Verão americano, minha temporada para road trip e também para fazer meus indolentes estudos antropológicos sobre atendimento ao consumidor na estrada. Nos últimos anos, eu coloquei o pé na estrada como há muito tempo não fazia. São longas road trips para o Sul, partindo da minha casa em subúrbio nova-iorquino.
Há dois anos, contei aqui minha peripécia (meu sufoco, meu suor) quando o ar-condicionado do meu carro quebrou logo após entrar na Flórida e tive um atendimento simplesmente horroroso na cadeia automotiva Pep Boys. Nunca mais botei o pé ou o carro lá dentro. Desta vez, pouco antes do feriadão de 4 de julho (semana do fatídico estrago no ar-condicionado dois anos atrás), torcíamos (eu e minha mulher) para uma viagem pacata. E tudo começou mal, embora não relacionado com atendimento ao consumidor.
A saga da Road Trip
Era o trânsito infernal no calor infernal perto de Washington (ar-condicionado impecável), mas nosso humor derreteu mesmo na primeira parada para o almoço. Na Carolina do Norte, como de hábito decidimos almoçar num Cracker Barrel, restaurante de típica comida sulista e de irresponsabilidade calórica. Existe o estereótipo sobre o Sul (o Nordeste brasileiro) de gente obsequiosa, mas lenta para servir.
A nossa cabeça pirou com nossa garçonete grosseira e lenta, mas o sotaque não era local, era até familiar. Antes de não deixar a gorjeta (um pecado para mim), perguntei de onde ela era. Imagine, de New Jersey, lá de casa, terra da família Soprano. Tudo piorou horas adiante quando pernoitamos num motel na Carolina do Sul. Ali, o pessoal até que era obsequioso e rápido no atendimento, mas o cheiro e a qualidade dos lençóis no quarto nos fizeram sentir refugiados da guerra civil americana.
“Não vou mentir, mas eu não entrava num McDonald´s desde a implantação do Plano Real”
O mal-estar hoteleiro foi compensado pelo incrível serviço num McDonald´s, ainda na Carolina do Sul, onde os refugiados de New Jersey foram forçados a tomar café, pois não toparam com nenhuma Starbucks por quilômetros a fio. Oito da matina do domingão e a matrona no caixa do McDonald´s me chama de “honey”. O que mais quero na vida, exceto um bom café? O McCafé até que estava decente e custou a metade dos bucks em uma Starbucks. Não vou mentir, mas eu não entrava num McDonald´s desde a implantação do Plano Real. Really!
Na Geórgia, finalmente achamos uma Starbucks e aderi novamente à seita, serviço de primeira, e sorvi meu doppio espresso macchiato e ainda por cima deu para comprar o The New York Times. Civilização ocidental resgatada. Entramos na Flórida, morrendo de medo de uma fria de ar-condicionado. No pacto do casal, nem pensar em parar o carro antes de Daytona Beach, onde ocorrera a tragédia do ar-condicionado há dois anos. Sucesso na meta, e arriscamos entrar em um restaurante à beira de uma laguna perto do Centro Espacial Kennedy.
E, de fato, fomos ao espaço naquele restaurante caseiro e delicioso, em que o garçom honesto nos advertiu que dois pratos seriam excessivos. Bastava o combinado da casa. Voltaremos para o Goodrich Seafood Restaurant, em Oak Hill, mesmo sem ar-condicionado no carro.
CAIO BLINDER
Jornalista e um dos apresentadores do programa Manhattan Connection da GloboNews