Em oito meses, a engenheira Angélica Herrmann foi de 2 mil para 163 mil seguidores no Instagram, ensinando receitas que os seus amigos adoravam. No TikTok, o seu perfil atinge mais de 152 mil pessoas. Mesmo com um crescimento rápido, Angélica Herrmann é consultora na área de engenharia em uma multinacional e se especializa em Nutrição e Gastronomia, cursando uma pós-graduação.
Já Marcela Vital, formada em Negócio de Moda, foi construindo sua carreira no ramo da moda, passou pelo varejo, foi assistente de estilo para uma marca, até que decidiu ser dona do seu próprio negócio. “Por conta da nova empreitada eu criei um Instagram novo”, conta Marcela Vital. De lá pra cá, a especialista em moda estudou marketing digital, conteúdos que engajavam e se familiarizou com gravações, o que a fez conquistar mais de 100 mil seguidores no Instagram, compartilhando sua rotina como empresária e mãe.
De acordo com a pesquisa divulgada em maio pela Influency.me, empresa brasileira especializada em Marketing de Influência, o Brasil possui mais influenciadores digitais do que dentistas – mais de 500 mil – e ocupa a primeira posição no ranking mundial de países em que o influenciador é mais relevante para a decisão de compra. No entanto, apenas 37% sobrevivem da renda de influenciadores, sendo que 21% desses profissionais também têm um trabalho CLT, 19% atuam como freelancer, 13% têm marca própria e 10% trabalham no mercado de afiliados ou com infoprodutos.
Diante disso, surge uma dúvida comum: quanto ganha um influenciador digital?
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Quanto ganha um influenciador digital
Os influenciadores menores, considerados micro e mezzo (entre 10 mil e 500 mil seguidores), são os mais frequentemente contratados pelas marcas, revela a pesquisa. O principal motivo é que os influencers gigantes possuem um custo maior, além de pedir valores vincilados à taxa de engajamento. A jornada do creator pode ser complicada de visualizar retorno financeiro por meio de conteúdo de marcas.
Marcela Vital explica que, no início, se sentia “tola” por falar com a tela do celular, já que as grandes influenciadoras estavam anos luz à sua frente. “Quando percebi que, mesmo ‘pequena’ eu era relevante, tinha um engajamento que respondia aos meus conteúdos, comprava, absorvia o que eu indicava, eu comecei a valorizar meu trabalho, e parcerias se tornaram cada vez mais recorrentes, até que já não havia mais espaço pra um trabalho que não fosse remunerado. E assim comecei a faturar pelos trabalhos que criava e não parei mais”. Mas a especialista em moda diz: “O digital hoje é uma das frentes de meu trabalho, mas não a única”.
A primeira publi de Angélica Herrmann foi logo após seu perfil viralizar, entre setembro e outubro de 2022. “O crescimento foi rápido demais, mas acredito que o retorno financeiro não deva ser visto como número de seguidores, mas a capacidade que a pessoa tem de engajar outras – mesmo com poucas pessoas o vendo. Se eu puder dar aqui uma dica para as pessoas com poucos seguidores: não deixem de criar um conteúdo bom”, comenta a engenheira e influencer de gastronomia.
Não há número exato de seguidores para começar a ganhar dinheiro com o marketing de influência. “Com a profissionalização do setor, as marcas passaram a entender o poder de nano influenciadores, ou seja, aqueles que possuem até 10 mil seguidores. Nichos específicos tendem a ter influenciadores com menos seguidores, e quando entram limitações (geográficas, por exemplo) esse número tende a diminuir ainda mais. Nem por isso esses criadores deixam de exercer um poder de influência, mesmo que em menor escala”, explica Rodrigo Azevedo, CEO da Influency.me.
Mercado e desafio do Marketing de Influência
De acordo com as agências de Marketing de Influência, 42% dos seus clientes buscam gerar visibilidade à marca. Já o objetivo de 39% das marcas é trazer conversão (vendas, downloads e cliques). Em terceiro lugar, o objetivo de 19% das marcas com o Marketing de Influência é fortalecer seu branding (posicionamento).
Com a expansão das redes sociais, a cada ano as empresas passam a investir mais nos influencers. O levantamento da Influency.me mostrou que em 2022, 28% das marcas afirmam terem investido entre R$ 10 mil e R$ 50 mil em Marketing de Influência. Em 2023, o objetivo de 67% das marcas é aumentar esse investimento anual.
O levantamento aponta que o maior problema para as marcas é encontrar o influenciador ideal. Em segundo lugar, obter métricas sobre as ações de influência. De acordo com Rodrigo Azevedo, CEO e fundador da Influency.me, o desafio para as empresas que adotam o marketing de influência é operacional, como: encontrar perfis adequados com a campanha, negociar de forma justa e medir resultados.
“Outro ponto mais característico do mercado brasileiro é que 99% das empresas existentes são PMEs (segundo o Sebrae), as quais, por muitas vezes, acabam tendo uma visão de que só as maiores companhias podem investir no marketing de influência. Se fosse esse o caso, teríamos pouquíssimos cases de sucesso com essa estratégia”, relata o CEO.
Profissionalização do setor
À medida que Angélica Herrmann e Marcela Vital começaram a crescer, elas sentiram a necessidade de uma profissionalização, principalmente no setor de contratação e produção de conteúdo. “Depois que meu perfil cresceu, tive o prazer de conhecer uma profissional que se ofereceu para me auxiliar no contato com marcas e empresas, ela faz o papel de assessora. Me ajuda muito nessa questão, economiza um grande trabalho, onde nós duas ganhamos pelos contratos que ela fechar. Com certeza o papel de assessoria é de extrema importância para um influencer”, conta Angélica Herrmann.
O media kit é uma das ferramentas que contribui para as marcas selecionarem os influenciadores contratados. Segundo o levantamento, 63% dos entrevistados afirmam terem um media kit. Os profissionais que possuem media kit afirmaram atualizar suas informações a cada 15 ou 30 dias. “As oscilações de alcance e engajamento, principalmente no Instagram, podem ocorrer em períodos menores que esse. Então, vale lembrar que as marcas têm a possibilidade de pedir recortes mais recentes aos influenciadores”, complementa o CEO da Influency.me.
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