Já pensou em criar uma empresa inovadora como a Netflix? Parece difícil. E a jornada não é mesmo tão simples, mas não é nada impossível. Esta é a visão do co-fundador da Netflix, Marc Randolph, que hoje é investidor-anjo e lidera várias iniciativas de empreendedorismo.
A história da maior companhia de streaming no mundo é conhecida por todos, mas o homem por trás dessa história não é tão conhecido assim. Randolph é um empreendedor serial: teve seis negócios antes da Netflix e, após sair da companhia, em 2004, criou outra empresa, além de ser mentor de uma centena de startups.
O empreendedor contou a trajetória de criação de uma das empresas mais inovadores do mundo durante o Vtex Day, evento de negócios digitais, que aconteceu nesta semana, em São Paulo. “A primeira coisa a se pensar é que você não precisa estar no Vale do Silício para criar uma empresa inovadora”, contou.
Outro ponto, segundo o executivo, é que o empreendedor não precisa de um treinamento especial para construir um negócio inovador e também não precisa ser esperto. “Fui esperto? Não. Mas fui persistente.”
Randolph afirma que, ao longo da trajetória de empreendedor, o que valeu foi a persistência em encontrar uma ideia que funcionasse. E como fazer isso? Ele contou as estratégias que usou – e continua usando.
Como encontrar “a” ideia?
Como as ideias surgem? Para Randolph, é preciso olhar novas tecnologias, mobilidade, internet das coisas, tendências, novos modelos de negócios colaborativos, etc. Mas é preciso mais: “Você precisa encontrar uma dor. É preciso treinar seu olhar para ver as imperfeições do mundo, mas não apenas grandes problemas globais, mas sim problemas diários, ligados a sua rotina, seu dia a dia. É assim que as ideias surgem”, explicou o empreendedor.
Outro passo é observar a vida útil dessa ideia. Segundo o empreendedor, metade da vida útil dessa ideia se esvai em 24 horas. Nas próximas 24 horas, a outra metade vai embora, se a ideia não valer a pena. “Se ela persistir, pode ser aquela grande ideia”, diz.
A Netflix nasceu assim, mas de forma ativa e persistente. Ele e alguns amigos começaram uma empresa de software, que foi comprada por uma grande corporação. Depois dela, queriam criar algo inovador. “Quando tivemos a ideia, o primeiro passo foi testá-la. Para isso, vimos quais tipos de filmes seriam interessantes, quanto custaria o serviço, quantas pessoas poderiam usar”, conta.
Quando tiveram a ideia de enviar DVDs por correio, os empreendedores decidiram tanto vender como alugar os filmes. Naquele momento, já identificaram gargalos. “A boa noticia é que a gente tinha muitas centenas de dólares em vendas, mas a má noticia é que estávamos vendendo DVD’s, algo que todo mundo fazia”, conta. Decidiram, então, focar o negócio no aluguel de DVD’s. “Estávamos desesperados para tornar essa ideia realidade. Eu era perfeccionista”, disse.
O que você precisa para inovar?
Se não é preciso estar no Vale do Silício para inovar, ou sequer é preciso ter um treinamento especial ou ser esperto, o que é preciso, então, para criar um negócio inovador? A ideia, como se viu, é importante. “Mas não precisa ser uma grande ideia, uma ideia original, tampouco complicada, porque não é sobre ter boas ideias apenas, mas sobre construir um sistema e uma cultura de testar as ideias o tempo todo”, contou.
A esse sistema de testes utilizado pelo empreendedor serial ele deu o nome de “validation hacking”, que nada mais é testar algo sem efetivamente testar. Ele deu um exemplo: um amigo, certa vez, teve a ideia de entregar bebidas alcoólicas na casa dos clientes. Antes de efetivamente criar o negócio, ele imprimiu alguns cartões de visita e entregou a possíveis clientes. Ele testou a demanda antes mesmo de criar o negócio.
A persistência e a tolerância ao risco são características essenciais para criar negócios inovadores, principalmente porque, em algum momento, alguém vai dizer que aquilo não vai funcionar. “Minha esposa achava a ideia da Netflix estúpida”, contou.
“Ninguém sabe de nada”
Ao longo de sua trajetória como empreendedor, Randolph carregou uma frase do escritor norte-americano William Goldman: “ninguém sabe de nada”. “Isso é verdade em todos os lugares. É preciso acreditar na sua ideia e, sobretudo, arriscar e fazer alguma coisa, tentar alguma coisa. Use todo o tempo que você vai perder para tentar saber se a ideia é boa ou não, a colocando em prática”, conta.
“Acima de tudo isso, você deve ter confiança.”