de forma acessível, inovadora e eficiente, conectada com as necessidades e demandas do mercado de trabalho, mas especialmente com o propósito de vida de nossos estudantes”, complementa a gerente.
Para Tania Fontolan, diretora pedagógica da Somos Educação, a escola que vai surgir no pós-pandemia terá todo o aspecto cognitivo da aprendizagem desenvolvido por meio da tecnologia, e o espaço de reunião das pessoas – presencial – vai ser dedicado às competências socioemocionais.
Assim, a aula presencial deixará de ser expositiva, centrada no professor, para se tornar um debate, uma construção coletiva, uma aula focada em habilidades do século 21. Para Fontolan, outra característica dessa nova pedagogia digital é que ela deixará de ser baseada em percepções. A partir do momento em que há uma educação híbrida e dados para serem analisados, a gestão da escola mudará.
“Uma das principais vantagens desse modelo é que por meio da digitalização da escola poderemos gerar uma infinidade de dados e, com isso, será possível elevar ainda mais o nível de engajamento e aprendizado dos alunos, entender quais estão sendo os gaps, o que funciona melhor em determinada aula ou não, etc. A personalização do ensino traz mais engajamento e, por conseguinte, mais aprendizado e, portanto, uma redução da reprovação”, analisa a diretora.
Contudo, ela faz uma ressalva: “É importante frisar que a escola, o contato físico, jamais deixará de existir. O papel da escola, de formar cidadãos, de socializa-los e desenvolver competências socioemocionais permanecerá. Só se aprende a conviver, convivendo. Isso nunca será substituído”, destaca.
Por isso a implementação do modelo híbrido na escola brasileira está no centro do debate. O fortalecimento desse tipo de ensino, que une o dinamismo e a infinidade de alternativas do mundo digital com o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos alunos na sala de aula, passa a ser uma realidade cada vez mais presente.
Contudo, é importante ressaltar a importância das estratégias de aprendizagem para proporem percursos e desafios para os quais os alunos precisem utilizar meios digitais para resolvê-los. Essa é uma forma de desenvolver a autonomia necessária para resolver problemas reais na vida atual e futura. E a escola precisa dialogar com essa necessidade de formação.
O desafio, portanto, é escolher abordagens de ensino que vão além da transmissão de aulas à distância, mas que também abram possibilidades e proporcionem suporte para novas formas de aprendizagem com uso de ambientes digitais, garantindo o interesse e engajamento do aluno.
A tecnologia como aliada na educação
Embora as tecnologias digitais estejam cada vez mais presentes em nosso cotidiano, e uma parte da sociedade já seja composta por nativos digitais, uma outra parte ainda é formada por gerações de adultos que vêm de um contexto analógico e, portanto, precisam se adaptar às novas ferramentas disponíveis.
“O nosso objetivo como educadores é viabilizar comunidades colaborativas de aprendizagem, mediando a relação de nossos diferentes alunos com o conhecimento e as ferramentas disponíveis. A experiência educativa já é permeada por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) mais atrativas, proporcionando modelos pedagógicos adequados ao propósito de cada trilha de aprendizagem”, explica Danielly Nunes.
Para Tania Fontolan, o uso da tecnologia na educação deve promover a ampliação da autonomia e responsabilidade do próprio aluno no seu desenvolvimento, além de ampliar os tipos de recursos, colocando o aluno para resolver problemas, para “aprender a aprender” e para resolver desafios digitalmente.
Perspectivas para o futuro da educação
Na opinião da gerente acadêmica da Kroton, em um futuro próximo, no Brasil, a ideia de que é possível aprender com excelência mesmo fora de uma sala de aula convencional não será mais alvo de descrença, assim como já acontece em vários outros países.
Até porque o Brasil já possui um marco regulatório da Educação a Distância, por meio do qual competências são definidas, visando a promoção de processos educacionais pautados na excelência.
“A dicotomia da educação presencial x educação a distância começa a perder terreno, especialmente sob a influência dos protocolos sanitários vigentes, e configura-se o modelo híbrido de educação em todos os níveis de ensino. A nova realidade nos impõe novas configurações para o trabalho e os estudos, com destaque para atividades 100% online, que começam a influenciar um importante quebra de paradigmas”, conclui Danielly Nunes.
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