O tema da saúde mental já vinha ganhando mais destaque entre as pessoas, mas as mudanças causadas pela pandemia de Covid-19 evidenciaram ainda mais a questão. Isso porque momentos de mudança e adaptação já são, naturalmente, mais estressantes e, somados à situação emergencial sanitária, o cuidado com o bem-estar se tonou ainda mais importante.
Mas, apesar de uma grande preocupação com o tema, muitas pessoas foram afetadas – e os efeitos estão sendo ainda mais sentidos agora com a piora da pandemia no Brasil.
Uma pesquisa feita pela USP, por exemplo, mostrou que o País lidera uma lista de 11 nacionalidades de pessoas que mais sofrem com depressão e ansiedade. Entender os principais pontos que causam isso é uma forma de cuidar melhor da mente.
Os principais impactos
Em 2020, inúmeras mudanças foram necessárias, tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Depois de um ano de pandemia, os efeitos da situação de calamidade se tornam ainda mais claros do que no início.
Entre os principais pontos que impactam na saúde mental, é possível citar:
- Aumento da sensação de insegurança, com a vida pessoal e profissional;
- Aumento da preocupação com a saúde física;
- Aumento de ansiedade e depressão;
- Diminuição dos tempos de ócio e lazer;
- Sensação de perda de tempo;
- Problemas com concentração e foco.
Depois de tanto tempo em uma nova realidade, as pessoas estão cada vez mais cansadas. É o que avalia a psicóloga clínica que utiliza cognitivo comportamental, Adriana Severine. “A sensação de insegurança aumenta ansiedade e a tristeza, podendo levar a crises de pânico, transtorno ansiosos, depressão. Com a segunda onda da doença, isso fica ainda mais forte, prejudicando ainda mais a saúde mental”, diz.
O medo e a falta de controle sobre o trabalho, relações sociais, família e a própria saúde física, tornaram as preocupações ainda maiores do que já eram, aumentando também o número de casos de pessoas com ansiedade e depressão no mundo todo.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), tanto os transtornos ansiosos quanto os depressivos se tornaram mais comuns durante a pandemia aqui no Brasil. E esse número tende a aumentar com o tempo, mesmo depois do fim da pandemia.
Outro ponto importante destacado pela profissional é o isolamento social, medida necessária para conter a transmissão do coronavírus, mas que torna o momento ainda mais angustiante.
“O ser humano não é um ser vivo para ficar isolado. Somos seres sociáveis, precisamos dessa troca entre as pessoas. Sem isso, as pessoas acabam se sentindo muito sozinhas e focando em todos os detalhes da própria vida, o que gera muita ansiedade”, explica Severine.
8 dicas para cuidar da saúde mental na pandemia
De acordo com a psicóloga clínica, é preciso buscar o bem-estar diariamente, com atividades diárias que melhorem a saúde mental como um todo. Em meio à rotina e preocupações, nem sempre isso é fácil, mas algumas dicas práticas podem ajudar.
Veja o que a psicóloga indica para passar por esse momento da melhor forma possível.
1. Ter lista diária do que precisa ser feito
Quando não sabemos exatamente o que fazer, o cérebro faz os exercícios de listar as tarefas que se deve lembrar a todo o momento. Listar o que precisa ser feito no dia é uma forma de “limpar” a mente e descansar o cérebro, o que diminui a sensação de angústia e ansiedade.
Por isso, todos os dias, liste o que precisa ser feito, seja na vida pessoal ou profissional, e tente seguir o que foi proposto. Ao final do dia, a sensação de dever cumprido traz bem-estar e motivação mesmo em tempos difíceis.
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2. Estabelecer horários de começar e terminar de trabalhar
Para as pessoas que estão trabalhando em regime home office, Adriana Severine indica sempre marcar o horário certo de começar e terminar o expediente, como se estivesse, de fato, saindo de casa. Isso porque, durante a pandemia, muitas pessoas acabam se cobrando uma produtividade maior na vida profissional.
Segundo a psicóloga, é preciso deixar claro para o cérebro e para o corpo quando o trabalho acaba e a vida pessoal começa, já que os dois se tornaram praticamente uma coisa só durante o isolamento.
3. Ter uma rotina mais motivadora
Acordar, tomar café da manhã, trocar de roupa… seguir uma rotina que ajude a mente a entender processos é essencial no tempo dentro de casa.
De acordo com a psicóloga, ter pequenas tarefas para realizar em sequência ajuda o cérebro a entender que logo a pessoa começará a trabalhar, sendo um gatilho motivador para o indivíduo.
Entretanto, a profissional também afirma que não é preciso ser tão regrado neste momento. “Busque mudar algumas coisas da rotina, não seja tão regrado quanto a horários e atividades. Acorde um pouco mais tarde, tome um café da manhã diferente. Isso diminui a sensação de que todos os dias são iguais”, diz.
4. Adicionar momentos de lazer na rotina
“Antes, estávamos sempre procurando fazer coisas produtivas, aprender uma nova língua, estar bem informado. Agora é o momento de adicionar tarefas e atividades que a pessoa gosta, simplesmente. Não precisa ser algo produtivo, que ensine algo, mas uma atividade que dê prazer, que seja diferente do que já faz”, indica a psicóloga.
Segundo ela, é preciso que todos tenham um tempo diariamente para fazer algo que gostam, tanto para “descansar” o cérebro quanto para servir como um refúgio dos momentos de angústia.
5. Fazer planos de curto prazo
Planejar o futuro pode dar uma direção para a vida e objetivos das pessoas, mas segundo a psicóloga, não é o momento de ter planos de longo prazo.
“Quando a pandemia começou, achávamos que seria algo que duraria meses. Depois de um ano nessa situação, ficamos angustiados, porque fizemos planos que não se concretizaram. Com a segunda onda e toda a insegurança, é necessário pensar em atividades de curto prazo e, claro, viver mais o presente”, indica a psicóloga.
6. Evite se informar demais
“Escolha um horário para se manter informado, pois é essencial, mas não busque informações sobre a pandemia o tempo todo. As notícias não são boas e se nutrir desse conteúdo o tempo todo gera muito mais angústia e ansiedade”, diz Adriana Severine.
Da mesma forma, a psicóloga também indica utilizar menos as redes sociais para não ser bombardeado o tempo todo de informações estressantes.
7. Cuidar diretamente da saúde física
Colocar um toque de bem-estar nas tarefas diárias, como sugerido pela psicóloga, é essencial, mas cuidar diretamente da saúde física também é importante.
Para isso, é necessário um conjunto de ações, como se alimentar corretamente, praticar exercícios físicos, ter tempo de sono adequado, etc. Tudo isso contribui para a saúde física, mas também colabora com o bem-estar mental.
8. Pedir ajuda se sentir necessidade
Isso é imprescindível, ainda mais durante a pandemia. Caso perceba uma piora da saúde mental e do bem-estar, procure ajuda qualificada com psicólogos e psiquiatras.
Ter um apoio profissional nesses momentos pode ser a melhor saída para passar por esse momento tão estressante quanto à pandemia com saúde mental e bem-estar.
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