Global ou local? Os novos conceitos do mundo de hoje
- Por Iza Dezon
Se o mundo nunca foi tão conectado cultural e economicamente como agora, por que delimitar territórios ainda é uma pauta relevante? Políticas contra imigração aplicadas durante o governo de Donald Trump ocorreram concomitantemente ao Brexit, na Inglaterra. Ao mesmo tempo, diferentes conflitos entre nações alimentam o desejo por segurança e ressuscitam padrões nacionalistas. Em contrapartida, novas correntes de pensamento questionam os conceitos de nações e fronteiras, uma vez que tende a crescer a parcela da população que enfrenta crises e problemas de escala mundial.
Se a ideia de delimitação territorial ainda é a principal instituição política, o mesmo não se pode dizer dos demais pilares da estrutura social global. Avanços tecnológicos propiciaram a quebra de barreiras no entretenimento e na comunicação, estabelecendo novas formas de contato – na economia, com as criptomoedas e a descentralização que este novo modelo de investimento provoca, e em tantas outras esferas, até mesmo na genética.
Nesse processo, o conceito da globalização como abordagem dominante que promove união, além de modelo econômico e cultural, é questionado e reacende o debate sobre o universalismo. Há, portanto, um desequilíbrio de aspirações e um conflito de interesses que causa tensão entre o local e o global.
Movimentos que buscam a valorização do local firmam a conexão com heranças culturais e singularidades regionais, influenciando a redescoberta da multiplicidade cultural. Em protesto às políticas excludentes, por exemplo, o governo da Califórnia celebrou as raízes latinas no projeto LA/LA (Latin America/Los Angeles), em que cada museu do Estado exibiu histórias ou artistas latinos.
Por séculos, a África foi erroneamente vista como um bloco monolítico, enquanto o continente é um mosaico vivo de culturas, além dos resgates históricos apagados pelo ocidente. A ONU atestou que, até 2024, viveremos uma década dedicada à proteção dos direitos humanos e ao conhecimento das milhares descendências que vieram do continente pela colonização.
Certa “hibridização” cultural abraça manifestações plurais de diversidade, formando movimentos que oferecem novas lentes a debates universais, projetando um futuro com menos fronteiras e mais estímulo às raízes. Fomentar o local, no entanto, não significa nos desvincularmos de questões globais. Ao entendermos que enfrentamos desafios similares, geramos uma força coletiva que ultrapassa instituições políticas.
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