Você sabia que o mecanismo de puxar a tela do Instagram para cima e ela reaparecer atualizada tem grande semelhança com a viciante atualização proposta pelas máquinas de caça-níqueis dos cassinos? Quem confessou a similaridade viciante dos dois dispositivos foi o próprio designer que o criou, o nova-iorquino Loren Brichter, de 34 anos.
“Agora tenho dois filhos e lamento cada minuto que não estou prestando atenção neles porque meu smartphone me sugou”, disse Loren em uma reportagem publicada pela revista Wired, expert no tema da tecnologia. Com o sugestivo título de de Os arquitetos de nosso cenário digital infernal lamentam muito, a matéria de dezembro de 2019 segue reverberando no primeiro mês da nova década.
Em suas primeiras linhas ela pergunta: “O que aconteceu com a internet tão cheia de criatividade, conectividade e alegria?”. Pois bem, ninguém sabe. Mas enquanto especialistas tentam criar um cenário menos viciante para os anos 2020, vale ficar de olho nos gatilhos que nos fazem grudar na telinha do celular. Entre os principais mecanismos viciantes que o design das redes sociais criou estão:
O LIKE: tão, mas tão viciante para o cérebro humano (aparentemente sempre em busca de aprovação) que ele acabou retirado do Instagram em um movimento feito na metade de 2019 pelo time do aplicativo comprado por Zuckerberg. “Não queremos que as pessoas sintam que estão em uma competição”, disse uma nota do Facebook a respeito do joinha. Bom, tarde demais para isso, certo?
A BOLINHA VERMELHA: você também sente que aquele sinalzinho no topo dos aplicativos não te dá sossego? Pois não se sinta só. O primeiro ícone de atualização dos apps era em azul e o resultado é que ninguém deu muita bola. “Ninguém usou”, disse Tristan Harris, especialista em design do Google e hoje diretor e co-fundador do Center for Humane Technology. Quando a cor mudou para o vermelho, tudo se transformou. Quem consegue ficar com aquele sinalzinho pulsando, pedindo para ser lido? A gente por aqui não.
O SISTEMA DE RECOMPENSAS: a famosa “chuva de likes” ou a atualização em massa de emails dentro do app do smartphone não têm nada de ingênua. Essa atualização com novidades funciona como uma espécie de recompensa por usarmos os aplicativos. A possibilidade de alegria ou decepção fazem com que consultá-los seja algo recorrente, não importa o que se esteja fazendo.
O SCROLL INFINITO: rolar o feed na esperança de que algo mais interessante vai aparecer e ser engolido por essa ação até o dedo ficar dormente – #quemnunca? A exibição praticamente sem fim suga o nosso tempo e dá a impressão de que sempre estamos perdendo alguma coisa, caso não sigamos na rolagem de posts. Não à toa, hoje lidamos com a FOMO (Fear of missing out ou Medo de perder alguma coisa), algo que há dez anos sequer era mencionado.
O BOTÃO DE RT DO TWITTER: “Acho que não foi uma boa ideia”, disse Chris Wetherell, seu criador há mais de dez anos. Sem precisar sequer reescrever o que foi dito por outra pessoa, o RT vai se somando como métrica de sucesso para uma ideia compartilhada no microblog. Resultado: quem não tem um montão deles no Twitter não está com nada.
OS ALGORITMOS: eles trazem conteúdo infinito para você de acordo com suas escolhas anteriores. E nos piores cenários – os quais já estamos vendo acontecer – radicalizam aqueles que os consomem. Se você assistir a um ou dois vídeos, por exemplo, o algoritmo já entende que é mais desse tema que ele precisa te mostrar.
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