Com a evolução tecnológica avançando a uma velocidade nunca antes vista em qualquer movimento comercial e industrial na história da humanidade, tendemos a supervalorizar o futuro, ou as promessas que ele nos oferta. Há uma dificuldade inclusive de se fazer previsões gradativas.
Ao conhecerem meu trabalho, muitos profissionais, alguns já estabelecidos no mercado de trabalho e outros jovens recém-formados, me procuram querendo tirar dúvidas sobre minha atuação. Escrevem mensagens repletas de questionamentos sobre o que é ser antropólogo do consumo, como consigo me diferenciar usando metodologia e teoria aplicável no entendimento do comportamento do consumidor, se eles podem se tornar antropólogos etc.
De fato, meu ofício gera muita curiosidade por ser percebido como uma profissão inovadora, talvez acreditem ser o futuro da pesquisa de mercado. Assim como eu, eles também são impulsionados pelo desafio do conhecimento e da curiosidade.
Diante de tantas solicitações, por vezes emocionadas e desesperadas (muitos se vêem infelizes com suas escolhas), procuro responder as mensagens e explico todo o processo de construção de um antropólogo no Brasil. Recorro a minha experiência e também de outros colegas para ilustrar os processos, as emoções e, sobretudo, as renúncias que a formação exige.
Estudar antropologia é bem diferente de ser antropólogo, um ofício que exige vocação desmedida. Antes de alçar voos na área, recorrendo inclusive a interdisciplinaridade, é preciso construir um alicerce consistente e para isso é preciso, inevitavelmente, de tempo.
Na antropologia, o acúmulo de repertório formado pelo trabalho de campo, técnicas de pesquisa adaptadas às diversas situações que só a experiência é capaz de proporcionar, além do conhecimento teórico é o nosso bem maior. E aí é que está a grande questão, diante do que revelo, 100% dos possíveis futuros colegas, simplesmente desistem.
A unanimidade me faz refletir acerca do espírito do tempo. Não acredito que tantas pessoas tenham falta de interesse, inabilidade ou buscam atalhos, mas sim expressam comportamentos pelos quais somos regidos: a pressa. A valorização da urgência, da escala a qualquer custo, das decisões imediatas é completamente oposta a artesania intelectual. Quem terá coragem para investir em tradição?
Em uma sociedade que valoriza o futuro, como “voltar no tempo” e resgatar o passado?
As respostas estão nos clássicos, tradição não é conservadorismo, são princípios e valores que garantem consistência para ir longe. Obrigatório em tempos atuais o investimento em raízes para romper com paradigmas e voar, portanto, não tenha medo e crie asas!