Muito se fala sobre depressão¹, porém pouco se conhece a respeito deste mal que assola tantos indivíduos no Brasil e no mundo. Segunda a Organização Mundial de Saúde (OMS), temos hoje no Brasil, 5,8% da população sofrendo com a depressão. Contudo, esse número é de 4,4% em relação ao mundo².
Existem muitas informações disponíveis, principalmente hoje com o advento da internet, porém quando uma família começa a conviver com esta doença percebe-se o quanto existe de estigmatização e desinformação. A maioria das pessoas entende como depressivo aquele individuo acamado e incapacitado de desenvolver as tarefas e funções intrínsecas a vida adulto. Neste ponto há um grande erro de entendimento. Nem sempre o indivíduo deprimido chega a um estado de profunda prostração.
Existem estes casos em que a maioria consegue desenvolver suas funções, o que não quer dizer que seja algo fácil. Geralmente a pessoa se encontra em profundo sofrimento e com uma dificuldade gigantesca para conseguir ir trabalhar, participar de eventos e até se levantar da cama, mas por conta das suas responsabilidades, o faz, mesmo diante de tanta dor. Essa situação, causa uma grande confusão na cabeça das pessoas que convivem com uma pessoa deprimida, por isso é de extrema importância o conhecimento a respeito do quadro depressivo e nesse ponto o papel da família se torna essencial.
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Ouço muitas pessoas falando a respeito de que depressão é frescura, que a pessoa precisa sair dessa situação e não se entregar ao desanimo e ao pessimismo. Isso agrava ainda mais o quadro depressivo, pois há nessas frases uma carga de incompreensão que agrava ainda mais o quadro da pessoa que já sofre com a doença. O que a maioria das pessoas não entende é que a pessoa simplesmente não consegue ser otimista, animada e cheia de planos, pois o que a depressão faz é justamente tirar a vontade e a graça de viver. Ouvi uma vez uma frase que ilustra bem este processo: “A depressão é como uma gripe forte, eu não consigo me sentir bem somente porque quero!”.
Neurologicamente, a depressão altera quimicamente o cérebro. Dois neurotransmissores, dopamina e serotonina, que estão diretamente envolvidos com o prazer e felicidade respectivamente, estão com suas concentrações bem baixas. Além disso, um hormônio relacionado ao estresse crônico, como o cortisol, encontra-se com suas concentrações aumentadas, acarretando enfraquecimento do sistema imunológico e alterações nos processos de formação de novas memórias. Dessa forma, observamos que pessoas acometidas por depressão não sentem prazer em nada e nem felicidade em nenhuma situação, além de ter uma saúde debilitada e dificuldades de lidar com lembranças e memórias do dia a dia.
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Assim, a pessoa com depressão não quer chamar a atenção ou está somente com “frescura”. Ela simplesmente não consegue sentir ou fazer diferente. Está totalmente envolvida em uma nevoa que faz com que ela não enxergue perspectiva na vida, ou seja, está adoecida e muitas vezes precisa buscar forças onde não há e cuidar de si. O que geralmente não é nada fácil.
Alguns fatores da vida moderna ainda corroboram ainda mais para potencializar este estado. As redes sociais são um bom exemplo, ou seja, as postagens com fotos de viagens, passeios e muita diversão, criam uma falsa sensação de que todos possuem uma vida muito melhor, dando uma falsa perspectiva para quem se encontra deprimido. Isso acaba contaminando a pessoa, que faz comparações, e não compreende porque também não tem uma vida tão feliz e completa, como as postagens que visualiza.
Por isso, é tão importante que a pessoa com depressão tenha a compreensão da família, apoio psicológico e em muitos casos acompanhamento médico para administração de medicamentos que ajudam a retomar a química cerebral que se altera com a depressão. Ou seja, é necessário uma multiplicidade de cuidados e ações para que a pessoa possa retomar a vida mais saudável e feliz.
*Rosana Gonçalves, atua como psicóloga, psicóloga clínica e life coach (Analista Comportamental, Leader Coach, Personal e Self Coaching); Alexandre César Santos de Rezende, é biólogo, mestre e doutor em Morfofisiologia do Sistema Nervoso, professor de diversas instituições – entre elas a PUC-Campinas e a Unicamp. É também coordenador nacional da Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior pelo Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE) e responsável pelo curso de extensão Mente, Cérebro e Envelhecimento e Neurociência e Qualidade de Vida junto a Universidade da Terceira Idade da PUC-Campinas.
¹Este artigo marca o início de uma série de publicações relacionadas ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio.