A data exata é um tanto incerta. Há quem diga que foi no final dos anos 40, no século passado. Outros falam em 1954, quando Bill Halley gravou “Rock around the clock”. Outros ainda dizem que tudo começou com os riffs de Chuck Berry entoando “Johnny B. Goode” ou com Elvis chacoalhando os quadris com Blue Swede Shoes. Não importa. O fato é que desde a década de 50 o rock’n’roll firmou-se como gênero musical capaz de reinventar-se em um ritmo de fazer inveja às startups atuais e ainda ajudar a criar um sem-número de negócios e empresas diferentes.
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Tudo isso a partir de uma estrutura musical rigorosamente banal, três acordes, quatro em média, repetidos de forma acelerada e circular, aos quais foram sendo acrescentadas camadas de instrumentos e depois de influências musicais e culturais, desdobrando-se em múltiplos gêneros que foram pouco a pouco encontrando públicos distintos, fãs e consumidores fanáticos. Inicialmente associado à rebeldia juvenil, o rock aderiu à diversas manifestações culturais, condicionando novos padrões de comportamento, moda, alimentação, atitudes e estilos.
Das harmonias de três acordes, derivadas do blues, o rock rapidamente formou um ecossistema de inovação que redundou em bandas de Surf Rock, British Pop, Heavy Metal, Rockabilly, Progessivo, Hard Rock, Country Rock, Southern Rock, Gothic Rock, Speed Metal, Trash Rock, Punk Rock, Grunge, entre outros, em ciclos cada vez mais curtos e intensos.
O rock popularizou a calça jeans e a camiseta como moda oficial da juventude – e de quem quer parecer forever young. Reverberando solos e hits, as gravadoras e os direitos autorais, indústrias de pedais e efeitos sonoros, amplificadores, estúdios de som, acessórios foram criadas (ou ganharam enorme poder, como no caso das gravadoras) e tornaram-se negócios milionários.
Influência
Uma indústria cultural e editorial formou-se para projetar e acompanhar ídolos, organizar turnês, bancar as famosas arenas multiuso que possam receber shows acomodando dezenas de milhares de pessoas. Em certa medida, a nossa ligação umbilical com os smartphones tem origens na evolução da música digital, primeiramente com o CD e depois com os formatos MP3 e os players como o iPOD. Na verdade, o iPOD da Apple foi o precursor do iPhone, e pode ser considerado o avô da mobilidade e do nosso vício por conectividade.
Outro efeito colateral das ondas de inovação causadas pelo rock foi a consolidação da indústria do narcotráfico. O comportamento rebelde e a busca por escapismo tão característicos dos jovens da década de 60 fez do consumo de drogas um hábito e um rito de passagem. O mercado de drogas expandiu-se globalmente.
O que aconteceu é que ele atraiu os contrabandistas de armas e grandes holdings internacionais foram criadas para sustentar o vício de milhões de consumidores desnorteados e fragilizados pelos efeitos deletérios de substâncias químicas com incrível capacidade de criar dependência.
De certo modo, o mercado de drogas também passou por ciclos de inovação, tendo como princípio evitar as formas naturais de alcance e repressão legal, bem como a necessidade de atender, digamos, “clientes” de diferentes níveis de poder aquisitivo. Terapias para cura de dependência, consultorias globais de segurança e o estudo de efeitos terapêuticos de algumas drogas também são consequências dos ciclos de inovação originados pelo ritmo embalado por guitarras ensandecidas.
Evolução
O último dia 13 de julho celebrou mais um Dia do Rock. Uma comemoração justa para uma das maiores e mais influentes inovações criadas pelo homem. O rock em si é um fenômeno surgido a partir de outra inovação extraordinária e que ainda hoje produz efeitos: a transmissão do som. Originalmente concebido para transmitir audições de ópera e concertos, o telefone de Graham Bell foi rapidamente adaptado como meio de comunicação. Mas o conceito de transmissão de som influenciou e popularizou a música, gerou a indústria fonográfica e desembocou na imensa quantidade de ritmos que hoje seduzem consumidores do mundo inteiro.
Dentre todos os filhos da inovação representada pelo som, o Rock continua rolando, sem criar limo e exibindo notável vigor. Um caso que precisa ser melhor estudado pelos teóricos da inovação. Apenas uma banda, The Beatles, traz um conjunto inacreditável de ensinamentos e formas de inovação dificilmente igualadas mesmo por empresas fantásticas como Apple e Google. Imagine o quanto poderemos aprender estudando pelo menos cinco dezenas de outros artistas e bandas?
It´s only rock’n’roll, but I like it.