Quem cresceu no Brasil dos anos 1980 e 1990 provavelmente ouviu falar do polêmico ensaio de fotos de Claudia Ohana para a revista Playboy – e, se rolou esse papo, é quase certeza que o assunto envolveu os pelos da “pepeca” dela e o fato de a atriz, musa de novelas na época, dizer “não” à depilação.. Embora gerações mais novas talvez não conheçam toda essa questão, agora vão ouvir falar da “ppk da Claudia”, mas por outro motivo: a “peculiar” propaganda da Gillette Vênus.
Em maio de 2023, a Gillette tomou um passo ousado para a Vênus, linha de lâminas depilatórias femininas. PPK da Cláudia (lê-se pepeca, mesmo), a nova mascote, foi apresentada no Instagram com o objetivo de ensinar passos de cuidado íntimo e genital, principalmente relacionados à depilação. E, aparentemente, a marca pensou: o que melhor para representar isso tudo do que, literalmente, uma vulva?
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A mascote da Gillette Vênus é uma vulva – palavra que corresponde à “versão oficial” de alternativas como pepeca, perereca, periquita e tantas outras. A PPK da Claudia é um boneco feito no estilo stop-motion, e apresenta um traço sorridente, amigável e “lisinho”. O mote da personagem é uma depilação feita à lâmina com um ótimo acabamento e sem bolinhas.
Mostrar uma representação tão específica de uma genitália é uma polêmica em si. Seja por pudor, religião, costumes ou cultura, muita gente não gostou de ver a vulva exposta. Mas esse choque não é novidade: há 26 anos, o Ministério da Saúde batizou um pênis de “Bráulio”, para piada de vários e indignação de muitos. Quase três décadas depois, é “Claudia” que causa desprezo? Não exatamente, porque é uma repetição de crítica.
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Polêmica de infantilização
Uma das maiores reclamações sobre a PPK da Claudia é sobre a sexualização. A personagem e a Gillette Vênus são claramente voltadas para o público adulto: falam de depilação, prazer sexual e relacionamentos. Além da lâmina, os produtos cosméticos são para tratamentos adultos, como esfoliação íntima.
Mesmo assim, a escolha da marca foi usar o termo “pepeca”, considerado uma maneira infantilizada de chamar a vulva. Outro fator importante é o design da mascote lembrar um personagem de animação infantil.
A insatisfação com a mascote fica clara quando se navega nas redes sociais da Gillette Vênus e da PPK da Claudia. Instagram e Twitter, ferramentas indispensáveis para divulgação imagética voltada ao público mais jovem e grandes alvos de “mascotes” de marcas como Lu do Magalu, foram inundados com críticas.
Algumas pessoas reclamam do fato da aparência ser sexual, mas a maioria reclama da nomenclatura e aparência. “Vou escrever o que eu acho, sim:”, comentou uma mulher. “A ausência de pelos remete a uma genitália de criança. São tantas camadas de mau gosto e falta de noção nisso, que sinceramente nem sei o que é pior. Medonho, bizarro.”
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Há quem discorde, também. Existem comentários elogiando a naturalidade em mostrar uma vulva, e comentando que é importante ter essa exposição visual justamente para não haver tabus – e ainda há comparação da exposição clara da aparência do pênis.
PPK da Claudia deu certo?
Mas a verdade é: a campanha funciona. O perfil da “PPK da Claudia” no Instagram conseguiu 40 mil seguidores em um mês – metade dos seguidores do perfil da Gillette Vênus, ativo há anos. Em comparação, o perfil da Gillette Vênus no Twitter, lançado há mais de uma década, tem pouco mais de 8 mil.
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Além disso, o assunto ficou entre os mais populares do Twitter, virou matéria em um número absurdo de canais de notícias e gerou um aumento de mais de 200% na pesquisa de “Gillette Vênus” no Google (“propaganda” e “personagem” são as principais palavras relacionadas).
Se o objetivo da Gillette era tornar a Vênus e a PPK da Claudia conhecidas… Alcançou-se.
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