Diante da dificuldade das empresas de entender, prever e se antecipar ao comportamento do consumidor, a antropologia – ciência que estuda o homem – está cada vez mais em alta no mundo dos negócios. A especialista em consumo e antropóloga Hilaine Yaccoub é um bom exemplo desse novo perfil profissional.
Hilaine investiga tendências, conceitos, oportunidades e inovações para ajudar grandes corporações, como Smart Fit, O Boticário e Nestlé a decifrarem os códigos de comportamento dos consumidores. “Somos poucos atuando no mercado, mas o que fazemos ninguém mais faz”, diz ela.
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Abaixo a entrevista dela à Consumidor Moderno:
Consumidor Moderno – O que podemos esperar do profissional do futuro?
Hilaine Yaccoub – Eu acredito que em um cenário onde há muitas incertezas, há espaço para profissionais que se dediquem ao acompanhamento das mudanças enquanto elas estejam ocorrendo. Estruturas sólidas e hierarquizadas se veem hoje com o desafio de engajar novos colaboradores que possuem visão de mundo completamente diferente das antigas gerações que hoje estão no comando. Por isso, as startups ganham força e o conhecimento vem sendo um ativo relevante, senão fundamental dentro das empresas seja ela de qual tamanho for.
CM – Como as empresas e os novos profissionais podem aplicar isso?
HY – Saber e conhecer não é suficiente. É preciso trabalhar de forma interdisciplinar, acreditando no testar, no fazer, no errar e tentar de novo, para pequenos projetos isso funciona e o serviço ou produto ganha um novo desenho sem grandes prejuízos. No entanto, grandes companhias ainda possuem o dilema da aprovação e quando a estratégia é finalmente posta em prática, o jogo já mudou e o que era novo já se tornou obsoleto. Por isso, cargos com maior autonomia como consultores, UX designers, profissionais de inteligência acabam sendo favoráveis para este setor que vira a chave a todo momento. É preciso que estes novos olhares sejam e estejam voltados para o novo, para o inusitado, para aquilo que seria impensável mas pode ser sustentável.
CM – Isso justifica o fato de o antropólogo do consumo ser tão valorizado nos dias de hoje?
HY – Ao invés da estrutura pesada, grande e engessada dos institutos de pesquisa, os CEOs buscam uma parceria conjunta, uma entrega mais humanizada onde possam trocar informações, ideias, avaliar estratégias de forma conjunta e harmônica. Muito mais que uma prestação de serviços os executivos querem alguém que possa fazer a ligação entre o universo deles e o dos seus clientes, que possa trazer realidade, gente de verdade para legitimar sua tomada de decisão.
CM – Isso é um grande desafio para corporações mais tradicionais, não?
HY – Sim, mas o desafio é justamente provar que antropologia não é uma ciência aplicada em projetos de pesquisa de mercado apenas, há de se investir num esforço contínuo de entendimento sobre as relações que se estabelecem dentro das empresas, fora delas e no ponto de venda. Empresas são feitas por pessoas para pessoas e o entendimento cultural, seja da organização ou dos usos dos serviços ou produtos pelos consumidores, se faz cada vez mais presente e necessário, senão, novamente a chave vira, e novamente se perde para concorrência.
CM – Que cuidados o CEOs devem ter quando buscam um profissional de antropologia para auxiliar em suas decisões de negócios?
HY – O antropólogo age como um grande analista que vê o macro sem perder qualidade analítica devido seu embasamento teórico. Estamos lotados de modinha no campo dos negócios, é preciso cuidado na hora de testar pois nem sempre o que é novo trará o resultado esperado. Inovação é fazer o mesmo de uma forma mais ajustada. Esse alinhamento é o antropólogo que percebe e sugere. A antropologia ainda é vista como uma área acadêmica, voltada apenas para estudos, precisamos enxergar estes profissionais de uma forma diferente, somos poucos atuando no mercado, mas o que fazemos ninguém mais faz.
CM – Que outra profissão você apontaria para o futuro?
HY – A de catalisador de inovação. Este profissional pode ter formação em marketing, comunicação ou atuação em design de processos ou serviços. Ele irá trabalhar em conjunto com antropólogos no campo prático. Se o antropólogo atua em conhecer o cliente, o catalisador de inovação atua em fazer. São fazedores.
CM – Já podemos ver esse novo profissional em atuação?
HY – Este movimento tem sido comum em alguns setores isolados. Ainda são vistos como projetos, mas já é um começo para mudança na forma de pensar dinâmicas de trabalho. Acredito que conhecimento gera mudança, e quando mudamos, a empresa muda, o cliente percebe, e então, restabelecemos conexões muito mais fortes e verdadeiras.
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