Os altos e baixos de 2020 trouxeram a mesma emoção de andar em uma assustadora montanha-russa – o que também descreve perfeitamente a experiência do varejo brasileiro e provavelmente da maioria dos varejistas pelo mundo.
O ano passado começou com otimismo e grandes expectativas para a economia brasileira. Apesar de todas as notícias sobre a propagação da contaminação vinda da China, depois pela Europa e Estados Unidos, o Brasil continuou agindo como se a doença não fosse afetar o País – pelo menos durante o nosso verão.
Ironicamente, e, infelizmente, talvez sem surpresa, o primeiro caso Covid-19 registrado no Brasil foi detectado durante o feriado de Carnaval, quando milhões de pessoas transitavam pelas ruas com total apoio da maioria dos nossos governadores e prefeitos locais. Exatamente um ano depois, o Brasil passou a ser o segundo maior país em taxas de infecção e mais de 290 mil mortes em números absolutos. Mas se colocarmos este número no contexto de nossa população de mais de 220 milhões de pessoas, o cenário em alguns países europeus parece ainda pior.
Por aqui, não há nada o que comemorar. As novas cepas da Covid-19 se alastram rapidamente por todo o País, os hospitais estão lotados a vacinação avança muito devagar. A maioria dos países está procurando as melhores vacinas, mas, lamentavelmente, o Brasil não foi um dos primeiros a confirmar e solicitar as vacinas.
É uma pena, já que nosso sistema público de saúde tem capacidade de vacinar mais de 15 milhões de pessoas por mês. Ainda assim, mais de 6,5 milhões foram vacinadas até o final de fevereiro.
Olhando para o impacto que tudo isso teve no varejo brasileiro, a boa notícia vem do nosso e-commerce, que registrou seu melhor ano de todos os tempos. Centenas de milhares de lojas virtuais foram criadas e atualmente 41 milhões de consumidores compram online com frequência. As vendas cresceram 73,88% de acordo com o indicador de consumo MCC-ENET, da Câmara e-net e Neotrust. Isso representa 9,3% do total das vendas no varejo (em 2019, essa taxa foi de 5,6%).
O boom dos marketplaces também foi significativo segundo a Webshoppers EBit/Nielsen: no primeiro semestre de 2020 houve um avanço de 56%, com mais de 64 milhões de pedidos de compras com tíquete médio de US$ 85.
Segundo o Mastercard Economics Institute, houve uma grande mudança no comportamento e nos hábitos do consumidor no segundo semestre de 2020, sendo móveis e eletrodomésticos as categorias mais populares (+ 16,92%), seguidas por supermercado e alimentícios (+ 14,26%) e cuidados pessoais (+ 13,80%). Esses números estão estritamente ligados ao estímulo do Governo Federal, que injetou um total de US$ 55 bilhões na economia, impactando diretamente mais de 60 milhões de pessoas, gerando um impacto positivo.
A pandemia acabou criando alguns campeões e destaques nacionais no ano passado. Tanto o Magalu quanto a Via Varejo brilham no mercado de ações com números consistentes. O Magalu é a “joia da coroa” e o varejista mais querido do País – além de ser majoritariamente digital, a empresa teve um crescimento de 150% nas vendas online no terceiro trimestre de 2020, representando 66% de suas vendas totais. Também se destacam o iFood, a Raia Drogasil (que é a maior rede de drogarias do País), a Privalia, a Petz (com seu bem-sucedido IPO em 2020), e o Mercado Livre (que se tornou a maior comunidade de compras online da América Latina, com a maior capitalização de mercado).
Por outro lado, os negócios e serviços da moda como um todo foram seriamente prejudicados durante a pandemia, ainda que a economia brasileira tenha desempenho melhor do que a maioria Países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). De um total de 75 mil varejistas que fecharam suas portas no Brasil em 2020, cerca de 22 mil eram lojas de moda, calçados e vestuário.
O PIB (Produto Interno Bruto) caiu 4,09% – o que é uma grande vitória, visto que o FMI (Fundo Monetário Internacional) previa uma queda de dois dígitos. É claro que prever o crescimento econômico é muito difícil na situação atual, mas diversos bancos e economistas estão prevendo um crescimento firme entre 3% e 4%. Para que isso aconteça, o governo precisa fornecer urgentemente um novo pacote de estímulo à economia – não apenas para os cidadãos necessitados, mas também às centenas de milhares de pequenas empresas que lutam para manter seus negócios vivos.
A tarefa mais complicada, sem margem para atrasos, vem do setor público e político. O Brasil precisa consertar e ajustar o tamanho de seu grande Estado e gastos públicos. O custo da burocracia e dos funcionários públicos se traduz em nossos pesados impostos, em um desafiador emaranhado fiscal. Com quase 60 tipos diferentes de impostos vindos de municípios, Estados ou Governo Federal, não há outro País no mundo onde uma empresa gaste tanto em compliance e contabilidade especializada para atender às mudanças diárias da nossa burocracia tributária.
O déficit público está atualmente em torno de 90% do PIB, o que trará outra dor de cabeça a nosso Ministro da Economia em sua tentativa de equilibrar os gastos por meio de cortes nas políticas fiscais enquanto promove um pacote de incentivo ao consumo. Nós brasileiros costumamos ser bem otimistas e esperamos sucesso no processo de vacinação. Quanto mais rápido isso acontecer, maior será a nossa recuperação.
Atualmente, o varejo espera a recuperação da confiança do consumidor e aguarda o lançamento de um novo pacote de estímulo para se recuperar. A maioria das empresas está em uma condição crítica do processo de transformação digital provocado pela situação atual, e o comércio eletrônico está se tornando a bala de prata para a maioria dos jogadores.
Parafraseando nosso hino, o “gigante pela própria Natureza” deve se levantar do berço esplêndido e fazer seu dever de casa. O Brasil não pode passar mais uma década sem avanço. As soluções são claras: vacinação urgente e rápida, com reformas econômicas para se recuperar e alcançar o crescimento econômico e social que o País precisa e merece.
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