“A vida é a arte do encontro”, como disse o poeta Vinícius de Moraes. Nossa sobrevivência em sociedade é totalmente sustentada pela presença dos vínculos, pois a dimensão social não é apenas consequência de aspectos ambientais, mas inerente a natureza humana.
Advinda do conceito de estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que compartilham valores e objetivos comuns, as redes sociais abrem caminhos para ampliarmos os relacionamentos.
Há 20 anos, quando junto aos meus sócios idealizamos o site “ParPerfeito”, nosso objetivo era fazer uso da tecnologia para aproximar pessoas e criar conexões. A plataforma foi uma das primeiras do país focada em gerar encontros, uma disrupção para a época, porém já recheada de preconceitos sociais para o momento.
Mas preciso te contar: em meu papel de “cupido virtual”, não se usava assistentes virtuais na época, presenciei muita gente que encontrou um grande amor, vi amizades sendo construídas e ainda tive o privilégio de proporcionar a redução da fobia social de alguns que ingressavam na plataforma com esse intuito.
E assim te pergunto, o que importa realmente? Com toda a certeza, o que vale de fato são as experiências vividas e o que fazemos com elas, pois como seres humanos somos capazes de escolher os próprios rumos de nossas vidas e definir o que nos faz bem e se queremos fazer o bem.
O outro lado das redes sociais
Recentemente, a Netflix nos trouxe duas instigantes reflexões sobre como nos relacionamos nas redes sociais e quais são os impactos das conexões que mantemos.
“The Social Dilemma” (ou “O Dilema das Redes” em português) é um documentário com especialistas em tecnologia e renomados profissionais da área, que fazem um alerta sobre os impactos devastadores das Redes Sociais nos âmbitos da democracia e para a humanidade.
A produção revela o modelo de negócios das mídias digitais, apontando como as marcas lucram e conduzem as pessoas como “produtos”. As maiores dificuldades aparecem nas relações de dependência e na manipulação. Os algoritmos das maiores Redes: Instagram, Facebook e Twitter, além de outras, entregam conteúdos de interesse de cada usuário, por meio dos dados que têm acesso. Assim, é possível oferecer publicidade direcionada para aumentar a rentabilidade.
“As Redes Sociais funcionam como caça-níqueis de cassino. Todo o design é feito para te viciar”, explica Tristan Harris, responsável por narrar o documentário. O objetivo é, de fato, manter o usuário o maior tempo possível online. Esse é o chamado “engajamento”. Quanto mais tempo, mais anúncios personalizados e maiores são as possibilidades de lucro dentro das plataformas.
Esse viés de construção de um estigma social fundamentado nos famosos algoritmos, que direcionam entregas publicitárias cada vez mais assertivas e personalizadas, por um lado podem trazer uma perspectiva de manipulação invasiva inconsciente, mas por outro também podem, quando bem-intencionadas, ajudar na melhor experiência das pessoas que usam as Redes.
Dessa reflexão, não poderia deixar de trazer o olhar de “Emily in Paris”, a mais nova série da plataforma Netflix lançada agora em outubro e que já conquistou quase 1 milhão de seguidores em sua conta oficial no Instagram.
A série trata de uma jovem de Chicago, a Emily Cooper (protagonista interpretada pela jovem atriz Lily Collins), que vai ocupar uma vaga profissional destinada à sua chefe em uma agência de Marketing e Relações Públicas de marcas de luxo em Paris. Como diferencial, Emily traz no currículo suas habilidades em marketing digital e um olhar otimista sobre a importância das conexões nas Redes Sociais para o fortalecimento de marcas à luz de um novo contexto de mundo, mais interativo, horizontal e autêntico.
Emily, apesar de não ter a idade declarada na série, no atitudinal claramente é pertencente a GenZ (jovens abaixo dos 25 anos) sempre com seu telefone a postos para fotografar os momentos relevantes e postar em suas próprias Redes ou na de seus clientes. Comportamento típico dessa geração de nativos digitais que enxergam nas Redes Sociais possibilidades para novas conexões, oportunidades e soluções de problemas.
Desse mindset, nasce a “original” ideia da protagonista de criar uma Collab (novo termo utilizado no marketing para falar sobre “colaboração”, ou seja, quando marcas, pessoas, artistas ou empresas colaboram uma com a outra no intuito de ampliar ou fidelizar consumidores) para uma marca da agência que se viu no momento de rejuvenescer seu público.
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O papel do marketing
Voltando ao ParPerfeito, lá nos anos 2000, fizemos muitas Collabs com joalherias para anunciar alianças no Dia dos Namorados, com floriculturas que desenvolviam produtos exclusivos e marcas de chocolates que ofertavam preços especiais aos usuários no momento certo da jornada. Tudo isso programado para uma entrega publicitária personalizada e assertiva, a partir de uma lógica de interações entre perfis e cruzamento de dados em tempo real.
Os algoritmos já existiam desde essa época com uma única diferença, ao meu ver estavam sendo empaticamente usados para o bem! Afinal, que mal tinha em estimular o usuário a enviar flores ou chocolates para aquela pessoa que ele estava tentando conquistar, ainda que fosse via uma plataforma digital, e do outro lado da mesa como fundadora do site lucrar com isso?
Esse questionamento não é sobre Polianismo!
É sobre acreditar que como empreendedores digitais e líderes de marcas podemos e devemos usar as redes sociais para impulsionar o bem; o que se traduz ao meu ver no uso da tecnologia para conhecer melhor o consumidor, entender as “dores” da sua jornada por meio das interações e assim oferecer conteúdo, serviços e produtos relevantes que atendam genuinamente às suas necessidades e se possível, os surpreendam. Afinal, esse é o papel do Marketing em sua essência!
E a nossa missão como profissionais da área, é a de fazer uso das redes sociais como um exercício de práticas empáticas, relevantes e construtivas.